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Após quase uma década, "Mirror's Edge" volta maior e melhor em "Catalyst"

Victor Ferreira

Do UOL, em São Francisco*

14/04/2016 13h00

Em 2008, após ganhar fama e prestígio com a série “Battlefield”, a produtora DICE lançou um título significativamente diferente. Tratava-se de “Mirror’s Edge”, um jogo de ação em primeira pessoa com menos foco nas mecânicas de tiro e mais na movimentação, inspirada pelas técnicas de “parkour”.

Embora tenha recebido críticas em geral positivas, “Mirror’s Edge” acabou não sendo o sucesso comercial que a DICE ou a EA esperavam. Ainda assim, o jogo acabou se tornando relativamente influente, inspirando mecânicas em “Dishonored” e “Dying Light”, e chegou a ganhar uma base de fãs respeitável, que esperou ansiosamente pelo retorno da heroína Faith Connors.

E finalmente, após 8 anos, jogadores terão uma nova chance de explorar os telhados de arranha-céus da chamada “City of Glass”, agora em um mundo aberto e com um sistema de combate que aboliu completamente armas de fogo.

A convite da Electronic Arts, UOL Jogos teve chance de testar as primeiras horas de seu grande título para a primeira metade deste ano.

Mirror's Edge - Faith - Divulgação - Divulgação
"Mirror's Edge Catalyst" explora mais sobre a vida de Faith Connors e sua família
Imagem: Divulgação

Vida nova

“Mirror’s Edge Catalyst” é definido pela DICE como um “renascimento” da série, retrabalhando diversos elementos presentes - mas não muito explorados - no game original.

Desta vez, por exemplo, o jogo deve dar foco maior à narrativa, explorando de forma mais profunda as origens e personalidade de Faith, assim como o mundo e as diferentes facções que habitam a chamada “City of Glass”.

“Pegamos os melhores elementos do original e tentamos expandi-los para uma nova geração de jogadores”, explicou o diretor de áudio, James Slavin. “Então temos uma nova cidade baseada nisso, uma nova Faith baseada nisso. Então não é um prólogo ou uma sequência, mas um novo começo”.

A história de “Catalyst” começa com Faith sendo libertada após dois anos presa sob uma identidade falsa. Não que ela aproveite a liberdade para relaxar: em menos de dois quarteirões ela já se reúne com sua antiga gangue, os Runners, e passa a ser caçada novamente pelas forças policiais da cidade, comandadas pelo vilão Gabriel Kruger - que tem um passado com a família Connors.

A fuga serve de tutorial para familiarizar (ou relembrar) o jogador com os controles e movimentação de Faith, e como em seu predecessor, há uma sensação de conquista ao atravessar o terreno utilizando todas as técnicas de “parkour” da heroína perfeitamente - assim como frustração ao falhar em passar por um obstáculo incorretamente.

O mais importante, porém, é que este tutorial também põe em prática a maior mudança de “Catalyst” em relação ao original: o novo sistema de combate, em que Faith não utiliza armas de fogo.

O primeiro jogo já tentava desencorajar o jogador de depender das armas de inimigos, mas agora a DICE implementou um novo repertório de movimentos para Faith que, além de dar golpes mais efetivos ao interagir com o ambiente (pulando de estruturas ou usando paredes como apoio), também pode usar o posicionamento dos inimigos a seu favor, jogando-os uns contra os outros com um chute bem dado, ou desnorteando-os ao jogá-los contra algum objeto.

“Esta nova Faith não precisa de armas, porque ela é a arma”, explicou Slavin.

De fato, uma da coisas mais divertidas de se fazer durante a demo foi tentar pensar taticamente em cada luta, procurando ver qual era o golpe mais efetivo contra determinados tipos de soldado.

Infelizmente, o outro lado é que os inimigos não parecem ser tão inteligentes, e apesar de o jogo indicar isso, não os vi se adaptando aos golpes.

Mirror's Edge - Runner Vision - Divulgação - Divulgação
O visual emblemático de "Mirror's Edge" se mantém em "Catalyst"
Imagem: Divulgação

No topo do mundo

Uma das maiores críticas feitas ao primeiro “Mirror’s Edge” era sua curta duração e ambientação limitada. “Catalyst” procura corrigir isso, trazendo um mundo aberto e diversas atividades diferentes para jogadores.

A estética elogiada do game original se mantém, com ambientes brancos e espelhados pontuados por cores chamativas - em especial o vermelho, que indica o caminho “correto” por meio da chamada “Runner Vision”.

Agora, porém, o jogador tem liberdade para conhecer melhor a “City of Glass”, explorando diversos caminhos mostrados no mapa (ou não). Com isso, a DICE também modificou levemente a “Runner Vision”, adicionando algumas setas flutuantes para indicar a direção a ser seguida - embora seja possível alterar para o visual “clássico” ou desativá-la por completo.

Ao explorar o ambiente, é possível encontrar uma série de atividades diferentes, desde colecionar objetos, que dão mais detalhes sobre a vida na sociedade corporativista da cidade, até cumprir contratos de Runners, entregando diversos documentos e objetos de valor em pontos ou para pessoas específicas no mapa o mais rapidamente possível.

Estas atividades rendem experiência, que é capaz de liberar novas habilidades para Faith, como rolar durante uma queda alta ou dar golpes mais efetivos em certos tipos de inimigo.

A EA também encorajou a competição entre jogadores, criando percursos que devem ser completados o mais rápido possível, em geral utilizando caminhos alternativos aos indicados pelo jogo. Cada corrida é avaliada pelo jogo, e seu nome entra no placar de lideranças, podendo ser superado a qualquer momento por outras pessoas.

Quem for mais criativo também pode criar seus próprios percursos para compartilhar com o público.

Esta variedade, porém, traz muito da ideia do “fazer por fazer” presente em essencialmente todos os jogos de mundo aberto, já que sabotar e coletar certos objetos não parecem influenciar significativamente nada dentro do universo do jogo.

Além disso, o lado negativo da estética visual de “Mirror’s Edge” é que tudo acaba se misturando um pouco, e é difícil memorizar certos caminhos e pontos de referência. E embora seja divertido atravessar os telhados usando parkour, ir de um ponto a outro distante do mapa pode ser uma atividade cansativa para o jogador.

Still Alive

No geral, apesar de alguns tropeços, “Mirror’s Edge Catalyst” parece evoluir de forma boa o que já estava presente no original.

A sequência traz uma série de expansões e mudanças, mas mantém a essência do que tornou o game original tão adorado por seus fãs.

O foco na história e na personagem de Faith também traz grande potencial - embora seja um tanto irônico para uma companhia tão monolítica quanto a EA ser publisher de um game com uma mensagem anti-corporativista.

A maior pergunta, porém, é se o jogo conseguirá encontrar sucesso em um mês tão recheado de lançamentos, incluindo “Uncharted 4” e “Overwatch”.

“Mirror’s Edge Catalyst” sai em 24 de maio para PC, PS4 e Xbox One. O game terá um beta fechado entre os dias 22 e 26 de abril.

A EA não informou se o jogo terá dublagem em português, mas a página do game no Origin mostra suporte para a língua, o que indica ao menos legendas e menus traduzidos.

*O jornalista viajou à convite da Electronic Arts