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Mesmo com problemas, "Toren" é motivo de orgulho para o Brasil no PC e PS4

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

14/05/2015 17h59

A princípio pela proposta promissora e mais ainda depois ao ser o primeiro jogo a captar recursos através da Lei Rouanet, "Toren" é um jogo com virtudes e problemas, mas dos quais os brasileiros podem - e devem - se orgulhar.

A belíssima aventura 3D da Criança da Lua chegou nesta semana para PC e PlayStation 4, por R$ 20 e R$ 21, respectivamente, e é o primeiro lançamento do estúdio gaúcho Swordtales.

Logo de cara, "Toren" rebate qualquer crítica atual de que estúdios brasileiros não sabem fazer jogos tridimensionais bonitos: o estilo transita entre inegáveis inspirações de "Zelda", "ICO" e "Last Guardian", mas imprimindo um lindo estilo próprio - que ainda recebe ajuda de uma cativante trilha sonora, com direito a violinos e violas.

Logo nos primeiros dias, o ótimo trabalho do estúdio está sendo reconhecido pelo mercado: "o jogo está vendendo legal no Steam e os comentários de quem compra são bem positivos", conta Alessandro Martinello, diretor de arte da Swordtales.

"Além disso, a gente já está tendo lucro bem cedo, os recursos que conseguimos por conta da Lei Rouanet deixou o valor do 'break even' (quantidade necessária de jogos para vender para igualar o investimento) bem baixo", explica Martinello.

Bonito e complicado

A jornada é curta, pode ser encerrada em cerca de 2 horas, mas envolvente. Sem nunca estabelecer referências ou significados explícitos, o jogo divaga sobre vida e morte, futuro e passado e outros temas por meio de rápidas conversas e inscrições pelo cenário, uma imensa torre habitada por um dragão com uma árvore crescendo no interior da construção.

Segundo Alessandro, "parte do que inspirou o jogo foi o mito da Árvore da Vida, que tem muito a ver com a origem da maioria das religiões e crenças pelo mundo; o 'Toren' tem muito disso, é uma história simples , mas com uma camada mais profunda sobre o crescimento da garota como ser humano, evoluindo para atingir uma suposta iluminação".

Pessoalmente, a sensação que tive ao final foi similar à que passei quando joguei "Journey", mostrando uma aventura repleta de altos e baixos e interpretações que, muito fatalmente, algo vai ter um significado especial para você.

Porém, nem tudo é bonito e maravilhoso: enquanto o visual e a temática agradam e impressionam, a parte técnica sofre. Os controles são imprecisos, a movimentação bem lenta e alguns bugs frustram. Por mais de uma vez a jovem menina lunar ficou presa, sem motivo aparente, em partes do cenário e fui obrigado a sair e entrar no jogo novamente.

Sorte que "Toren" pouco exige de reflexos apurados e movimentos rápidos, mas quando isso acontece a tarefa pode ser mais árdua do que deveria.

"Infelizmente, são limitações técnicas e pesa o fato de o nosso time ser pequeno", explica Alesandro. "A gente deu para os controles a mesma importância que os gráficos, mas às vezes algumas coisas passam batido. Quando a versão final saiu do estúdio, por exemplo, cinco pessoas testaram várias vezes no Canadá e mesmo assim algumas coisas passaram".

Ao menos alguns desses problemas devem sumir no futuro, já que a equipe conta com verba para se dedicar nos próximos meses a corrigir bugs por meio de patches e melhorar o desempenho do jogo.

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Uma conquista importante

Há quem diga que o resultado é pouco para um jogo que ficou cerca de quatro anos em produção, mas não se trata de um caso corriqueiro, como qualquer jogo AAA de uma grande produtora internacional.

"Toren" nasceu como um ambicioso projeto universitário de ambicioso trio de garotos em Porto Alegre que foi contra convenções mais populares e comerciais, recebeu apoio das comunidades indies do Brasil e do mundo, foi pioneiro ao captar recursos pela Lei Rouanet e, no final, saiu para computadores e PS4, o console caseiro de atual geração mais vendido no mundo, com status de 'grande promessa' de 2015. Sinceramente, não acho pouco.

Mesmo com tantos problemas técnicos, "Toren" é um jogo cheio de qualidades. As mensagens espalhadas pelo game permitem diversas interpretações e jogar de novo, por exemplo, permite entender melhor certas partes da breve, mas comovente, história.

A produção da SwordTales sacramenta também o ótimo momento que o mercado brasileiro vive atualmente. Ao lado do aclamado "Chroma Squad" e um punhado de títulos de sucesso em plataformas mobile, nunca se viu tantos projetos autorais do país brilhanto tanto aqui quanto no mercado internacional.