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Com pista no Rio, "Forza 6" quer ser melhor jogo de corrida do ano

Presente no primeiro "Forza", o Rio de Janeiro volta ao game em seu décimo aniversário - Divulgação
Presente no primeiro "Forza", o Rio de Janeiro volta ao game em seu décimo aniversário Imagem: Divulgação

Luiz Hygino

Colaboração para o UOL, em San Francisco*

01/09/2015 10h01

“Por que corremos?

Para provar o quão rápidos somos? O quão longe conseguimos ir? Corremos pra encontrar o nosso lugar? Para testar nossas crenças? Para fazer parte de algo maior? Para enfrentar nossos medos? Para conhecer o sacrifício? Para ficarmos cada vez mais fortes? Para nos tornarmos imortais?

Na verdade, não existe resposta simples para o porquê de corrermos. Existe apenas a certeza de que sempre correremos”.

Acompanhado de um sensível tema de piano e uma belíssima sucessão de imagens - que traçam um paralelo entre uma simples disputa de corrida entre dois garotinhos e provas de velocidade entre alguns dos mais rápidos carros do mundo - o modo carreira do novo “Forza Motorsport 6” começa com o texto acima, narrado em tom épico, tentando arrancar arrepios ou lágrimas de seus jogadores (imagine o Aragorn, de “O Senhor dos Anéis”, fazendo esse discurso em frente ao Portão Negro, com macacão e capacete, dirigindo um Chavete 87 azul-marinho. A sensação é quase essa). Um esforço praticamente inédito na franquia de automobilismo.

“Ouvimos nossos fãs e muitos críticos da série, e eles sempre apontavam para o fato de ‘Forza’ parecer um pouco morto, um pouco sem alma. Então demos um passo para trás, olhamos para o nosso trabalho, e percebemos que eles estavam certos, muitas vezes”, assumiu o diretor criativo da série, John Wendl.

“Daí em diante começamos a nos perguntar ‘Qual é nosso universo? Qual é nossa história?’. Se você joga ‘Halo’, por exemplo, tudo é ficção, tudo tem que ser inventado. Mas nós percebemos que não precisávamos inventar nada. Já temos, no automobilismo, o melhor universo e as melhores histórias. E tudo isso aconteceu de verdade!”, continuou o diretor.

"Temos a rivalidade de Nicki Lauda e James Hunt, a Ford vencendo a Ferrari nas 24 horas de Le Mans, e outros casos em que a vida real é mais estranha e incrível que a ficção. Então tentamos, nesse modo carreira, nos focar nisso: trazer a história do automobilismo para fãs do mundo todo, de uma forma bastante imersiva e emotiva. E é bom perceber, em dias como hoje, que isso de fato está acontecendo”, completou.

No dia em questão, é possível que John Wendl tenha percebido a queda de alguns ciscos nos olhos da equipe de UOL Jogos (não confirmamos), que esteve ao lado de diversos outros representantes da imprensa latino-americana para testar as primeiras três horas do modo carreira de “Forza Motorsport 6”, jogo da produtora Turn 10 Studios que chega somente para Xbox One no próximo dia 15 de setembro.

Trocando tinta

Mais novo capítulo de uma série que tem lugar cativo no coração dos donos de Xbox, “Forza 6” chega ao mercado alguns meses depois do lançamento de “Project CARS”, simulador de automobilismo da Slightly Mad Studios que apostou num sistema de financiamento e desenvolvimento completamente ligado ao público para tentar assumir o trono dos jogos de corrida. Algo positivo, de acordo com a equipe da Turn 10.

Teste Forza 6 - Luiz Hygino/UOL - Luiz Hygino/UOL
UOL Jogos testou "Forza Motorsport 6" em um evento da produtora Turn 10 em San Francisco, nos EUA.
Imagem: Luiz Hygino/UOL
"Estamos do lado de qualquer um que queira fazer dos jogos de corrida, do universo do automobilismo, algo mais popular. Recebemos qualquer nova franquia com boas-vindas. E ficamos entusiasmados com as novidades. Foi bom para os jogadores e bom para nós, produtores", explicou Wendl.
“Mas chegar é uma coisa, amigo. Passar é outra!”, diria o poeta.

E "Forza 6" se esforça para manter a liderança conquistada ao longo de tantos anos nos consoles Xbox.

“É uma questão existencial: a perfeição nunca pode ser atingida. Nós buscamos a perfeição, mas nunca chegamos lá. Mas temos uma equipe que está reunida desde o primeiro 'Forza', melhorando o motor de desenvolvimento, o Forza Tech, e levando ele de console novo para console novo. Temos o reforço da equipe da Playground Games (responsável por ‘Forza Horizon’). Tudo isso nos faz ter certeza de que ‘Forza 6’ é, de longe, o melhor jogo da franquia”, garantiu John Wendl.

Água mole em pedra dura

Jogos de corrida costumam ser algumas das mais impressionantes produções  que jogadores podem experimentar, especialmente na virada de gerações de consoles. Mas quanto mais o tempo passa, menor parece ser o salto de qualidade. “Forza 5”, o primeiro título da franquia para o Xbox One, já arrancava suspiros pelos gráficos ultra realistas e pela jogabilidade apurada. A evolução de “Forza 6”, ainda que principalmente pontuada por ajustes finos, é muito bem-vinda.

A aderência e o desgaste dos pneus em diferentes tipos de pista e em diferentes temperaturas - incluindo provas mais frias à noite - parece muito mais sensível. A inteligência artificial dos Drivatars, que já era louvável, se mostra ainda mais refinada. A diferença da sensação de velocidade entre os modelos de passeio, mais simples, e os monopostos mais modernos, como os carros de Fórmula 1 e Fórmula Indy, está ainda mais impressionante. Mas, mais uma vez, essas mudanças ainda são pequenas. Agora, quando o assunto é chuva, aí a coisa muda de figura.

