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1983: documentário quer contar início da indústria de games no Brasil

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

04/03/2015 16h41

No distante ano de 1983, chegava ao Brasil uma nova forma de entretenimento: os videogames. Foi a época dos portáteis Game & Watch, do Telejogo e do Odyssey. Naquele ano, a Polyvox trouxe para o país o Atari 2600, dando início ao relacionamento dos brasileiros com os consoles de jogos - namoro que dura até hoje, algumas gerações de jogadores - e de videogames - depois.

Contar a história da chegada dos primeiros videogames ao Brasil é o objetivo de Marcus Garret, autor dos livros "1983: O Ano dos Videogames no Brasil" e "1984: A Febre dos Videogames Continua" - e que agora pode virar um documentário em vídeo.

"O livro '1983' trata da chegada oficial do videogame, enquanto nova forma de entretenimento, ao Brasil", contou Marcus Garret em entrevista ao UOL Jogos. "Ele é mais focado em informações de bastidores, curiosidades e histórias sobre como o videogame apareceu no país, sobre como foi a reação das pessoas e como foram as estratégias das empresas envolvidas, tais como a Polyvox, subsidiária da Gradiente, a Philips e a Sharp".

"Depois de recentemente assistir aos ótimos documentários 'From Bedrooms to Billions' ('Dos Colchões aos Bilhões', sem versão em português), sobre a indústria de games do Reino Unido, e 'Atari: Game Over', sobre a decorrada da Atari com foco nos cartuchos de 'E.T.' enterrados no aterro sanitário em Alamogordo, achei que já era hora de que tivéssemos um documentário nosso, que contasse em detalhes o nosso passado retrogamístico, que é rico e pitoresco", disse Garret.

Para levar o projeto adiante, o autor se associou à produtora ZeroQuatroMídia, que, segundo o diretor Artur Palma, nasceu do desejo de produzir um documentário como esse. "Eu e uns colegas de faculdade começamos isso ainda durante o TCC", disse Artur. "Infelizmente, a coisa não andou por falta de interesse de distribuidoras, e o custo elevado para postá-lo no YouTube sem um auxílio adicional".

VEJA TRECHO DE "1983" SOBRE O SPLICEVISION

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Financiamento coletivo

A ZeroQuatroMídia voltou a namorar o projeto quando as ferramentas de financiamento coletivo, como o Kickstarter, ficaram populares. "Então, quando o Marcus chegou com a ideia, achamos fantástico, até porque esse período inicial era uma grande deficiência do nosso documentário original".

VOCÊ NA TELA

  • Reprodução

    Duas das categorias (R$ 500 e R$ 1 mil) de contribuição de "1983" no Kickante incluem entre as recompensas a participação do doador no documentário.
    "A pessoa fará um vídeo, ainda que amador, e o enviará a nós. Se a pessoa morar em São Paulo (capital), iremos até ela e a filmaremos. O resultado será visto em algum momento no documentário. Surpresa!", explicou Garret.

A plataforma escolhida para arrecadar fundos para a produção de "1983" foi o Kickante. Lá, o documentário espera levantar R$ 20 mil em 30 dias. Até o momento da publicação desta reportagem, o projeto já recebeu cerca de R$ 6 mil e faltam 21 dias para o final da campanha.

Você pode contribuir doando de R$ 10 até R$ 1 mil - cada categoria de doação inclui algumas recompensas, como o DVD e o livro de "1983", por exemplo.

Para manter a independência do projeto, Garret vai evitar outras fontes de recursos, como a Lei Rouanet, por exemplo.

"Queremos deixar o projeto em caráter independente, isto é, sem interferências de terceiros. E, no fundo, eu nem quero pegar dinheiro do governo, nem posso na verdade, pois sou servidor público. Não queremos depender de ninguém".

O valor do projeto é considerado elevado pela ZeroQuatroMídia. Questionada por UOL Jogos, a produtora justificou os custos da produção: "Será preciso fazer viagens para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros estados", disse Palma. "Todo o material está sendo captado em 4K, o que faz com que tenha um custo maior de HDDs de backup por conta do tamanho monstruoso dos arquivos".

Produzir o documentário em resolução 4K não é apenas preciosismo cinematográfico. A qualidade maior dos arquivos garante a longevidade do material. "Poderíamos até exibir o documentário no cinema no futuro", disse Artur.

Os produtores reconhecem, porém, que arrecadar o dinheiro necessário para o documentário não será tarefa fácil.

"Creio que a maior dificuldade seja pura e simplesmente fazer com que as pessoas gastem dinheiro neste momento conturbado do país. A situação não está nada fácil", explicou Garret, que acrescentou: "Não seria, na verdade, uma boa hora para fazer nosso documentário, mas o caso é que as pessoas que entrevistaremos já estão com idade, algumas estão até doentes, afinal, já se passaram 30 anos. Não podemos esperar mais.O momento é este!".

  • Artur Palma/ZeroQuatroMídia

    Para o documentário, Garret entrevistou executivos como Kazuaki Ishizu, um dos responsáveis pelo SpliceVision no Brasil, a versão nacional do console ColecoVision

Próximas fases

Se o documentário "1983" se concretizar, Garret já sonha com projetos para o futuro. "Eu gostaria de produzir um documentário sobre a chegada da microinformática ao Brasil, sobre os primeiros microcomputadores domésticos (os TKs da Microdigital, os CPs da Prologica, os MSX, os Apple II etc.), assunto pelo qual também sou apaixonado".

Como bem nota a página de "1983" no Kickante, o documentário não tratará da história dos videogames no Brasil de uma forma generalizada e não vai abordar plataformas como NES, Master System, Mega Drive ou Super NES. "Estes tópicos são assuntos para outras produções".

Para saber mais sobre o "1983: O Ano dos Videogames no Brasil" e participar do projeto, visite a página do projeto no Kickante.