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"PC Master Race": Steam e bons preços atraem jogadores para o computador

Victor Ferreira

do Gamehall

27/01/2015 10h01

Cerca de dez anos atrás muita gente declarava o PC como plataforma de games em extinção: Embora “World of Warcraft” começasse a se tornar um fenômeno, várias produtoras mostravam-se cada vez menos interessadas em criar jogos para computador. Os consoles, por outro lado, ganhavam funcionalidades até então exclusivas do PC, como modo online, patches etc.

Hoje em dia, porém, o computador virou o jogo: o Steam revolucionou o jeito de comprar e consumir games, e o acervo de indies, MMOs e MOBAs, de “LoL” a “DotA 2”, é imbatível no PC, que não só continua firme e forte como vem ganhando mais adeptos. Além disso, no Brasil, grandes lançamentos como “GTA V” saem significativamente mais baratos do que nos consoles, e se o computador der conta e a versão for bem feita, os gráficos ficam significativamente mais impressionantes.

Ainda há obstáculos que podem assustar ou desinteressar possíveis jogadores, como a clássica barreira do hardware, as possibilidades mais complexas de configuração de jogos e a qualidade de certos ports dos consoles. Mas, para os fãs mais hardcore - os tais membros da “PC Master Race”, como propaga o meme - os benefícios mais do que compensam estes problemas.

  • O tempo voa: Lançado em 2003, o Steam foi inicialmente detestado por jogadores

Revolução à vapor

Quando surgiu, em 2003, o Steam não era um serviço particularmente popular. Criado para implementar patches e outros tipos de proteção a jogos como “Counter-Strike”, a plataforma era extremamente criticada por sua instabilidade. Forçar jogadores a instalá-lo para ter acesso a “Half-Life 2”, na época de seu lançamento, também não melhorou essa perspectiva.

Eventualmente, porém, o Steam evoluiu, transformando-se em um sistema convidativo a usuários e desenvolvedores de pequena e grande escala. Atualmente, são mais de 100 milhões de usuários ativos, e no início do ano bateu o recorde de 8,46 milhões de usuários simultâneos graças ao período de vendas do fim de 2014 e início de 2015.

Como diz o entusiasta Romario Moscon, havia outras alternativas antes da chegada do Steam, mas eram significativamente mais limitadas. “O que mais tinha era revistas como PC Gamer e Fullgames vendendo jogos por R$ 10, R$ 15. Eu mesmo quando nem tinha internet comprava umas quatro revistas dessas todo mês”.

Tais ofertas, porém, não chegam perto do catálogo diverso que o Steam e serviços similares têm a oferecer, não só em quantidade mas em variedade. Embora a Valve não seja a única responsável pela súbita popularidade da cena indie - games como “Super Meat Boy”, “Limbo” e “Braid” tiveram sucesso inicial no Xbox Live Arcade -, criou um ambiente ideal para pequenos desenvolvedores terem sucesso e serem reconhecidos pelo público, entre eles Romario. “Se não fosse o Steam acredito que nunca compraria ou jogaria tais jogos”.

O Steam inclui ainda uma série de ferramentas, incluindo o Steam Workshop, voltado para mods, e o recém-lançado Steam Broadcast, para transmissões por streaming.

A popularidade do serviço também gerou lojas paralelas como o GreenManGaming e o brasileiro Nuuvem, que vendem jogos compatíveis com o Steam por promoções às vezes ainda melhores que as da própria plataforma da Valve.

O Brasil, aliás, é um dos mercados mais visados por consumidores de outros países, já que os games para PC são ainda mais baratos por aqui -, tanto que a empresa se viu forçada a ativar travas de região tanto para cá quanto para a Rússia, após a queda do valor do real e do rublo.

No esteio do Steam surgiram outros serviços similares, como o Origin, que reúne os jogos da Electronic Arts, após um desentendimento da empresa com a Valve. Já o GOG, da polonesa CD Projekt, consagrou-se como o local ideal para consumir clássicos, livres de qualquer fonte de proteção de cópia, os chamados DRM.

Uma das principais polêmicas em torno do Steam, aliás, envolve os DRMs: você é realmente dono do game ou apenas pagou uma licença à produtora, e caso (atualmente improvável) a plataforma deixe de funcionar, terá de comprar esta licença de novo? Antigamente, usuários banidos da plataforma perdiam acesso a seus jogos – política felizmente abandonada pela Valve desde então.

Este não é o único fator questionável do Steam: o serviço de atendimento ao cliente é infame por sua falta de qualidade, em que pequenos problemas como ativação de um jogo demoram semanas para serem resolvidos; o mercado interno tem uma série de aproveitadores, assediam e enganam jogadores com itens raros até serem vendidos por uma fração do valor real; e, como consequência negativa das promoções, muitos usuários tem literalmente centenas de jogos que não irão jogar, por impulso compulsivo a comprar algo mais barato..

Ainda assim, é inegável que a influência do Steam tenha mudado significativamente o panorama dos games no PC.

  • O modo Big Picture, do Steam, foi criado para facilitar a navegação em telas de TV

Barreira do hardware

Mesmo com os preços de jogos mais convidativos, um dos principais fatores que impedem mais pessoas de jogar games no PC é a complexidade e preço do hardware em relação ao que é oferecido em consoles.

Em plataformas como o PlayStation e o Xbox, quase todos os elementos já vêm prontos para uso, e qualquer mudança que o jogador faça em geral não envolve mexer nos componentes da máquina. PCs, por outro lado, são completamente modulares, o que torna necessária uma pesquisa e conhecimento maior do que é mais compatível ou tem melhor performance com outro hardware.

