Topo

Após repercussão, pirataria do PS4 some em São Paulo

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

19/05/2015 12h02

Uma semana após UOL Jogos ter publicado em primeira mão uma reportagem sobre as facilidades da pirataria no PlayStation 4, que chegou a ter grande repercussão na imprensa internacional nos dias seguintes, voltamos à região da Rua 25 de Março, em São Paulo, para saber se houve alguma mudança no esquema de "desbloqueio" do console.

"'Cê não é polícia não, né?", me pergunta um sujeito com sotaque haitiano. O rapaz, que anunciava ter vários consoles para vender, estava receoso quando o abordei perguntando por um PS4 "desbloqueado, desses que vêm com vários jogos na memória". Com um sorriso de cumplicidade ele me diz: "Tem um esquema, sim, mas eu não faço. Eu vendo PS4 barato, mas não é desse esquema, não".

Respostas negativas e comentários evasivos foram tudo o que consegui ao buscar por um PS4 pirata. "Aqui eu vendo tudo nacional, não tenho dessas coisas", diz um lojista na galeria onde UOL Jogos efetuou a operação anteriormente. "Só trabalho com produtos nacionais, não posso me queimar vendendo console desbloqueado", desconversa.

Ninguém sabe, ninguém viu

Em todas as lojas e assistências técnicas visitadas, ninguém mais fazia o tal esquema ou mesmo exibia plaquinhas de papel com os dizeres "Desbloqueio do PlayStation 4 R$ 400". Era como se a pirataria do PS4 nunca tivesse existido por ali. "Aqui eu não faço, mas aquela outra loja ali, talvez", disse um atendente, apontando para outro estande, mesmo lugar que há uma semana prestou serviços para a reportagem.

NÃO É DESBLOQUEIO, MAS É PIRATARIA

Reprodução
O sistema de clonagem oferecido no centro de São Paulo não é desbloqueio, mas ainda assim é pirataria e, como tal, o usuário e o comerciante estão agindo contra a lei. A qualificação da pirataria como crime se encontra no Código Penal, no Art. 184, que fala sobre a violação dos direitos do autor e os que lhe são conexos. A pena para quem distribui ou compra produtos oriundos de pirataria é detenção de três meses a um ano ou multa definida pelo juiz.

Mesmo lá, ninguém mais falava do assunto e já não havia cartazes anunciando o serviço. "Não faço mais isso", disse o balconista. "Parece que os consoles estavam quebrando, então não estamos fazendo", completou. Ainda assim, o vendedor explica que sabe como é o esquema e reforça que não é desbloqueio: "Não desbloquearam ainda, nem o PS4 nem o Xbox One. Quando desbloquearem, claro que vamos oferecer aqui".

Em outro estande, uma vendedora chegou a comentar a reportagem de UOL Jogos quando insisti que tinha ido até lá porque vi na internet que tinham "PlayStation 4 desbloqueado: "Saiu uma reportagem no UOL, né", comentou. "Mas não vendemos aqui, não. A Sony está fazendo uma pressão, sei que pegaram dois na Santa", disse a moça, falando da Rua Santa Ifigênia, onde se concentram as lojas de games de São Paulo. "Se pegarem vendendo isso é B.O. (Boletim de Ocorrência)", alertou.

A impressão que se tem é que, no caso específico do PlayStation 4, a pirataria sumiu do centro de São Paulo. Mesmo em lojinhas apinhadas de produtos piratas, jogos de Xbox 360 em sacolinhas, cartões R4 para Nintendo DS e até mesmo consoles desbloqueados, o assunto é tabu. "PS4 só temos original, sai por R$ 1.450", é a resposta mais comum. "Vem sem jogo, mas faço por R$ 1.700 com 'GTA' ou 'The Last of Us’”. Essa foi a melhor proposta que consegui. Sobre o PS4 “liberadão”, nem sinal.

UOL Jogos procurou a Sony para saber se a empresa chegou a tomar alguma medida contra o esquema de pirataria no centro de SP, como sanções comerciais ou mesmo judiciais (como sugere o depoimento da vendedora), mas a empresa ainda não se manifestou sobre o assunto.