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Narrador de "LoL" pode ganhar até R$ 10 mil, mas precisa cuidar da voz

Rodrigo Guerra

Do UOL, em São Paulo

02/10/2015 18h47

Uma das profissões que mais chama atenção nos dias de hoje são os narradores de eSports. Esses criadores de conteúdo são os responsáveis por trazer emoção para as partidas que são assistidas por milhões de pessoas no mundo todo.

Tais profissionais podem ser bem pagos e chegar a receber até R$ 10 mil por mês. Para isso eles contam com patrocinadores, narram eventos presenciais e até organizam campeonatos próprios. Mas para seguir nessa carreira é necessário pensar em diversos fatores, como estudar muito sobre os games que são comentados e até se privar de certos prazeres, como sair nos finais de semana com os amigos, para cuidar da voz.

Pedroca Narador de videogame - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Pedro "Pedroca" Beraldo, é narrador de "StarCraft II" e diz que "Narrador é uma profissão que tem que ser encarada como qualquer outra"
Imagem: Acervo Pessoal

"Tomo chá de hortelã e evito beber", disse Tácio Schaeppi, que narra partidas de "League of Legends". No caso dele, as baladas de fim de semana são em casa ao lado de amigos. "Eu não sou um cara que gosta de sair. Gosto de ficar em casa, curtindo com amigos e evitando beber".

Diego "Toboco" Pereira, também narrador de "League of Legends", fala que ele tem diversos cuidados com sua voz. "Um dia antes da transmissão (e durante os dias de transmissão) evito bebidas alcoólicas destiladas, usar muito minha voz, gritos, descanso e durmo bem e beber muita água". Esses cuidados com a voz fazem parte do trabalho de um narrador, pois essa é a ferramenta dele.

Outro cuidado importante é fazer um acompanhamento com um fonoaudiólogo. "Eu digo que virei um narrador profissional por causa da minha fono", revela "Toboco", "porque eu tive baseamento técnico para dizer que aquilo que faço é uma narração. Eu não me considerava um narrador até começar a fazer fono, pois foi com essas técnicas que descobri o que é ser um narrador de verdade".

Schaeppi Narrador de videogame - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Tácio Schaeppi, narrador de "League of Legends" diz que é preciso se aprimorar sempre "Se você quer seguir nessa carreira, tem sim que fazer fono"
Imagem: Acervo Pessoal

"Narrador é uma profissão que tem que ser encarada como qualquer outra", comenta Pedro "Pedroca" Beraldo, que narra partidas de "StarCraft II". Segundo ele, a voz do narrador é uma ferramenta que tem que ser cuidada. "O narrador tem que pensar na própria imagem, aprender a falar e tudo mais. Às vezes ele tem muito sotaque, então precisa dar uma neutralizada nisso para poder atingir as pessoas e empresas que estão interessadas em seu trabalho".

O sotaque também foi um dos pontos criticados quando Schaeppi entrou no mercado de narradores. "Sim, ainda existe muito preconceito por causa do sotaque. No início recebi muitos comentários falando mal do meu sotaque", conta.

Schaeppi veio de fora do eixo Rio-São Paulo. Natural de Salvador, Bahia, o narrador de "League of Legends" diz que fez acompanhamento fonoaudiológico para perder o sotaque, pois isso é exigido na profissão. " Fiz fono por conta própria, para perder meu sotaque e isso abriu muitas portas", conta.

"Não apenas o sotaque nordestino, que é bem forte, mas todo e qualquer sotaque será comentado pelos jogadores, seja você do nordeste, do norte e até do interior de São Paulo, que puxa bastante o 'erre'. Se você quer seguir nessa carreira, tem sim que fazer fono", conta.

Carreira ingrata

Sobreviver nessa carreira não é fácil. Diniz "Gruntar" Albieri, diversificou a cartela de jogos que narra com "League of Legends", "StarCraft II", "World of Tanks", e segundo ele, "Sou narrador de eSports, mas se precisar narrar casamentos, também entro nessa".

Gruntar Narrador de videogames - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Diniz "Gruntar" Albieri, narra todo tipo de jogo de videogame diz que não precisa ser bom "O cara tem que conhecer o jogo, as estratégias e isso, de forma geral, serve para qualquer jogo que ele quer narrar".
Imagem: Acervo Pessoal

Segundo o narrador carioca, existe muito espaço em jogos menos famosos. "Existe espaço principalmente fora de 'League of Legends'. Hoje em dia tem narrador pra caramba de 'LoL', mas nos outros jogos não têm tanto narradores. Não vou dizer que o mercado é uma beleza e que dá para ganhar dinheiro fácil, fácil. Você tem que narrar e colocar seus vídeos no YouTube para começar".

"Muita gente acha que o cara que narra tem que saber jogar, mas eu discordo um pouco disso. Acho que o cara tem que conhecer o jogo, as estratégias e isso, de forma geral, serve para qualquer jogo que ele quer narrar".

O começo de carreira não é fácil. Como deu para ver, além de cuidar bem da voz e fazer fono, você precisa se preocupar em adquirir seguidores e fazer um trabalho diferenciado – ou, simplesmente, ser a pessoa certa no lugar certo. Shaeppi, por exemplo, seguiu esse caminho.

Diego "Toboco" Pereira - Taís Vilela/UOL - Taís Vilela/UOL
Diego "Toboco" Pereira cuida da voz e faz acompanhamento fonoaudiológico "Eu digo que virei um narrador profissional por causa da minha fono"
Imagem: Taís Vilela/UOL

"Comecei meio que de paraquedas. Comecei a fazer streams por diversão na mesma época que em Salvador tinha um evento chamado Anipólitan. Lá tinha uma salinha pequena para jogos que sempre vivia lotada e estava crescendo. Notamos que tinha espaço para fazer o Gamepólitan, um evento só para games. Como chamar o Gruntar, o Toboco e o Tixinha era fora da realidade, ainda mais por ser o primeiro evento, eu disse 'deixa comigo que eu narro' e foi bem, a galera curtiu e foi assim que começou minha carreira", conta.

Toboco, por outro lado, começou narrando campeonatos de sua loja que vendia Riot Points – isso antes de "League of Legends" chegar no Brasil. "Em 20 de novembro de 2011 eu fiz uma narração de campeonato – que foi a estreia do Kami no cenário competitivo. Com a chegada da Riot no Brasil, a loja fechou, mas o narrador continuou", lembra ele.