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Em mundo aberto, "Metal Gear Solid V" tenta ser o maior e melhor da série

Snake retorna para a aventura que conectará todas as pontas da série "Metal Gear" - Divulgação
Snake retorna para a aventura que conectará todas as pontas da série "Metal Gear" Imagem: Divulgação

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em Los Angeles*

09/06/2015 12h40

Desde seu anúncio, "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" foi um jogo feito para brincar com as expectativas dos fãs. Entre confusões com dubladores e falas intrigantes sobre o escopo do game, era difícil determinar exatamente o que esperar do provável último projeto de Hideo Kojima na Konami.

Depois de mais de 15 horas testando o jogo no estúdio da produtora em Los Angeles, porém, UOL Jogos finalmente está pronto para responder algumas questões sobre o maior e mais importante capítulo da série, que promete conectar os mundos de Big Boss e Solid Snake e preencher todas as lacunas de uma história contada ao longo de décadas.

O jogo terá versões para PlayStation 4, Xbox One, PC, PlayStation 3 e Xbox 360, e chegará às lojas com legendas em português no dia 1º de setembro.

Muito diferente de todos os seus predecessores, "The Phantom Pain" tira Snake da linearidade confortante de "Guns of the Patriots" e o joga de cabeça em enormes áreas de mundo aberto nas quais cada missão se transforma em um teste de criatividade.

Toques de horror

A sequência inicial do game é frustrante e sofrida, e captura bem a atual situação do protagonista. Frágil e indefeso, ele lentamente retoma o controle sobre seu corpo após levar uma injeção de adrenalina - mas ainda assim permanece desarmado em um campo de guerra.

As cenas são cheias de cortes estranhos que parecem alienígenas para a série, mas que refletem bem a confusão de qualquer fã veterano da franquia em meio a tudo aquilo. A introdução é a primeira incursão do designer Hideo Kojima no mundo do horror e funciona muito bem, pois voltar ao controle do Snake que conhecemos, armado e inteiro, chega como um grande alívio.

A sensação de segurança dura pouco, porém. Logo o herói encontra os Skulls: inimigos aparentemente invencíveis que se movimentam como zumbis até encontrarem um alvo. Já com Snake na mira, eles se transformam na maior ameaça da série, sendo capazes de se teletransportar (!) e realizar saltos incríveis para acompanhar até mesmo o ritmo do cavalo do herói.

"The Phantom Pain" dá um aviso bem claro: você não está seguro. Fique esperto.

Assista a uma demonstração do game

Liberdade

Depois da montanha-russa de emoções da introdução, Snake ganha um tempo para se aclimatar ao deserto do Afeganistão, onde ocorre grande parte da ação da aventura. No teste, UOL Jogos teve a oportunidade de visitar apenas mais uma área de selva de tamanho parecido em outra parte do mundo. A Konami não revela se esses são os únicos cenários que visitamos até o fim do game.

Curiosamente, Kojima não estava brincando: só a parte explorável do Afeganistão já é assustadoramente maior que "Ground Zeroes".

Pequenos vilarejos e construções estão espalhados por todos os lados, escondendo coletáveis ou inimigos, enquanto bases de oponentes parecem realmente vivas: soldados trocam de turno na virada do dia para a noite, carregam armas e suprimentos de um ponto para outro, e vivem normalmente até que um alerta acuse a presença de Snake nas redondezas.

Não demora muito para ficar claro que "Metal Gear" é uma experiência muito melhor em mundo aberto. Mais espaço para manobra dá ao jogador mais liberdade para inventar suas próprias estratégias de infiltração e espionagem.

Uma missão bem marcante no início do jogo obriga Snake a adentrar um vilarejo inimigo que fica na encosta de uma montanha para descobrir o paradeiro de um batalhão de tanques. Dependendo de qual das entradas o herói escolher, sua vida será mais fácil ou mais difícil. Começando pela base da montanha, subir cada lance de escadas pode significar dar de cara com um soldado em guarda. Se Snake contornar o perímetro e entrar pela colina menos íngreme, ele rapidamente pode ganhar uma posição de vantagem em relação aos soldados abaixo.

O mesmo objetivo continua com a aparição do comboio de tanques. Quem antecipar sua movimentação pode se dar bem colocando explosivos C4 na estradinha de terra ao lado do vilarejo, enquanto outros terão que encontrar um bom ponto para bombardeá-los com RPGs. Mas quem for esperto mesmo já descobriu antes onde os veículos estavam estacionados e roubou um dos tanques para si.

Inteligência

Através do novo sistema de Buddies, Snake pode contar com o suporte de um aliado no campo de batalha. O D-Horse, montaria que já aparece em vários trailers, é um exemplo. DD é outro: um cachorro que, além de muito fofo, consegue farejar a existência de inimigos próximos e alertar sua presença no radar do herói.

Por ter mais opções como essas, Venom Snake - a denominação oficial do herói de "Phantom Pain" - é o mais poderoso protagonista da série. Em contrabalanço, felizmente, a Kojima Productions fez questão de retrabalhar a inteligência artificial dos inimigos, que são mais insistentes e astutos do que nunca.

