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Com cem milhões de jogadores, "World of Tanks" se arma pra invadir o Brasil

Théo Azevedo

Do UOL, em Varsóvia*

27/04/2015 13h37

A Polônia, no Leste Europeu, foi um dos países mais devastados pela 2ª Guerra Mundial. Por isso, a princípio pode soar estranho que a capital, Varsóvia, tenha sido palco, pela segunda vez consecutiva, da final mundial de "World of Tanks", um jogo online de batalhas entre tanques históricos com mais de 100 milhões de jogadores espalhados pelo mundo.

Não por acaso, o campeão do torneio foi a Hellraisers, um time da Rússia, país onde "World of Tanks" faz mais sucesso. No embate final, a equipe fez 7 a 1 - placar que ainda arrepia os brasileiros - contra os chineses da EL Gaming, embolsando US$ 150 mil.

Agora a Wargaming, empresa bielorrussa responsável por "World of Tanks", se prepara para invadir o Ocidente, incluindo o Brasil, onde "World of Tanks" já possui uma versão no idioma local. As promessas, no entanto, vão além: num país sem cultura militar e onde o eSport é dominado basicamente por "League of Legends", shooters online e alguns postulantes, como "Smite" e "DotA 2", "World of Tanks" diz que vem pra ficar.

Passo a passo no Brasil

A Wargaming, que possui 4.000 funcionários e 16 escritórios espalhados pelo mundo, ainda decide se vai abrir um por aqui: "O Brasil é grande, mas não é um mercado fácil. Você tem que saber como conduzir seus negócios por lá e somente agora temos recurso para fazer disso um passo oficial", explica Victor Kislyi, CEO da Wargaming.

  • Para Victor Kislyi, CEO da Wargaming, o público de "World of Tanks" gasta mais dinheiro no jogo pois é um público mais velho

Por enquanto, a operação em território brasileiro é tocada dos Estados Unidos, onde, aliás, estão também os servidores do jogo. "O objetivo principal é ter servidores locais, mas para isso é preciso montar uma operação local", diz Chris Cook, diretor de comunicações para as Américas.

A empresa prefere conduzir sua entrada no mercado nacional passo por passo, e o primeiro deles será apresentar "World of Tanks" na XMA Mega Arena, evento que começa nesta sexta-feira (30) em São Paulo. Numa área de 200 metros quadrados e com 30 PCs, o público vai poder dar seus primeiros tiros no jogo.

Equipes estruturadas, patrocínios, torneios oficiais e todo o circo que envolve o eSport? Para a Wargaming, é questão de tempo: "As pessoas [no Brasil] conhecem o jogo, mas não ainda aos milhões", admite Cook. "Para introduzi-lo como eSport é preciso começar pequeno, construir uma comunidade e uma base de jogadores e, conforme o crescimento, aumentar o investimento".

A atuação dos brasileiros no eSport de "World of Tanks", no entanto, já começou: uma equipe local, a Timed Out Gaming, tentou uma das vagas para o Mundial – para efeitos de classificação, os times nacionais pertencem à região da América do Norte -, e por pouco não conseguiu.

NÚMEROS DE "WORLD OF TANKS"

100 milhões de jogadores
4 mil funcionários na produtora Wargaming
16 escritórios da Wargaming espalhados pelo mundo
2010: ano de lançamento de "World of Tanks"
US$ 150 mil foi o prêmio do time campeão do Mundial 2015
7 a 1: placar da vitória do time russo Hellraisers sobre chineses da EL Gaming

"'Counter-Strike' com tanques"

Há pelo menos duas coisas que você não vai ver em "World of Tanks": recriação de batalhas históricas e mortes de seres humanos. Desde que foi lançado, em 2010, o game já recebeu mais de 50 atualizações, que foram deixando a ação mais rápida e dinâmica, algo fundamental para agradar o perfil dos jogadores do Ocidente. É como um "'Counter-Strike' com tanques", crava Kislyi.

As disputas acontecem entre duas equipes de sete jogadores, onde, mais que reflexos, é preciso ter nervos de aço, capacidade de juntar os cacos e, como um time, se recuperar, já que um simples erro pode comprometer a partida: "Em outros jogos você passa por vários altos e baixos, mas no 'World of Tanks' isso não acontece, é tudo muito rápido", explica Mohamed Fadl, que comanda o setor de eSport da Wargaming.

Segundo pesquisa da Super Data, jogadores de "World of Tanks", que é grátis e funciona com microtransações, gastam três vezes mais que os de "League of Legends". Para Kislyi, a explicação é simples: "Nosso público é mais velho [que o de 'LoL'], trabalha e não tem tanto tempo livre, mas é dono do próprio dinheiro e escolhe como gastá-lo". Além disso, trata-se de um ambiente estritamente masculino: "É um jogo para homens:  98% dos nossos jogadores são homens a partir dos 17 anos".

  • Time russo Hellraisers venceu o Mundial 2015 de "World of Tanks" e ganhou US$ 150 mil

Tanques, aviões, navios e erros

Diferente da Riot, de "League of Legends", a Wargaming quis romper a barreira de "empresa de um jogo só" e, em 2013, lançou "World of Airplanes" que, como o nome sugere, leva as batalhas para os céus. Porém, pilotar um avião, mesmo em um game, é mais complicado do que parece. O jogo não pegou: "Cometemos alguns erros em 'World of Airplanes' que não eram tão fáceis de detectar. Quando se trata de aviões, nossa mente não está preparada para fazer manobras rápidas em um espaço 3D", lamenta Kislyi.

Agora, a empresa se prepara para, até o final do ano, lançar "World of Warships", atualmente em beta fechado. Ao menos, segundo a Wargaming, a batalha entre navios vai indo bem até o momento, ainda que o teste de fogo só aconteça mesmo quando o jogo for colocado à disposição do público.

Enquanto isso a empresa investe ainda mais em "World of Tanks", que à essa altura já  possui versões para Xbox 360, tablets, smartphones e, ainda este ano, vai estrear no Xbox One.

Resta saber se o público brasileiro vai embarcar nessa onda.

* O jornalista viajou a convite da Wargaming