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Simples demais, combate de "The Division" ofusca ambientação envolvente

CONHEÇA A DARK ZONE DE "THE DIVISION"; TRAILER LEGENDADO

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Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

02/02/2016 15h35

Ambientado em uma Nova York devastada por uma epidemia misteriosa, "The Division" é um jogo de tiro online com uma trama militar contemporânea. O game da Ubisoft (de "Assassin's Creed", "Rainbow Six" e "Watch Dogs") pode ser um dos melhores jogos de 2016 - mas só se sua versão final oferecer mais profundidade e variedade de ação do que o que foi mostrado no teste beta que chegou ao final hoje (2).

O jogo, que sai em março para PC, PlayStation 4 e Xbox One, já foi bastante criticado pelos gráficos que não são tão bonitos e impressionantes quanto nos primeiros vídeos de divulgação, nem mesmo jogando num computador com as configurações mais pesadas ativadas. Ainda assim, o cenário é muito bem feito e impressiona pela quantidade de detalhes, como o lixo espalhado pelas ruas e becos de Nova York quanto pela vida nessa cidade fantasma.

A base militar que é, literalmente, o quartel general dos jogadores, é cheia de habitantes, desde soldados e médicos até refugiados, desabrigados doentes que vagam pelas ruas e ocasionalmente, por gangues que aparecem na vizinhança para saquear e arrumar confusão. Pelas ruas perambulam também animais, como cachorros e ratos - que não desaparecem quando o jogador se vira para o outro lado! Se quiser, você pode seguir um ratinho por várias quadras até ele se enfiar num buraco numa parede.

The Division - Divulgação - Divulgação
"The Division" coloca grupos de 4 jogadores para recuperar o controle de Nova York após epidemia misteriosa devastar a cidade norte-americana
Imagem: Divulgação

Isso também mostra que não há tanta coisa para se fazer na amostra de "The Division" que foi liberada para os jogadores que já compraram o game (ou para quem ficou na fila de espera durante todo o fim de semana). Após umas poucas missões (duas delas ligadas à história do jogo e outras geradas de encontros aleatórios), resta vagar pelas ruas ou se aventurar na "Dark Zone", parte do game que tem sido vendida como seu grande diferencial.

Voltaremos à "Dark Zone" em alguns instantes. Antes, vamos ao combate!

Combate simples demais

Assim como "Destiny", da Bungie, "The Division" combina elementos de tiroteio e RPG online, mas com muito mais foco nesse tipo de jogo do que nos shooters. O resultado é um sistema de combate mais simples e menos dependente da habilidade individual do jogador do que das estatísticas dos personagens.

Você luta contra seus inimigos usando uma boa variedade de armas. O agente controlado pelo jogador carrega sempre duas armas principais e uma arma secundária. É possível alternar entre as armas com o toque de um botão. O arsenal pode ser modificado com diversos equipamentos ganhos durante o jogo, como miras melhores, empunhaduras e pentes com maior capacidade de balas, por exemplo.

Porém, na hora do tiroteio, "The Division" lembra muito mais um RPG online do que um shooter. "Destiny" e "Borderlands" seguem uma linha parecida com o que é visto aqui, mas a sensação de atirar no adversário e a satisfação de executar um "headshot" certeiro não estão presentes no jogo da Ubisoft. Você arranca mais pontos do alvo quando acerta um tiro na cabeça, mas não tem a sensação de ter feito tanta diferença - ao menos nos níveis mais baixos do personagem.

O combate corpo-a-corpo é uma piada: você tem um único golpe, uma espécie de coronhada que dá um "chega pra lá" nos inimigos mais próximos. A sensação de impacto é fraquíssima. Era de se esperar movimentos mais brutais quando você controla um soldado numa situação de combate mortal - algo como os assassinatos de "Halo" ou as execuções furtivas de "The Last of Us", por exemplo.

