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'Curto', "The Order" reacende discussão sobre duração dos jogos

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

19/02/2015 11h02

Primeiro grande lançamento exclusivo para PlayStation 4 de 2015, "The Order: 1886" poderia chamar a atenção do público pelos gráficos excelentes que recriam uma Londres vitoriana cheia de detalhes, pelo bom enredo ou pelas divertidas sequências de ação. Poderia, se não fosse um game curto demais em uma época em que se espera cada vez mais do entretenimento.

"The Order" não é o primeiro caso de grande produção com poucas horas de duração (entre 6 e 10 horas, dependendo da dificuldade escolhida e da habilidade do jogador). Os medalhões "Call of Duty" tem duração similar desde o sucesso de "Modern Warfare" em 2007. Num exemplo extremo, o jogo de espionagem "Metal Gear Solid: Ground Zeroes" pode ser terminado em 15 minutos por um jogador experiente.

A diferença é que nesses jogos, a "campanha", como costuma ser chamada a história principal, é apenas a porta de entrada. Nos "Call of Duty" o jogo mesmo está nas modalidades multiplayer, que podem divertir os usuários por meses ou anos. Em "Ground Zeroes", a experiência girava em torno de repetir a aventura cumprindo objetivos paralelos, passando por tudo cada vez mais rápido. "Destiny" oferece uma campanha rasa, mas com elementos de repetição e recompensa em partidas cooperativas feitas para manter você voltando e voltando.

Já em "The Order: 1886", a campanha solo é tudo o que o jogo tem a oferecer. Isso hoje pode não ser o bastante, ainda mais para um jogo que custa R$ 180.

Isso faz dele um jogo ruim? Não necessariamente. "The Order" é um excelente jogo e 20 anos atrás, seria o que chamaríamos de "um aluguel perfeito" - mas já se foi o tempo das locadoras de games e é difícil recomendar um jogo que terá uma vida útil tão curta.

O jogo é bom. Mas a decisão de compra depende da sua percepção de valor: compensa gastar R$ 180 em um jogo que vai durar menos de 10 horas?

ASSISTA AO TRAILER DE "THE ORDER: 1886"

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E que experiência!

Na velha discussão sobre o que importa é o tamanho da varinha ou a magia que ela proporciona, "The Order" apostou todas as fichas na magia e ganhou. O jogo tem, sem dúvida, o visual mais caprichado e estiloso que já passou pelo PS4, uma história envolvente e personagens bem construídos, boas sequências de combate, tudo isso envolvido numa jogatina sem falhas técnicas para incomodar.

No game, você controla Grayson, um dos cavaleiros da sociedade inglesa conhecida como "A Ordem", um grupo que descende da lendária Távola Redonda. Seus integrantes são guerreiros que adotam os nomes dos cavaleiros do Rei Arthur (Grayson é Sir Galahad, seu melhor amigo é Percival e há também mulheres, como Lady Ygraine, que não deve nada aos companheiros bigodudos).

A Ordem luta contra rebeldes que atacam Londres e ao longo da aventura, Galahad vai lidar com monstros licantropos, investigar as ruas sombrias de Whitechapel (bairro pobre que ficou famoso pelos ataques do assassino Jack, o Estripador) e questionar sua lealdade à Ordem e ao governo britânico em cenas de filme interativo muito bem feitas. Tudo isso entre tiroteios de tirar o fôlego, uso de armas e engenhocas 'steampunk' que deixariam Júlio Verne com inveja, lutas corporais das mais violentas e sequências furtivas onde um passo em falso resulta na morte do cavaleiro.

Vale comentar, a narrativa demora um pouco para engrenar: o terço inicial do game precisa apresentar e construir este universo e as primeiras missões não são das mais desafiadoras, mas logo o enredo se desenvolve e ruma rápido para um clímax violento e envolvente. Jogadores habituados com o inglês podem curtir a aventura no idioma original (mudando o idioma do PS4) e com o sotaque carregado dos cavaleiros britânicos. Se não for o seu caso, você pode jogar com o game dublado em português, que, mesmo sem o sotaque característico dos personagens, cumpre bem a tarefa.

Mas fique avisado: você vai terminar "The Order" uma vez e se divertir muito. Se for um entusiasta, um jogador inveterado, vai voltar para encontrar todos os colecionáveis, desbloquear os troféus até conquistar a almejada platina (não é tão difícil e você pode selecionar os capítulos que vai visitar diretamente do menu principal). Senão, o jogo vai voltar rapidinho para a estante, de onde poderá sair para exibir os gráficos de ponta para algum amigo curioso.

Apesar dos problemas e críticas quanto à curta mas intensa experiência proporcionada por "The Order", os momentos finais do game constroem toda a ponte para uma inevitável continuação e deixam um gosto de "quero mais" - coisa que não se pode dizer de muitos dos principais games lançados nesse primeiro ano do PlayStation 4.

Confira a análise completa de "The Order: 1886" aqui.