A internet, porém, facilitou a troca de informações, algo essencial para esclarecer várias dúvidas: “Hoje é mais fácil obter informações com outras pessoas sobre configurações”, diz Jair Soares da Cunha, que usa o PC como principal plataforma há dez anos. “Muita gente fala que pra montar PC bom tem que gastar R$ 5 mil em uma placa de vídeo, mas esse valor é só para lançamentos de ponta. Após algum tempo os valores baixam consideravelmente, e é possível encontrar soluções semelhantes por preços bem mais acessíveis”.

  • Jair Soares da Cunha tem se dedicado ao PC como plataforma de jogos desde 2005

Mesmo assim, seja comprando ou montando um PC, o preço do hardware ainda é significativo. Em sites especializados como a KaBuM! ou a Gamerhouse, o valor dos computadores completos varia de R$ 3.000 até mais de R$ 7.000.

Ainda que a internet tenha facilitado aprender sobre montagem e troca de peças dos computadores - incluindo sites específicos como o GPU Boss até comunidades voltadas para o tema -, muita gente simplesmente não quer lidar com isso.

Tanto a Valve quanto as fabricantes de computadores têm noção desse problema, a ponto de estarem trabalhando em aparelhos que possam suprir as necessidades de ambos os públicos: As chamadas Steam Machines.

Há anos já é possível conectar um computador a uma tela de TV e, com o modo Big Picture, navegar pelo Steam com a ajuda de um controle. Jair, por exemplo, diz que seu PC está ligado a seu televisor de 42 polegadas – chegando a comentar que “cai então por terra [a ideia de] que ‘é mais confortável jogar no console’”.

O ideal é que as Steam Machines tornem este processo ainda mais simples, utilizando a estética dos consoles para criar um computador especial para jogos, mas com componentes modulares, que podem ser trocados por hardware superior caso o usuário ache necessário.

Para entusiastas do PC, porém, estas plataformas não parecem muito vantajosas. “Atualmente o PC comum pode ser praticamente um ‘console’ com o Big Picture. As Steam Machines facilitarão apenas na escolha da configuração dos componentes conforme o bolso e desempenho desejado e, o impacto que um PC causaria ao lado da TV na sala”, opina Jair.

“Eu, particularmente, não adquiriria uma pelo fato de usar o PC para outras funções, além dos jogos. Acho que seria um meio termo entre PC e console”, conclui.

  • Mesmo não tendo títulos como "Uncharted", o PC é casa de games populares como "LoL"

Questão de exclusividade

É improvável que jogos exclusivos para consoles da Sony, como “Uncharted” e “The Last of Us”, deem as caras no PC. Já a Microsoft, mesmo mostrando interesse entre uma possível compatibilidade entre computadores e o Xbox One, deve manter algumas de suas maiores propriedades apenas para o console.

Conversões problemáticas também são uma fonte de preocupação. Embora não tão comuns quanto algum tempo atrás, ainda é possível ver jogos transferidos de forma pobre ao PC, incluindo exemplos recentes como “Dead Rising 3” e “Watch Dogs” - e, embora muito aguardado, “GTA V” pode cair neste mesmo patamar, a julgar pelo histórico pouco favorável da Rockstar em tal quesito.

Ainda assim, não é como se o PC não tivesse exclusivos de peso, a sua própria maneira: Jogos como “League of Legends”, “Dota 2” e “EVE Online” podem não ter o mesmo aparato de marketing da Sony, Microsoft ou Nintendo, mas são alguns dos títulos mais relevantes e populares da atualidade, e só podem ser encontrados no computador.

Além disso, por ser uma plataforma aberta a todos os usuários, é significativamente mais simples e barato criar um projeto no PC, já que não há necessidade de utilizar kits de desenvolvimento, como nos consoles.

Esta liberdade dá chance a criadores elaborar e desenvolver não só games, como diferentes periféricos dentro da plataforma. É o caso do Oculus Rift, projeto em que Palmer Luckey trabalhou independentemente até chamar a atenção do público por Kickstarter e eventual aquisição pelo Facebook.

Os prós e contras de jogar no PC

PRÓSCONTRAS
+ Steam: O serviço da Valve tem uma biblioteca inigualável de títulos e promoções frequentes;- Atrasos: Ainda é comum que jogos multiplataforma, como “GTA V”, cheguem bem depois ao PC;
+ Games baratos: Títulos como “GTA V” custam bem menos no PC se comparado aos consoles;- Complexidade: Mesmo mais amigável que outrora, lidar com configurações e trocas de hardware ainda afugenta parte do público;
+ Mouse: O jeito de jogar games como “League of Legends”, “World of Warcraft” e “StarCraft II” funciona muito melhor num computador;- Preço: Pelo alto custo das peças, montar ou atualizar um PC pode ser uma grande despesa;
+ Gráficos: Com a configuração certa, o visual dos jogos torna-se inigualável;- Sem exclusivos dos consoles: Dificilmente você vai jogar “The Last of Us” ou “Uncharted” no PC;
+ Dinamismo: Upgrades e configurações garantem vida longa ao hardware;- Ports: Certos jogos ainda são mau convertidos dos consoles para o PC, como “Watch Dogs”.
+ Plataforma aberta: Indies e pequenas produtoras conseguem lançar jogos com muita facilidade.