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"Rainbow Six: Siege" é boa forma de sair da mesmice dos shooters atuais

Rodrigo Lara

Do Gamehall

08/12/2015 14h30

Quatro dos cinco membros da equipe resolveram invadir o avião tomado pelo time adversário utilizando uma entrada no mesmo piso no qual as duas bombas que precisavam ser desarmadas estavam. Contrariando a maioria, segui pelo piso superior. A decisão se mostrou correta: enquanto os inimigos concentravam fogo - e suas atenções - para onde minha equipe estava, esqueceram de um alçapão, através do qual se tornaram alvos fáceis para mim. Poucos tiros depois, todos os quatro estavam fora de combate e a rodada era nossa.

A experiência relatada acima tende a ser bastante comum para quem estiver se aventurando por "Rainbow Six: Siege", jogo de tiro da Ubisoft lançado para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Quase que totalmente focado no modo multijogador, ele busca oferecer uma ação mais cadenciada do a vista em concorrentes como a série "Call of Duty" ou ainda "Battlefield". E, ao recompensar a paciência e a criatividade dos jogadores, o game se firma como uma opção muito interessante em relação aos nomes consagrados de um segmento um tanto saturado.

Ao voltar suas atenções para as partidas multijogador, a Ubisoft deixou de lado um modo campanha. E a ausência de uma história - que poderia, por exemplo, ser jogada de maneira cooperativa, mantendo a essência do jogo - tira um pouco do brilho do título.

O ponto negativo, contudo, pode ser facilmente esquecido por quem procura um game do tipo para passar algumas horas em partidas online.

Essa proposta também eleva o potencial de "Rainbow Six: Siege" para a disputa de torneios de eSports. Tanto que há um modo chamado "Spectator Mode", no qual é possível acompanhar partidas com uma câmera que facilita compreender o que acontece na ação. Até o momento, esse modo está disponível apenas na versão para PC do jogo, devendo chegar aos consoles em 2016.

Sem espaço para heróis

Antes de se aventurar nas partidas multijogador, o ideal é que o jogador passe um tempo encarando as missões do modo "Cenários". Além de aprender mecânicas básicas de jogo, completar cada uma das dez incursões garante uma quantidade inicial razoável de "Credibilidade", uma espécie de moeda do jogo que permite desbloquear novos agentes e realizar melhorias nas armas utilizadas.

Uma vez passada essa etapa, é hora de encarar inimigos "de carne e osso". E há, basicamente, duas vertentes principais do modo multijogador: partidas competitivas entre grupos de cinco jogadores e um modo no qual um time com a mesma quantidade de pessoas enfrenta inimigos controlados pela inteligência artificial do jogo, chamado "Caça-Terrorista". Nesse último caso, é possível - porém não recomendável - encarar os adversários sozinho, o que aumenta, e muito, o nível de dificuldade.

Cada modo principal tem, basicamente, três variantes: proteger ou desativar bombas, guardar ou destruir um contêiner com material biológico e resgatar ou manter um refém. Nas partidas competitivas, os times de jogadores se alternam entre ataque e defesa. Já contra a inteligência artificial, proteger um objetivo significa enfrentar ondas de inimigos, ao passo que atacar (ou extrair um refém, por exemplo) envolve o confronto com terroristas espalhados por todo o cenário.

No ataque contra a inteligência artificial, é recomendável invadir os ambientes andando em grupo, o que facilita a ação e evita ser surpreendido. Já quando os inimigos são outros jogadores, o trabalho em equipe é fundamental, seja distraindo a atenção dos adversários, para que outros companheiros possam flanquear as posições inimigas, ou então guardando a retaguarda de um companheiro de time. Uma vez na defesa, é possível construir barricadas, reforçar paredes, plantar explosivos ou armadilhas para barrar o avanço da equipe rival. 

Nesse último modo, toda partida segue o mesmo ritual: cada rodada tem 45 segundos de preparação, quando os atacantes usam drones para marcar inimigos e achar o objetivo e os defensores reforçam suas posições, e quatro minutos de ação. A primeira equipe que conquistar três rodadas é declarada vencedora do embate. Vale lembrar que o fogo amigo está sempre ativado e, portanto, ações coordenadas para evitar mortes bobas é fundamental.

Cada um no seu quadrado

Enquanto na maioria dos jogos de tiro competitivo ser um "camper" - apelido para definir jogadores que ficam escondidos e esperam algum oponente dar mole -  é um comportamento que os jogadores tendem a recriminar, achar um bom lugar para se esconder ou um canto que permita ter uma visão dos inimigos sem ficar vulnerável é regra. Para isso, os jogadores contam com um sistema de cobertura que inclina a arma (no caso dos consoles, basta pressionar os direcionais analógicos direito ou esquerdo, na direção desejada), algo muito útil em um jogo no qual a letalidade de um tiro lembra os modos "hardcore" dos shooters padrão.

Como dito anteriormente, os pontos de "Credibilidade" servem para abrir os agentes. E aí tudo começa a ficar interessante: são dez personagens de ataque e dez de defesa, cada um filiado a uma das cinco forças táticas do jogo, que fazem referência a esquadrões especiais do mundo real, como a Swat norte-americana, a SAS inglesa ou a Spetsnaz russa. Cada um dos agentes tem características e equipamentos próprios.

Dominar ao menos quatro dessas classes é um passo importante para se dar bem no jogo. Isso torna o jogador flexível, já que não é possível ter mais um personagem de cada tipo no time, além de garantir um time equilibrado, capaz de lidar com cada tipo de situação com a maior eficiência possível. O fato de dar ênfase ao jogo de equipe e trabalhar como "especializações" acaba por nivelar as partidas: um jogador bastante habilidoso não irá carregar seu time nas costas, mas será letal se souber trabalhar em grupo.

Excelência técnica

A experiência profunda e divertida poderia ficar totalmente de lado se a parte técnica do game não colaborasse. Felizmente não é o que acontece em "Rainbow Six: Siege". O jogo tem grande apuro visual, o que é visto nos efeitos de tiros e explosões e na construção dos cenários e personagens. E por falar neles, os mapas oferecem uma grande variedade de abordagens para os jogadores, premiando métodos de jogo criativos e o improviso. 

A jogabilidade também é ponto fundamental. Nesse ponto, os controles precisos do game da Ubisoft ajudam e muito na diversão e não devem receber críticas dos jogadores. Desde o lançamento do game, os servidores têm funcionado da maneira correta, ao contrário do ocorrido na última fase beta, que precisou ser adiada por problemas de conexão. No caso dos brasileiros, o fato da Ubisoft dispor de um centro de dados no país ajuda a reduzir a latência das conexões. Em suma: dificilmente ocorrerão lags ou aquela sensação de que você foi morto só porque o adversário possuía uma conexão melhor. E o fato do game ter menus e dublagem em português ajuda ainda mais no quesito imersão.

No final das contas, "Rainbow Six: Siege" é uma ótima forma de quebrar a rotina e ter uma experiência diferente da oferecida pelos jogos de tiro atuais. A parte complicada é convencer aqueles jogadores que prezam por uma boa história a comprarem o jogo. Nesse ponto, o game da Ubisoft deixa - e muito - a desejar, uma vez que ele é inspirado no rico universo do escritor Tom Clancy. Ou seja, a falta de uma boa trama não é desculpa para essa ausência de um modo do tipo. Já para aqueles que prezam mais as partidas on-line, o tiro é mais certeiro: "Rainbow Six: Siege" é capaz de oferecer uma experiência variada por muito tempo, desde que o título conquiste jogadores fiéis que mantenham seus servidores com uma boa população.