“A chuva é algo que os jogadores têm pedido há muito tempo, e que queríamos fazer há muito tempo. Mas sabíamos também que eles queriam que fizéssemos do ‘jeito Forza’. E isso significa fazer a chuva parecer visualmente real, em 1080p e 60fps, com consequências que parecessem reais”, explicou John.

Dirigir na chuva em “Forza 6” foi dificílimo. Foram minutos e mais minutos tendo que mudar completamente o estilo de pilotagem, buscando adaptação a muitas novas variáveis. Pontos de frenagem, traçado, uso da zebra, métodos de ultrapassagem, regulagem do carro. Tudo mudou. Muito. Se parecia difícil apresentar uma novidade realmente impactante, a Turn 10 se superou com algo aparentemente - e só aparentemente - simples.

Ah, e as poças. As poças são incríveis.

"Fomos além, fazendo algo que ninguém nunca fez, que foi mapear e modelar poças d’água em diferentes circuitos. Elas se acumulam, no jogo, nos mesmos lugares, da mesma forma, com a mesma quantidade de água que as pistas do mundo real. Nurburgring, por exemplo, tem mais de 500 poças, posicionadas exatamente como na vida real”, explicou John.

A aquaplanagem causada por tentativas inábeis de atravessar as poças é hilária. Pelo menos no começo. Com o passar do tempo, os acidentes constantes e a perda total de controle do carro vão se tornando desesperadores. Mas depois de duas ou três voltas rápidas na pista molhada, passando por poças e mantendo a direção firme, já é quase seguro afirmar que Ayrton Senna e Michael Schumacher - magos do automobilismo na chuva - têm um herdeiro. Quase seguro. Bem quase.

CORRENDO NA CHUVA EM "FORZA MOTORSPORT 6"


O Rio de Janeiro continua lindo

Não deu pra começar a falar do Circuito do Rio, a pista inédita criada especialmente para “Forza 6”, sem usar o verso clichê de Gilberto Gil. O Rio de Janeiro está lindo no novo “Forza”. Tão bonito, com tantos detalhes bem pontuados, que dá até pra esquecer que é impossível passar por Botafogo, Copacaba, Rocinha, Lapa e Madureira em menos de 2 minutos de volta de carro.

John Wendl - Luiz Hygino/UOL - Luiz Hygino/UOL
Para John Wendl, diretor criativo de "Forza 6", a perfeição nunca pode ser atingida. Dito isso, o diretor afirma: "'Forza Motorsport 6' é de longe, o melhor jogo da franquia".
Imagem: Luiz Hygino/UOL
 “Tivemos uma equipe que passou uma semana na cidade, digitalizando o cenário com equipamentos de última geração. Primeiro seguimos o plano original e seus cartões-postais mais óbvios e icônicos, como Copacabana e o Cristo Redentor, mas aos poucos fomos nos apaixonando por outros cantos da cidade, pela beleza das favelas, por alguns becos que nos fizeram lembrar de Chinatown. Eram lugares que não podiam ficar de fora da pista. Então tomamos a liberdade de colocar tudo isso, os melhores lugares do Rio, na mesma pista".

 

"Mas como nem tudo fica perto, na cidade, tomamos a liberdade de mudar e aproximar muita coisa, para fazer da pista a experiência mais divertida possível. Mas tudo parece muito real, muito verdadeiro, graças ao trabalho de escaneamento a laser da cidade”, contou o diretor criativo.

A volta pelo Rio é a primeira corrida do modo carreira de “Forza 6” - e controlando o poderosíssimo e lindíssimo novo Ford GT, carro que ainda não foi lançado no mundo real - mas não é a primeira que a capital fluminense aparece na série.

"Sempre buscamos um cenário inspirador para marcar o lançamento de um novo ‘Forza’. Em ‘Forza 4’, foram os Alpes Suíços. Em ‘Forza 5’, foi Praga. E quando começamos a buscar o cenário perfeito para o novo jogo, o Rio apareceu de cara como a melhor proposta. Primeiro, por ser a Cidade Maravilhosa. Segundo, pela atual atenção que tem recebido do mundo, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, por exemplo. E terceiro, pelo décimo aniversário da série. Os fãs mais antigos vão se lembrar que o Rio já estava presente no primeiro jogo da série, no Xbox original”, lembrou John Wendl.

Fim da linha

Três horas, trinta e sete minutos, quarenta e dois segundos e oitocentos e noventa e quatro milésimos depois do início da carreira, o teste do novo “Forza” chegou ao fim. E ainda no começo do primeiro capítulo do modo, que envolve corridas com simples carros de rua (na sequência viriam ícones esportivos, carros de turismo, corridas profissionais e automobilismo supremo).

Antes que o desespero pela demora na evolução chegasse, foi possível experimentar uma série de máquinas muito mais poderosas, emprestadas, nos chamados “Showcase Events”, corridas únicas que homenageam rivalidades, épocas e circuitos específicos.

Foi tempo suficiente para perceber que a Microsoft e a Turn 10 Studios têm em mãos um produto capaz de atingir o objetivo das empresas - transformar gamers em apaixonados por automobilismo e apaixonados por automobilismo em gamers.

"Tomara que no futuro consigamos fazer um jogo melhor, mas agora é difícil tentar imaginar qualquer coisa melhor que ‘Forza 6”, finalizou John Wendl.

*O jornalista viajou a convite da Microsoft