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No limite da emoção: jogadores contam por que só gostam de games difíceis

Rodrigo Guerra

Do UOL, em São Paulo

25/05/2015 19h16

Você jogaria um game em que,  pelo menor descuido, você perdesse todo o progresso alcançado nos últimos meses?

A maioria das pessoas nem sequer pensa nisso, mas tem gente que só joga games desse tipo, como é o caso de Marcelo Scozzo, 29 anos, de Blumenau. "Eu perdi mais de 500 personagens no Diablo III", confessa enquanto diz que só gosta de games "com permadeath".

Permadeath, ou morte permanente, é um termo para definir um recurso de jogos nos quais se seu personagem morrer tudo o que ele fez é apagado. "Eu joguei a aventura de 'Diablo III' apenas uma vez e, ainda assim, foi na dificuldade máxima", conta Marcelo, "Eu simplesmente fico entediado com jogos fáceis".

  • Marcelo Scozzo, de Blumenau, diz que perdeu mais de 500 personagens em "Diablo III"

"É a questão 'desafio e recompensa'. Alguns jogos antigos tinham recompensas por jogar nos níveis mais difíceis. Por exemplo, 'Tekken' do PSone liberava personagens adicionais", conta Leandro Lima, 38 anos, de São Paulo. "Alguns jogos oferecem uma dose absurda de adrenalina. 'Deus Ex' no modo Expert era um tiro e morria. Tinha que voltar do começo".

Para esses jogadores, games muito desafiadores são os que trazem a experiência e justificam o investimento. "Confesso que não posso comprar muitos games hoje em dia. Além de estarem custando os olhos da cara, não tenho muito tempo de sobra, então eu aproveito ao máximo os jogos que compro", diz Marcelo.

Marcelo atualmente está se dedicando ao modo Hardcore de "Diablo III". Nessa modalidade o seu personagem não pode morrer pois, se isso acontecer, tudo o que ele coletou e todo o progresso feito é perdido de forma permanente. Não tem jeito de recuperar. Ele diz que isso que é legal no jogo.

Sem continue

"Cansei de 'Gears of War', 'Uncharted', 'Mario'… todos os games são muito fáceis. Não deixam você sentir um risco real e que pode acabar perdendo tudo o que você fez, ou seja, são jogos que morrer não causa nenhum prejuízo para o jogador. Nesses games mais fáceis não existe um desafio real. O jogo é só grande corredor sem nenhuma armadilha de verdade", conta Marcelo.

Leandro também prefere games mais difíceis e tem um ponto de vista semelhante. "Os jogos hoje são feitos para consumo rápido. O gamer precisa se desprender logo [do jogo] e ir para o próximo. O cara não se preocupa em jogar e aprender como matar o chefe... ele vai no YouTube, vê um vídeo ensinando, faz exatamente aquilo o que viu e pronto, zerou".

Leandro conta uma situação que pode parecer um pouco comum para os jogadores de "Destiny": " Jogando Destiny com amigos, me chamaram para matar o Crota [um dos chefes mais difíceis do jogo]. Simplesmente me disseram 'fica parado aqui e atira quando mandarmos'. Quando terminou, ganhei dois itens e gritei 'huhuuuuuuu level 32 finalmente' mas fui de robozinho. Eu não vi graça".

"Gosto de jogos com o famoso 'Se morrer ferrou'. Tudo é desafiador nesse tipo de jogo. Inclusive elementos fora do jogo... até o infeliz do meu gato pode me matar [risos] e aí já era!", conta Leandro.

O que conta é a jornada

Mas nem todos os jogos com morte permanente são legais para quem gosta de desafios. "Eu não gostei de 'Minecraft' nem de 'Day Z', o modo Hardcore é bacana, mas acho que falta um desafio principal além do 'sobreviver o máximo de tempo possível'. Acho que deve existir um desafio que vá além disso. Tipo, em 'Diablo III' vou o mais longe que consigo, mas sempre calculando o risco. Às vezes eu calculo mal e morro [risos], mas a jornada foi boa", conta Marcelo.

É preciso ficar atento: parte da experiência de jogo com esses games é a frustração. "Tudo pode influenciar e você pode acabar perdendo um personagem com coisas bestas, tipo cair a internet. Isso aconteceu comigo e eu fiquei 'P' da vida", conta Marcelo.

  • Leandro Lima, de São Paulo, diz que prefere jogar games no modo mais difícil. "É a questão desafio e recompensa", conta

A frustração pode até causar danos materiais. Leandro conta que fica bem bravo quando perde um personagem assim: "Já joguei notebook no chão, já quebrei mouse, já prometi nunca mais voltar a jogar, já briguei com a esposa... e um pouco só frustrado", comenta, rindo dessas situações.