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Pagando até R$ 1.000 por carta, fãs levam os 'card games' muito a sério

Card do Charizard é um dos mais cobiçados de "Pokémon", e chega a ser vendido por mais de R$ 1.000 - Reprodução
Card do Charizard é um dos mais cobiçados de "Pokémon", e chega a ser vendido por mais de R$ 1.000 Imagem: Reprodução

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

25/01/2016 11h34

Após meses economizando, o estudante Cauã Proença, 23, finalmente colocou as mãos em um Charizard quase intacto, parte da primeira edição da coleção básica do 'card game' de "Pokémon". A carta custou R$ 1.000. "Tive muita sorte em achar por esse preço", comemora.

Para Cauã, ter uma das cartas mais desejadas do hobby é sinal de prestígio. "A maioria das pessoas acha que gastar tanto dinheiro em um pedaço de papel é um desperdício. Mas, para um colecionador, ter uma carta rara assim é o mais importante", diz.

Lançado originalmente em 1996, o 'card game' de "Pokémon" tornou-se febre ao lado dos videogames e desenhos da série, mas persiste até hoje por conta dos jogadores e colecionadores que investem boa parte de suas economias nas novas coleções lançadas a cada três meses. No total, já existem mais de 5 mil cartas diferentes.

No Brasil, a Copag é a responsável pela distribuição do jogo em português.

Dono de uma coleção de mais de 2 mil cartas "Pokémon" de várias partes do mundo, Cauã admite que é um "caso extremo" de colecionador. "Faço parte de um grupo de colecionadores, e sou um dos mais dedicados de lá. Poucos gastariam o que gastei no Charizard, mas cada um coleciona no seu próprio ritmo. Isso é uma das coisas legais desse hobby", explica.

Cards Pokémon 1 - Reprodução - Reprodução
Por mais que as cartas sejam pequenas, coleções inteiras ocupam bastante espaço
Imagem: Reprodução

Para dedicar todas as suas energias ao hobby de colecionador, Cauã abriu mão de outros passatempos: "Quando comecei de verdade, a primeira coisa que fiz foi me desfazer de todos os meus videogames e bonecos. Hoje, só jogo de vez em quando no computador ou no celular. Não sou rico. Praticamente todo o dinheiro que sobra eu invisto em cartas".

O Charizard que Cauã considera seu maior tesouro é considerada uma das cartas mais raras do jogo. Em sites de leilão, cópias da primeira edição da carta avaliadas como PSA 10 - "em perfeito estado" - já foram vendidas por mais de US$ 1,5 mil. Mas esse é um exemplo extremo.

Cartas "Pokémon" consideradas comuns são vendidas na faixa de R$ 5 a 10 individualmente, e pacotes com cinco cartas sortidas custam R$ 6.

Cards Magic 1 - Reprodução - Reprodução
Sites feitos por fãs listam os valores de cartas como uma bolsa faria com ações
Imagem: Reprodução

Gastar um bom dinheiro com cartas também faz parte da rotina de Pedro Zorgetto, 34, mas ele não se considera um colecionador.

"Compro as cartas que preciso para montar meus baralhos, mas também vendo aquelas que ficam ultrapassadas ou não me servem mais", afirma.

O jogo favorito de Pedro é outro: "Magic: The Gathering". Ainda mais antiga que o 'card game' de "Pokémon", a série é considerada a maior do estilo, e desde 1993 movimenta torneios e ligas de competidores aficionados."

Cartas - Reprodução - Reprodução
Além de pagar pelas cartas, colecionadores também gastam centenas de reais protegendo-as. "Uma carta com riscos ou manchas perde muito valor", explica Cauã. 'Sleeves' e pastas de plástico com os tamanhos certos para cada tipo de carta são vendidos em lojas especializadas.
Imagem: Reprodução

"Algumas pessoas gostam de colecionar as cartas, guardar todas em pastas para admirar. Mas 'Magic' é um jogo acima de tudo", explica Pedro. "Para mim, a graça está em montar o melhor baralho possível e testar estratégias".

Tanto "Pokémon" quanto "Magic" são jogados em turnos. Apesar de terem regras bem distintas, eles têm os mesmos princípios: jogadores sacam cartas de sua mão e as ativam na mesa para uma variedade de efeitos. No final, vence quem acabar com os pontos de vida do adversário.

O preço mais alto que Pedro já pagou em uma carta foi R$ 100, ele conta. "Há muito de economia em 'Magic'. Os preços sobem e descem a cada novo torneio importante, e tem até gente que faz muito dinheiro 'especulando'. A pessoa tenta adivinhar qual carta vai ser cobiçada na nova temporada e compra um monte, para depois revender".

Pedro separa R$ 200 mensalmente para investir em novas cartas. Vende as que não precisa, e com este dinheiro compra outras para melhorar suas estratégias. "É preciso tomar cuidado com o dinheiro, porque é muito fácil se distrair e acabar gastando mais do que você pode", admite. "Mas acho que qualquer hobby é assim".