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Aventura épica de "The Witcher 3" justifica compra de um console novo

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

22/05/2015 15h57

Desde o lançamento dos consoles PlayStation 4 e Xbox One, Microsoft e Sony tentam convencer os jogadores a migrarem dos veteranos PS3 e X360. Oferecendo recursos multimídia e funcionalidades únicas, ambas as empresas ainda engatinham no que realmente importa: jogos únicos, capazes de mostrar o poder das máquinas e atrair os fãs.

Coube à polonesa CD Projekt RED desenvolver o primeiro jogo realmente “de nova geração”, daqueles que seriam impossíveis de realizar no PS3 ou no Xbox 360 sem perdas consideráveis. Sim, tivemos “Bloodborne" e “Sunset Overdrive” antes dele, mas o apelo de “The Witcher 3: Wild Hunt” é muito mais abrangente e significativo.

"Wild Hunt" não só mostra a capacidade das novas plataformas para criar um mundo de jogo vasto e detalhado, com efeitos gráficos bacanas e muito, mas também traz muito conteúdo para entreter o jogador e um enredo épico e emocionante. Se você não é um adepto do "PC gaming", este é o jogo que justifica a aquisição de um console novo.

O jogo é um RPG, um daqueles games de aventura tipicamente ocidental, onde você encarna um herói misterioso e embarca em uma série de missões enquanto explora um vasto mundo de fantasia. Como nos melhores jogos do gênero, não há uma divisão clara entre bem e mal - isso fica nas mãos do jogador, que decide o rumo das coisas em cada situação.

VEJA TRECHOS DE "THE WITCHER 3" EM PORTUGUÊS

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Caçada selvagem

No game você é Geralt de Rívia, um bruxo - um caçador de monstros geneticamente modificado, na mitologia criada pelo escritor Andrzej Sapkowski. Criado para caçar monstros, Geralt vaga pelo mundo salvando as pessoas comuns de criaturas sinistras, desde que seja devidamente pago para isso.

Em “Wild Hunt”, o bruxo está em uma busca pessoal pelas mulheres de seu passado. Nos jogos anteriores (o primeiro saiu só para PC, o segundo para PC e Xbox 360), o herói passou por maus bocados, perdeu a memória e se envolveu em guerras e politicagens nas cortes reais.

Agora, Geralt tem sua memória de volta e nenhum vínculo com reis ou outros empregadores poderosos. O personagem parte em um novo começo para sua vida - momento ideal para introduzir novos jogadores ao bruxo e suas aventuras.

Mesmo sendo uma seqüência, “The Witcher 3” faz um excelente trabalho em apresentar seus personagens e motivações para o jogador. Para isso, o game só fala o necessário em seus momentos iniciais - ao invés de despejar uma pilha de nomes, datas e fatos sobre o recém-chegado, o game apresenta Geralt, a amante Yennefer, a protegida Ciri e o mentor Vesemir ao longo de um caprichado tutorial sobre os comandos do game.

Enquanto aprende os movimentos básicos de combate e magia, o jogador cria uma relação com os personagens centrais da trama e com a ameaçadora Caçada Selvagem, grupo de vilões sobrenaturais que ameaçam o bruxo e seus aliados.

Com esse conhecimento básico, você é solto no mundo para se aventurar. O jogador sabe que é um caçador de monstros e que está atrás de Yennefer e que a Caçada Selvagem é um perigo em sua cola. Tudo isso jogando, sem passar horas lendo ou assistindo longas cenas de animação não interativas (embora a sequência de abertura seja belíssima e totalmente integrada nesse prólogo).

O cenário adiante é um dos mais ambiciosos já feitos para um game: um continente vasto e cheio de aventuras, onde vivem centenas de personagens secundários - desde camponeses que tocam a vida arando a terra e bebendo nas tavernas até lordes, bandidos, sacerdotisas e prostitutas.

Você não interage com todos, é claro. Muitos são apenas figurantes nas longas cavalgadas de Geralt. Mas mesmo a vida desses peões é afetada pela ação do jogador: livre uma região de salteadores ou de matilhas de lobos selvagens e em algum tempo ela será povoada por fazendeiros e comerciantes.

Um lorde morto pode acabar substituído por uma ordem de cavalaria - e a longo prazo, a situação política da região pode mudar completamente como resultado de uma mera missão paralela. Mesmo as atividades mais simples em “The Witcher 3” se revelam cheias de causas e consequências.

VEJA TRAILER DE LANÇAMENTO DE "THE WITCHER 3"

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Narrativa e liberdade

A maior conquista de “The Witcher 3” não é o belo mundo virtual construído pela CD Projekt e nem as centenas de horas de entretenimento que o jogo oferece, mas sim o equilíbrio perfeito entre narrativa forte e liberdade de ação - duas filosofias de design de RPGs que até então eram opostos extremos.

A narrativa sempre foi o forte de “The Witcher”, dada a origem literária da série. Os jogos anteriores traziam sempre histórias envolventes e divididas em capítulos, em uma estrutura rígida e tradicional. Já a liberdade de ação e exploração é novidade para a franquia polonesa, inspirada sem dúvida nos sistemas de escolhas de “Dragon Age” e no mundo aberto de “Skyrim”, seus concorrentes diretos ao trono de “rei dos RPGs”.

“The Witcher 3” tem heróis bem caracterizados e um roteiro bem definido ao mesmo tempo em que oferece ao jogador a ilusão da escolha e a liberdade de explorar o mundo da maneira que quiser, cumprindo contratos e missões na ordem que preferir - sem que nenhum desses elementos seja prejudicado pelos demais.

