Brasileiros transformam o hobby do podcast em negócio lucrativo

Um grupo conversa sobre as polêmicas da semana, passa pela crise política, lembra os jogos mais legais que chegarão nesse ano e os filmes mais impressionantes de Steven Spielberg. Qualquer um consegue imaginar que esse papo possa ter como local uma mesa de bar, mas na verdade é um podcast que está sendo gravado e é o trabalho de muitos produtores de conteúdo no Brasil e no mundo.

UOL Jogos conversou com Alexandre Ottoni, Jurandir Filho e Carlos Merigo que são considerados referência no mundo do podcast e descobriu que eles entraram nesse mundo primeiro como um hobby . Você pode ouví-los falando sobre essa trajetória no Playground, o podcast de UOL Jogos, que está tocando logo acima ou baixando aqui.

"No início era um hobby. Mas quando a gente começou a se profissionalizar, foi mais ou menos em 2005, ainda permanecemos anos e anos com cada um em seu emprego e no segundo e terceiro turno [cuidando] do Jovem Nerd", diz Alottoni.

Conversas com conteúdo

O podcast surgiu em meados dos anos 2000 no e é um termo cunhado pelo jornal The Guardian, que uniu as palavras “iPod” com “broadcast” (transmissão, em inglês) para definir o conteúdo de áudio que é distribuído pela internet. É como se fosse um programa de rádio, mas que pode ser baixado em seu celular, tablet ou computador - e assim você pode ouvir na hora e no lugar que quiser.

E é isso o que Ottoni, Jurandir e Merigo têm em comum. Eles vivem disso e gravam suas conversas carregadas em opiniões e informações que, mais tarde, são ouvidas uma legião de pessoas. Eles são criadores de conteúdo, mas também são conhecidos como 'podcasters'.

Carlos Merigo comanda o Braincast, o podcast do B9.com.br, site que fala sobre criatividade e inovação e é um portal que tem 10 programas que falam desde as polêmicas da semana, videogames, séries  e histórias de pessoas.

Jurandir Filho é líder do Rapadura Cast, o podcast do site Cinema com Rapadura, um dos principais portais sobre a sétima arte. Ele também comanda o 99 Vidas, que fala sobre games antigos e nostalgia e Canal 42, dedicado a séries de TV.

Já Alottoni, ao lado de Deive Pazos, comanda o Nerdcast, considerado o maior podcast do Brasil, com mais de 2 milhões de ouvintes em média para cada episódio que vai ao ar todas as sextas-feiras.

Eles são influenciadores e comunicólogos, informando e divertindo pessoas do Brasil inteiro – e também de outros países – tudo isso através dos seus sites e do podcast.

O site Cinema com Rapadura, do Jurandir, começou como um trabalho de faculdade que mais tarde acabou se tornando sua principal fonte de renda. Seu podcast nasceu nas reuniões de pauta, que era feita por conferência online.

"Essas reuniões duravam duas horas, mas só que em meia hora a gente conversava sobre o site e uma hora e meia era sobre cinema. Essas conversas eram muito engraçadas e a gente se divertia muito fazendo isso. Então um dos participantes falou assim: 'cara, por que que a gente não grava isso?'", e essas conversas acabaram se transformando no Rapadura Cast.

Já o B9, de Merigo, acabou se tornando uma referência para os criativos das agencias de publicidade e o Braincast foi inspirado no podcast do Jovem Nerd. "Era 2005, 2006 mais ou menos e, assim como quase todo mundo no Brasil a gente conheceu o podcast através do Nerdcast, a grande referência na época – e até hoje é. E aí eu tive a ideia de fazer a mesma coisa, só que baseada em comunicação. Vou juntar meus amigos em volta de uma mesa e conversar sobre esses temas e falar para o mercado de comunicação o que a gente pensa e nossas opiniões".

