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Casal de brasileiros cria produtora em Londres e vende 2 milhões de jogos

Théo Azevedo

Do UOL, em San Francisco

06/03/2015 12h38

Realizar um transplante de órgão em um alienígena.

Guiar uma fatia de pão de forma em uma emocionante jornada para transformá-la em torrada.

Os jogos da Bossa Studios, que fica em Londres, na Inglaterra, não são nada convencionais. Mas fazem sucesso: há milhares de vídeos das "cirurgias" de "Surgeon Simulator" no Youtube, alguns com mais de 10 milhões de visualizações. O game, maior sucesso da produtora, já vendeu 2 milhões de cópias entre PC, PlayStation 4 e mobile.

Por trás do estúdio está um casal de brasileiros, Henrique Olifiers e Roberta Lucca, que junto com outros dois sócios fundaram a Bossa em 2011 com a ideia de aproveitar a onda dos jogos sociais, que na época despontavam no Facebook. "Na época achávamos que as redes sociais se tornariam uma referência para os games, mas a coisa não saiu bem assim", relembra Olifiers.

Mesmo assim, "Monstermind", título de estreia da Bossa, chegou ao Facebook em 2011 e, se não fez grande sucesso por lá, no ano seguinte rendeu à empresa o prêmio de melhor game online para navegadores pelo Bafta, uma espécie de Oscar britânico. Pouco tempo depois, a Shine TV, de Elisabeth Murdoch, adquiriu a Bossa por uma quantia não revelada.

Porém, até fundar a Bossa, Olifiers, que começou a desenvolver jogos em meados da década de 80, saiu do Rio de Janeiro e peregrinou por diferentes companhias de games, como Jagex e Playfish, na Inglaterra, país que sempre admirou na criação de jogos, pela criatividade e inovação. "Coloquei dinheiro do meu próprio bolso [na empresa]. Éramos, como se diz por aqui, 'bootstrapped', ou seja, empreendedores sem nenhum capital".

Game jams

Esse DNA da inovação acompanha até hoje a Bossa Studios, que possui um jeito muito peculiar de fomentar ideias: as game jams, eventos nos quais criadores de jogos se reúnem e, com um tema pré-definido, têm normalmente 48 horas ininterruptas para dar vida a um jogo.

O próprio "Surgeon Simulator", divisor de águas na trajetória, do estúdio, nasceu de uma Global Game Jam. O tema? Batidas do coração. "A maioria dos desenvolvedores estava criando jogos sobre o som do coração ou ligados ao drama, mas optamos por algo mais bem-humorado, com um transplante de coração", conta Olifiers.

"SURGEON SIMULATOR" CHEGARÁ AO PS4; VEJA TRAILER

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Ao final do evento, diversos participantes gargalhavam com as operações de "Surgeon Simulator", e os sócios da Bossa entenderam que tinham algo especial em mãos. No mês seguinte  o jogo foi lançado e, com a ajuda do Youtube, com os vídeos das cirurgias, arregimentou uma legião de fãs.

Desde então, todos os jogos da Bossa nasceram de game jams. Na verdade, as jams são tão importantes para a empresa que, uma vez por mês, todos os funcionários - hoje são 35, de doze nacionalidades diferentes - param o que estão fazendo e participam de uma promovida por eles mesmos no escritório: "Como temos uma estrutura pequena e ágil, é fácil explorar diversos conceitos. Se não funciona, descartamos a ideia. Se enxergamos potencial, é fácil deslocar pessoas para acelerar o desenvolvimento do jogo", explica.

  • Reprodução

    No inusitado simulador "I Am Bread", você controla uma fatia de pão na emocionante jornada para se tornar uma torrada!

O próximo jogo

Como não poderia deixar de ser, o próximo projeto da Bossa é, no mínimo, mirabolante. Em parceria com a Improbable Games, "Worlds Adrift", uma aventura online ambientada em um mundo aberto em que quase tudo, se não tudo, pode ser transformado pelo jogador.

"O game tem esses barcos gigantes que flutuam e podem ser construídos do zero", explica Olifiers. Cada componente desse barco é uma entidade distinta, então digamos que você atire nesse barco, uma dessas peças se solta e cai em outro jogador, matando-o. Bem, essa peça que caiu no chão não desaparece, fica lá pra sempre, até alguém pegar, por exemplo, e usar em seu próprio navio".

O jogo, que deve ganhar uma versão alfa para testes até junho, e o lançamento deve acontecer ainda em 2015. Mas não que a empresa esteja com pressa: "Quando você tem cinco pessoas trabalhando no jogo, e não 500, não há a mesma pressão". Por isso, a Bossa sequer sabe ainda dizer qual será o modelo de negócios por trás de "Worlds Adrift", mas já descartou o free to play e assinaturas.

BOSSA STUDIOS APRESENTA "WORLDS ADRIFT"; ASSISTA

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Além disso - e de outros projetos sobre os quais ainda não podem falar -, a empresa segue experimentando outras vertentes, como a realidade virtual, com uma versão de "Surgeon Simulator" para o HTC Vive, da Valve.

Sobre o futuro, Olifiers sintetiza: "Não sei o que vai acontecer em alguns anos, mas se ainda estivermos por aqui, garanto que estaremos fazendo bons jogos, jogos que gostaríamos de jogar".