As longas missões principais são divididas em etapas, tornando a experiência mais didática para os recém-chegados ao gênero ao mesmo tempo em que desenvolve a história em um ritmo envolvente, recompensando o jogador com novas informações e equipamentos que abrem ainda mais possibilidades para explorar as florestas e ilhas do jogo.

Mesmo eventos que em outros jogos seriam apenas mostrados em cenas não interativas, são parte do jogo em “Wild Hunt”. Ao ouvir uma história envolvendo Ciri, a misteriosa criança da profecia que Geralt adotou como protegida, o jogador é levado para um longo ‘flashback’ jogável, onde controla a moça - que tem movimentos bem diferentes do protagonista, além de ser um personagem complexo e interessante, forte candidata à favorita dos fãs.

Uma diferença importante entre a exploração em “The Witcher 3” e “Skyrim” é que aqui os contratos e missões que surgem pelo caminho não são gerados de forma aleatória. Cada missão é roteirizada, por mais secundária que seja. Ao caçar um fantasma que assombra um vilarejo de beira de estrada, você vai usar mecânicas de jogo variadas (conversar, rastrear pistas, lutar, preparar poções e por aí vai) para alcançar o objetivo.

Ao longo do game, você nunca vai se ver diante de tarefas como “mate 20 lobos” e mesmo objetivos simples como “mate a aparição que assombra a vila” raramente serão exatamente isso. No processo você vai descobrir que o fantasma é a verdadeira vítima, uma mulher morta pelo marido ciumento. Ou que se trata de um vigarista enganando os camponeses.

E sim, vai caçar monstros enormes e fantásticos, como grifos e outras criaturas mais assustadoras. Assim como nos livros de “The Witcher”, as histórias dessas criaturas costuram elementos de contos de fada e mitologia nórdica com verdadeiras tramas de horror - como o fetulho, criança abortada que volta do túmulo para se vingar pelo abandono… e que pode ter a maldição encerrada após receber um abraço do pai.

Nessas missões, você pode optar pelo caminho mais fácil, ignorando as motivações e mentiras e se concentrando na tarefa (matar o monstro e receber o pagamento) ou se envolver, tentando convencer o pai a aceitar a criatura morta-viva como seu filho, por exemplo, ou levar a vingança do fantasma ao marido assassino.

“The Witcher 3” conta com centenas de pequenas histórias assim, material o bastante para desviar a atenção do jogador para sempre do objetivo principal, se a CD Projekt não conseguisse amarrar eventos menores com os acontecimentos mais importantes, posicionando missões principais (ou trechos delas) no meio do caminho do jogador. É a ilusão de escolha funcionando a favor do jogo, sem diminuir a participação e a diversão do jogador.

De olho no Brasil

Jogos traduzidos para o português já não são novidade, mas RPGs ainda são raros no clube. “Dragon Age: Inquisition” traz legendas e menus em nosso idioma, mas o áudio só em inglês. “Final Fantasy” em português? Só nas adaptações dos jogos antigos para celular.

Dito isso, a investida da CD Projekt no Brasil é digna de nota. A produtora não poupou esforços na tradução do conteúdo e na dublagem de alta qualidade em nosso idioma, que custou cerca de R$ 500 mil e envolveu dezenas de profissionais, entre eles nomes bem conhecidos da dublagem brasileira, como Sergio Moreno, Sarito Rodrigues e Orlando Drummond.

O tamanho do trabalho de localização de “The Witcher 3” também é notável: São milhares de páginas de texto, entre diálogos, menus, itens, glossários e bestiários, trechos de livros, cartas e cartazes - e cerca de 800 personagens diferentes com falas próprias gravadas para o jogo. Não é pouca coisa: provavelmente só a localização de “World of Warcraft”, MMO com 10 anos de vida, supera a obra da CD Projekt.

Por aqui, o jogo é caro: vendido inicialmente por R$ 200 nos consoles PS4 e Xbox One, “The Witcher 3” não aguentou a alta do dólar e passou a custar R$ 230. Em compensação, o jogo em disco traz uma série de mimos para o comprador: CD com trilha sonora, mapa em papel especial, um glossário ilustrado e um código para o game “The Witcher Battle Arena”, entre outros itens.

Com “The Witcher 3”, a CD Projekt deu seu mais ambicioso salto: de cultuado estúdio europeu de RPGs “hardcore" para uma das principais produtoras da atualidade, capaz de oferecer um jogo com apelo global e melhor do que a imensa maioria dos títulos lançados para PlayStation 4 e Xbox One neste ano e meio de vida dos novos consoles.

Jogar "The Witcher 3: Wild Hunt" no PC é melhor? Sim, desde que você tenha uma máquina boa o bastante. Veja os requisitos mínimos e recomendados para rodar o game no computador:

REQUISITOSMÍNIMOSRECOMENDADOS
ProcessadorIntel i5-2500K 3.3 GHz ou AMD Phenom II X4 940Intel i7-3770 3.4 GHz ou AMD FX-8350 4 GHz
Placa de vídeoGeForce GTX 660 ou Radeon HD 7870GeForce GTX 770 ou Radeon R9 290
SistemaWindows 7, 8 ou 8.1 64-bitWindows 7, 8 ou 8.1 64-bit
Memória RAM6 GB8 GB
Espaço em disco40 GB no HDD40 GB no HDD