Topo

Decadência: como Sonic foi de mascote favorito dos anos 90 a coadjuvante

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

18/02/2015 14h13

Sonic, um dos maiores ícones do que era jovem e legal nos anos 1990, hoje acelera em alta velocidade rumo à irrelevância.

Maltratado pela Sega, o mascote passou de estrela de alguns dos jogos mais cobiçados da indústria a símbolo do que acontece com franquias que são administradas com pouco caso. Nunca Sonic vendeu tão pouco e teve jogos tão ruins.

Fracasso de crítica, a mais recente aventura do azulão quebrou um recorde negativo de vendas para a série. Mas sua existência é apenas a ponta do iceberg. Apesar de lançar pelo menos dois novos "Sonic" por ano, a Sega passou a última década tentando de tudo, sem conseguir encontrar uma maneira de fazer um jogo à altura das primeiras versões da franquia.

E assim, apesar de chegar até a recriar Sonic e companhia com novos designs e investir em um desenho animado, a produtora observa a curva de vendas cair a cada nova estreia.

  • Ao invés de novas ideias, a Sega criou novos amigos para o Sonic

O que deu errado?

Fazendo contraponto à Nintendo e "Super Mario", "Sonic the Hedgehog" deixou donos do Mega Drive de queixo caído em 1991. Muito mais belo que todos os outros jogos de plataforma da época, o game revolucionou a indústria ao acelerar o ritmo da ação de maneira frenética.

Aproximadamente 15 milhões de cópias do game foram vendidas.

Com o mesmo foco na velocidade, as primeiras sequências reafirmaram o sucesso da marca. Até mesmo quem não era jogador conhecia o herói azul.

Mas veio o 3D, e com ele a hora de ter novas ideias. E foi então que nasceu o problema. Enquanto a Nintendo ditava tendência com "Super Mario 64", a Sega se perdia entre projetos cancelados, como "Sonic X-treme", e hardwares fracassados, como o 32X e o Saturn.

Ao invés de inventar novos sistemas, a produtora tentou converter diretamente o foco na velocidade para a terceira dimensão. O resultado? Jogos de qualidade duvidosa, com câmeras problemáticas e enxurradas de bugs, que remetiam cada vez menos aos dias de ouro da série.

  • A Sega não conseguiu fazer "Sonic X-treme" funcionar em 3D, e cancelou o projeto

Ignorando o problema

Abandonada pelas mentes criativas que inventaram "Sonic" - Naoto Oshima, Yuji Naka e Hirokazu Yasuhara -, a Sega descaracterizou a série alternando entre jogos terríveis e medianos com mecânicas enroladas que nada acrescentavam.

VENDAS RECENTES DA SÉRIE

Sonic Unleashed2,45 milhões
Sonic Colors2,18 milhões
Sonic Generations1,63 milhão
Sonic Lost World710 mil
Sonic Boom490 mil
  • Números de venda reportados pela Sega em seus relatórios financeiros.

Tentando maquiar o real problema da série, o Sonic Team passou dos tiroteios de "Shadow the Hedgehog" às transformações em lobisomem de "Sonic Unleashed". Enquanto esperavam um estágio do "Sonic the Hedgehog" de 2006 carregar, eles perceberam que nem tudo o que funciona bem em 2D, funciona também em 3D.

Vieram então "Sonic Generations" e "Sonic the Hedgehog 4", entre outros, que retomaram o 2D para atrair fãs nostálgicos com homenagens à época do Mega Drive. Apesar dos jogos não serem unanimidade, eles retomaram parte da boa fé que a comunidade de fãs tinha perdido ao longo dos anos.

Desorientada, a Sega viu o relativo sucesso de "Generations" e por motivos misteriosos resolveu mudar mais uma vez. O mediano "Lost World" e o assombroso "Boom" vieram na sequência, provando que não há um planejamento de longo prazo para o mascote.

  • Ao invés de expandir as ideias de "Generations", a Sega deu as costas para elas

Coadjuvante

O fato dos maiores sucessos de vendas recentes de Sonic serem os jogos que o têm como coadjuvante diz muito a respeito da saúde da franquia. É o caso da linha "Mario & Sonic at the Olympic Games", que já vendeu mais de 20 milhões de unidades, e de "Sonic & Sega All-Stars Racing".

A confusão da Sega no tratamento de sua maior série é tão grande que cai sobre os ombros dos fãs a responsabilidade de manter as engrenagens rodando.

"Taxman" e "Stealth" são exemplos. Sozinhos, eles recriaram os dois primeiros jogos "Sonic" com conteúdo adicional. O trabalho deles foi melhor que o do próprio Sonic Team, e a Sega substituiu suas versões mobile dos games pelas versões caseiras dos fãs.

Recentemente, os dois revelaram que estão trabalhando para refazer "Sonic 3 & Knuckles". Por conta própria, já a Sega ainda não confirmou afiliação com o projeto.

Agora, somando a reorganização de seus estúdios com maior foco na produção de jogos grátis e o recente anúncio de "Sonic Runners", a Sega parece dar pistas de que o futuro de seu decadente mascote é nos celulares.