Os inimigos mesmo não são lá muito inteligentes, com exceção dos chefes (como o atirador da missão no hospital, que sabe se posicionar e 'caçar' o jogador no telhado, esperando pelas melhores oportunidades para atacar). Inimigos comuns saem de trás da cobertura sem motivo aparente, param no meio da rua e esperam para levar tiros. Outros correm para cima dos jogadores empunhando tacos de beisebol contra os tiros de fuzil.

O sistema de movimentação usando a cobertura é um dos pontos altos do combate: você pressiona um botão para "colar" o agente no muro ou parede e aponta na direção da próxima cobertura. Ao segurar o botão, o agente segue para lá automaticamente - o movimento pode ser facilmente interrompido caso um inimigo apareça por ali. Isso torna as coisas mais ágeis e dá um certo ar estratégico para o tiroteio, com os jogadores procurando melhores posições para flanquear os inimigos ou escapar do fogo supressor deles.

A interface do jogo, infelizmente, passa uma sensação de "amadorismo" para os jogadores. Você é um agente super treinado, solto numa área hostil, certo? Então não deveria precisar ser lembrado constantemente onde estão as coberturas possíveis, qual botão apertar e em qual direção seguir. O excesso de informação na tela é um mal presente em toda a estrutura de "The Division", com setas, menus e informações saltando aos olhos constantemente.

A intenção da Ubisoft é emular um sistema de realidade aumentada, o que soa bem futurista e combina com a ambientação do jogo. Mas é algo que poderia ser ativado apenas quando o jogador precisasse e não uma "ajuda" ininterrupta que no fim, serve apenas para poluir a tela e atua como distração de um dos melhores aspectos do game, os cenários super detalhados da Nova York sitiada.

The Division - Reprodução - Reprodução
Em "The Division" o clima é dinâmico, ou seja, você tem estações do ano e efeitos como neve, chuva e neblina
Imagem: Reprodução

Zona de ninguém

Um dos pontos altos do jogo e principal área de testes do beta de "The Division", a Dark Zone é uma parte do mapa onde as comunicações não funcionam direito. Habitada por inimigos mais fortes do que os encontrados nas áreas abertas, a Dark Zone rende recompensas melhores ao jogador - a ideia é que você e seus companheiros entrem lá, eliminem os oponentes e consigam equipamentos melhores, que precisam ser extraídos de helicóptero. Legal! Só que ao fazer isso, você fica marcado para todos nas proximidades e vira o alvo dos outros jogadores.

Invariavelmente, a extração das recompensas da Dark Zone vai terminar em tiroteio entre os jogadores. Isso é bem divertido, já que outros jogadores costumam ser mais espertos do que a Inteligência Artificial, bolando estratégias menos previsíveis e todo tipo de coisa. Porém, ao menos pelo que foi mostrado no teste beta, parece ser a única coisa para se fazer por lá.

Deixar a responsabilidade da diversão nas mãos dos jogadores é um plano arriscado: seu jogo pode acabar apinhado de "player killers" e isso tira toda a graça da brincadeira para o público mais casual. Não vai demorar até que as recompensas por se aventurar na Dark Zone deixem de ser atraentes quando você pensa na chateação de morrer para jogadores desocupados de nível mais alto.

Ambientação promissora

Apesar de parecer um tanto raso num primeiro contato, "The Division" pode ser um jogo bastante envolvente, principalmente pela ambientação: a temática militar e o cenário atual - até mesmo o "apocalipse" mostrado no jogo - são situações críveis, bem possíveis de acontecer. Os personagens com quem você conversa são interessantes e há várias perguntas que a campanha deve responder, sobre o vírus e quem são os verdadeiros inimigos dos jogadores, por exemplo.

"The Division" faz parte da linha "Tom Clancy" da Ubisoft e tem potencial para entregar um bom enredo - coisa que faltou em "Destiny", principal concorrente do jogo. Fica a dúvida se a produtora vai conseguir aprimorar o sistema de combate até o lançamento, marcado para 8 de março nas plataformas PC, PlayStation 4 e Xbox One.