A inspiração para criar o Nerdcast surgiu de uma leitora dos fóruns do Jovem Nerd. "Em 2006 tinha uma leitora do nosso site que participava do nosso fórum que foi morar na China durante um tempo e ele começou a gravar podcasts curtinhos sobre alguma curiosidade de morar lá. Eu lembro que a cada semana eu ia lá querendo saber 'onde é que tá o episódio novo?'", conta Ottoni.

O programa Manhattan Connection também serviu de inspiração para o Nerdcast "E se existisse o Manhattan Connection nerd? Pra gente discutir sobre Batman, Super-Homem e aí pensei em a gente fazer um formato parecido de debates. Tanto que os primeiros episódios do Nerdcast se chamam Nerdconnection", relembra Ottoni.

Podcast como negócio

De acordo com o instituto Edison Research, estima-se que existam mais de 90 mil podcasts ativos na iTunes Store – o maior repositório de podcasts no mundo. Se forem contabilizados os programas que deixaram de ser atualizados, esse número passa dos 300 mil. Ainda de acordo com a pesquisa, já são mais de 3 bilhões de episódios disponíveis para serem baixados.  

Chegar ao top 100 da loja é uma vitrine e tanto para um podcaster. Isso dá visibilidade para o programa e aumenta o seu alcance – e isso é usado pelos apresentadores. Como uma ferramenta de publicidade.

Antes de começar a ganhar dinheiro com essa ferramenta é necessário ter muita dedicação. Jurandir diz que levou "Quatro anos depois do lançamento do site", para ganhar dinheiro com publicidade. "Eu percebi que o site era muito visitado e que as pessoas têm interesse em acompanhar as novidades. [...] Aí eu acabei criando um mídia kit, criei a empresa Cinema com Rapadura e aí foi gradativamente que o site acabou se tornando rentável".

Não adianta apostar todas as fichas em um único negócio. Segundo Merigo o sucesso é diversificar o conteúdo. "Não dá pra viver só de podcast. Acho que como tudo no Brasil, quem trabalha com conteúdo não dá para viver de uma coisa só. O Braincast existe dentro do B9, que é um site que já existia há algum tempo. Tem que diversificar e o podcast já é uma maneira de diversificar esse conteúdo.

O Jovem Nerd é exemplo disso e hoje a empresa tem três podcasts, sendo que dois deles são patrocinados, tem um canal no YouTube com mais de 1,5 milhão de assinantes e a loja Nerdstore, que vende produtos e camisetas dedicadas ao mundo da cultura pop.

Para todos eles a lição para quem quer produzir um podcast é ser autêntico e se divertir com a produção do conteúdo. Jurandir explica o sucesso do Rapadura Cast dizendo "O que diferencia muito o Rapaduracast em relação aos outros é que a gente ama falar de cinema. Então a forma apaixonada que a gente fala sobre os filmes, transparece para o público e a nossa formula é essa".

Alottoni diz que ser pontual, não esmorecer é essencial para viver nesse mercado, mas acima de tudo, levar o trabalho a sério "A gente já começou o podcast com o mindset de se profissionalizar. De fazê-lo um conteúdo de excelente qualidade e que gerasse retorno". Ele diz que levou mais ou menos um ano para o programa dar retorno. Hoje ele e os outros entrevistados dessa reportagem são provas vivas que esse esforço valeu a pena.

Você pode baixar essa reportagem e ouvir na hora que quiser, pois UOL Jogos também tem um podcast, o Playground. No programa você ouve mais trechos e dados e ouve Merigo, Jurandir e Alottoni falarem de suas origens e experiências.

Você pode baixar o arquivo clicando aqui.

Desce pro Play!

O Playground é um podcast da equipe de UOL Jogos. Nele a redação discute de games retrô aos mais atuais, além disso, falamos sobre os filmes, quadrinhos e tudo aquilo que envolver a mídia.

Dessa forma, você recebe o arquivo de graça toda vez que existir uma atualização e ouve quando quiser.

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