De cara, é fácil notar como a visão deles está bem mais aguçada do que em capítulos anteriores da série. Barulhos leves também atiçam a atenção dos soldados, que também demoram mais tempo para desistir de te achar após um alerta.

Isso não quer dizer, claro, que "Metal Gear" tornou-se um jogo de espionagem completamente realista - apenas mais desafiador. Caixas de papelão continuam sendo o calcanhar de Aquiles de toda e qualquer força armada, e passar sem ser visto por um contingente de soldados pendurado do lado do cavalo (até quando o mesmo cavalo está carregando um prisioneiro fugitivo) é tão engraçado quanto satisfatório.

Em "Peace Walker", Snake podia usar balões portáteis para "sequestrar" soldados e prisioneiros e levá-los até a Mother Base. A função está de volta (e, aliás, é mais importante do que nunca), mas agora outros soldados reagem quando um de seus companheiros sai voando e gritando perto deles. Tudo o que Snake faz em "Phantom Pain" precisa ser feito com bastante cautela.

Ande em paz

E falando em "Peace Walker", é bom deixar claro que o game de PSP é leitura recomendada para quem quiser se sentir em casa com "The Phantom Pain" - afinal, "Metal Gear V" é muito mais uma sequência da aventura portátil do Snake do que de "Metal Gear 4".

"Phantom Pain" permite que jogadores explorem o mundo em um modo 'sandbox', interagindo com animais, treinando suas habilidades, procurando coletáveis, e por aí vai. Mas a 'carne' do jogo aparece estruturada na forma de missões, que devem ser ativadas através de um menu e levam Snake de helicóptero a pontos específicos do mapa. É através delas que a história avança.

Isso tudo é uma herança direta de "Peace Walker". As missões opcionais do jogo portátil, que podem aparecer de maneira dinâmica até mesmo no modo de exploração livre, também aparecem. Em "Phantom Pain", são mais de 150 - e algumas delas podem ser tão complexas quanto as principais.

Por sua vastidão, "Metal Gear" tem um equilíbrio muito mais interessante entre cenas de jogos e 'cutscenes'. Trata-se de um game que motiva o jogador a experimentar a mesma missão várias vezes, visto que cada uma delas tem pelo menos 5 objetivos opcionais secretos e ainda mais maneiras de serem vencidas.

Mas mesmo nessa estrutura fechada, o jogo consegue surpreender. A primeira batalha contra um chefe, por exemplo, acontece enquanto você está caminhando para uma missão paralela - e a mesma toma ótimo proveito do fato do mundo ser um enorme campo aberto.

O papel de chefão

Também como em "Peace Walker", Big Boss deve, mais uma vez, assumir o papel de chefão. Dono de uma nova Mother Base na região das Ilhas Seicheles, ele precisa gerenciar todos os aspectos de sua nova operação - o grupo de combatentes livres Diamond Dogs -, desde o recrutamento de soldados em campo (com os já mencionados balões portáteis) até o desenvolvimento de novas armas e equipamentos e a construção de novos prédios para a base.

É como se "Phantom Pain" fosse dividido em duas metades: a de ação e espionagem, e a de gerenciamento. Mantendo a moral de seus soldados em alta, enviando-os em missões, tratando do time de pesquisa e desenvolvimento com cuidado são tarefas aparentemente tediosas - como eram em "Peace Walker" -, mas que tornam-se divertidas aqui por terem resultados mais palpáveis.

Um exemplo: se você dá voltas pela Mother Base entre missões, tomando cuidado para passar perto dos soldados em guarda, eles ficarão mais motivados pela sua presença. Eventualmente, tais soldados começam a bater continência quando você chega perto, e é possível até mesmo encontrar alguns deles comentando a trama de "Snake Eater" quando alguém pergunta "Como ele ganhou o apelido de Big Boss?" ou algo assim.

Prestar atenção ao aspecto de gerenciamento do game é uma necessidade, pois certas missões cobram equipamentos específicos para serem cumpridas de maneira satisfatória.

Em 15 horas de jogo, UOL Jogos cumpriu 14% do que está em "Phantom Pain", de acordo com as estatísticas do próprio jogo. Os 86% restantes incluem, claro, objetivos opcionais que muitos jogadores sequer verão. Mas a história ainda estava longe de acabar - o que é surpreendente para uma série que tem jogos que podem ser fechados em menos de 3 horas, descontadas as 'cutscenes'.

Em nosso teste, não tivemos a oportunidade de jogar o componente multiplayer do game, "Metal Gear Online", e nem o modo de invasão de bases da campanha. Ambos certamente acrescentarão várias horas à vida útil do game.

"Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" é uma espécie completamente nova de "Metal Gear", que une a narrativa envolvente característica da série a um mundo de dimensões sem precedentes. Ele é a realização de todas as ideias que "Peace Walker" apresentou em uma escala maior, mas que não ignora todo o legado da franquia, com claras referências a todos os seus capítulos anteriores.

A promessa é a de ser o melhor jogo da série. Esperamos que ela seja cumprida, já que ele também pode ser o último - ou ao menos o último com Hideo Kojima.

*O jornalista viajou a convite da Konami.