Topo

Pro players brasileiros encontram dificuldades para tirar visto americano

Conquistar a vaga para um torneio internacional não é o único desafio no Brasil... - Polícia Federal
Conquistar a vaga para um torneio internacional não é o único desafio no Brasil... Imagem: Polícia Federal

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

05/04/2016 11h00

Após se classificar para a FIFA Interactive World Cup, o campeonato mundial de "FIFA 16", em março, Allan Castello estava pronto para ir à Nova York e tentar a disputa da taça. Só faltava a autorização para entrar em território norte-americano, e foi aí que o carioca de 25 anos se deparou com um obstáculo que vem afetando alguns pro players brasileiros: teve o visto para os EUA negado.

“Fiquei muito triste, [foi] uma oportunidade grande jogada fora”, lamenta Allan. “Vivo realmente dos torneios e competições e era uma chance de ouro para mudar a minha vida. Qualquer jogador seja lá qual de qual gênero ou esporte, quer disputar um Mundial e luta por isso sempre”, completa.

Allan Castello - FIFA - FIWC - Divulgação - Divulgação
Há mais de um ano, Allan vive como jogador profissional de "FIFA"
Imagem: Divulgação

O pro player caiu naquele que costuma ser o principal motivo por trás da recusa aos vistos de pro players: não demonstrar vínculos fortes com o Brasil.

Nem mesmo apresentar carta-convite da organização do evento costuma aliviar a barra do requerente.

Foi o que aconteceu com a equipe de “Counter-Strike” Operation Kino, que não pôde participar do torneio Americas Minor Championship 2016, nos EUA, quando apenas um dos jogadores do time teve o visto americano aprovado.

“Estávamos com as passagens compradas pelo evento, cartas assinadas e reconhecidas pelos organizadores e contratos entre Operation Kino e pro players devidamente assinados”, conta Marçal "xau" Abelha, gerente da equipe.

Gabriel "biel" Ramos, único jogador da Operation Kino que conseguiu o visto, era também o único que, na ocasião, cursava uma faculdade. “Os demais não estavam ‘trabalhando’ no momento e nem possuíam vínculos com escolas ou universidades”, conta Marçal. “A alegação do consulado foi que não havia vínculos suficientes no Brasil para garantir que eles fossem voltar.

Segundo a Embaixada dos Estados Unidos, aspectos como posses, emprego, relações sociais e familiares estão entre aqueles que ajudam a compor o vínculo entre o requerente e o país de residência.

Porém, aparentemente o eSport ainda não é visto pelo Consulado dos EUA como uma atividade profissional. Tanto que o UOL Jogos ouviu de ao menos duas grandes equipes do país, que por motivos óbvios pediram para não ser identificadas, que orientam seus pro players a omitirem suas atividades profissionais quando fazem entrevista para o visto americano. “Falamos para [o pro player] pedir o visto de turista”, explica o gerente de uma das equipes.

Keoma, jogador de Street Fighter IV - Rodrigo Guerra/UOL - Rodrigo Guerra/UOL
Keoma Pacheco, conseguiu garantir uma vaga para a final mundial do Capcom Pro Tour, o principal campeonato de "Ultra Street Fighter IV"
Imagem: Rodrigo Guerra/UOL

A história do gaúcho Keoma Pacheco, ao menos, teve um final mais feliz: ele chegou a ter o visto negado uma vez, ficando impedido de disputar a o EVO, maior campeonato de games de luta do mundo, no ano passado.

Meses depois, após vencer o campeonato de "Ultra Street Fighter IV" no Brasil Game Show, tentou de novo e, aí sim, conseguiu autorização para entrar em solo americano, onde fez bonito na Capcom Cup, conquistando o 7º lugar.

“Apesar de mostrar a informação que comprova minhas intenções, vínculos e até mesmo uma carta-convite da organização do torneio, caí [na primeira tentativa] por não apresentar vínculos fortes com o país. Um dos principais fatores na minha opinião foi o nervosismo na hora da entrevista”, diz Keoma.

Outro lado

Em 2013, Nick Allen, que na época trabalhava como gerente de eSports da Riot, de "League of Legends" disse que o governo norte-americano enfim passaria a reconhecer atletas de eSport como atletas profissionais, o que facilitaria na emissão de vistos. Contudo, parece que a coisa não transcorreu bem assim.

Procurado pelo UOL Jogos, o Consulado Geral dos EUA em São Paulo emitiu o seguinte comunicado:

Todas as solicitações de vistos de categoria não-imigrante são analisadas individualmente, sujeitas aos requisitos da Lei de Imigração dos Estados Unidos. As solicitações de vistos poderão ser recusadas se o candidato for considerado inelegível perante as disposições legais da Lei de Imigração e Nacionalidade.

O solicitante de um visto de categoria não-imigrante não é questionado se é apto ou não para ter o visto aprovado. Quando um solicitante requer um visto, a autoridade consular analisa a documentação apresentada e determina a sua aprovação, com base na lei dos Estados Unidos.