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Videogame é futebol? Vale a pena torcer por jogos exclusivos de um console?

Os games exclusivos são as principais armas dos consoles na busca de novos jogadores - Arte/UOL
Os games exclusivos são as principais armas dos consoles na busca de novos jogadores Imagem: Arte/UOL

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

30/05/2016 15h04

Sega ou Nintendo? PlayStation ou Xbox? PC ou console? É comum os fãs de games adotarem uma marca ou plataforma e defenderem seus jogos favoritos com unhas e dentes. As principais armas da eterna "guerra dos consoles" são os jogos exclusivos de cada lado, como "Halo" (Xbox) ou "Uncharted" (PlayStation). Com a proximidade da E3, maior feira de games do mundo, os ânimos da torcida vão ficando mais acirrados, como em uma disputada final de campeonato de futebol.

Lá na E3, as fabricantes mostrarão os mais novos jogos exclusivos, na esperança de trazer mais jogadores para seus consoles e a torcida vai delirar com cada grande anúncio. Mesmo que a tal exclusividade seja temporária ou mesmo que o game tenha uma versão para PC, desde que não esteja disponível para o videogame da concorrência. O que importa, para esses fãs mais exaltados, não é que o seu lado possui os melhores jogos - é que o adversário, o sujeito que comprou o outro console, não tem.

Mas será que essa briga de torcida vale a pena? Jogos exclusivos são tão importantes assim?

Na percepção do fã, o game exclusivo é o que justifica a compra de um console. Se você gosta de jogar "God of War", não vai querer um Xbox. Se prefere "Gears", não há nada no PlayStation que vai suprir sua vontade de serrar inimigos. Mesmo jogos similares, como "Gran Turismo" e "Forza Motorsport" são totalmente diferentes aos olhos dos fãs.

Para a indústria, a exclusividade é uma saída para conseguir investimentos e desenvolver grandes jogos - "Uncharted 4" não seria tudo o que é sem o dinheiro da Sony. A Square Enix já revelou que "Rise of the Tomb Raider" não teria acontecido sem a ajuda da Microsoft. O mesmo vale para "Street Fighter V" - a Capcom, sozinha, não teria como bancar a produção do jogo de luta.

Jogo exclusivo vende menos

Mas uma vez ultrapassada a questão da escolha do console, os jogos exclusivos parecem perder muito a força inicial: Se olharmos a lista dos 10 jogos mais vendidos para PS4 e Xbox One em 2015 no Brasil, na apuração feita pelo instituto GfK, menos da metade são exclusivos destes consoles - o topo do ranking é ocupado por games multiplataforma, como "FIFA", "Minecraft", "The Witcher" e "Call of Duty". Ou seja, o fã escolhe o videogame pelos jogos que só ele pode oferecer, mas joga mesmo o que está disponível para todos.

Melhor exemplo de como a exclusividade não faz diferença é "Grand Theft Auto V". O jogo da Rockstar, que está disponível para PC, PS3, PS4, Xbox 360 e Xbox One, já rendeu mais de US$ 500 milhões para a produtora. É mais do que qualquer jogo exclusivo faturou no PS4 ou no Xbox One.

Isso leva a uma outra tendência da indústria, que, com certeza, estará presente em cada anúncio feito na E3 deste ano: O tal conteúdo exclusivo do console num jogo multiplataforma. É uma ideia ruim e que soa forte como argumento de venda, mas que nunca significa nada demais para o jogador. Uma missão extra em "Assassin's Creed". Roupas exclusivas em "Destiny". Uma arma fraquinha única em "Homefront: The Revolution". A oportunidade de comprar conteúdo adicional de "Call of Duty" no PlayStation antes dos jogadores de PC ou Xbox.

Conteúdo extra, quando bem feito, é um incentivo legal para atrair os jogadores - sejam os pacotes multiplayer de "Battlefield 4" ou as expansões robustas de "Borderlands 2", é o tipo de coisa que mantém uma comunidade ativa ao redor do jogo, mesmo anos depois do lançamento. Mas na maior parte dos casos, se tratam de ofertas bobas e que poderiam muito bem fazer parte do jogo. Pior ainda no caso do "acesso antecipado" ao conteúdo pago, que não representa vantagem nenhuma para o jogador - e é esse o tipo de 'exclusividade' que só serve para alimentar os gritos da torcida.

Exclusivo não decide o sucesso do console

O Wii U, da Nintendo, possui vários jogos exclusivos e muito bem avaliados pela crítica e pelo público. Por essa métrica, o Wii U é muito mais bem-sucedido do que o PlayStation 4 ou o Xbox One. Mesmo assim, é o console da atual geração que menos vende e a Nintendo já se prepara para revelar um novo videogame. Ou seja, ter os melhores games exclusivos fez os fãs da Nintendo felizes, mas não atraiu para o console uma base maior de jogadores.

Com hardwares quase idênticos e a mesma oferta de jogos multiplataforma, Microsoft e Sony se valem dos exclusivos para conquistar novos consumidores. Mas diferente dos fãs que se digladiam nas redes sociais a cada game anunciado ou exclusividade perdida, as fabricantes sabem que o principal é ter mais gente jogando - quanto maior o mercado, melhor a fatia que cada empresa vai conseguir abocanhar.

"É como no futebol", disse o executivo Milton Beck ao UOL Jogos em um episódio do podcast Playground. "As torcidas se xingam e brigam nas arquibancadas, mas lá no campo os jogadores apertam as mãos e são amigos". Um dos responsáveis pelo lançamento do Xbox 360 no Brasil, Beck acredita que tanto Microsoft quanto Sony só tem a ganhar com o crescimento do mercado nacional.

Os desenvolvedores jogam os games uns dos outros e não escondem quando gostam do resultado. Para boa parte dos estúdios, a concorrência é saudável e estimula as equipes a alcançarem resultados melhores - sem que, para isso, o game do "rival" precise ser um fracasso completo.

Esse pensamento é o mesmo adotado pelos líderes globais de PlayStation e Xbox, que sempre se cumprimentam e elogiam o concorrente sempre que um game exclusivo muito aguardado é lançado. Afinal, esses jogos são capazes de levar a indústria dos games para a frente, elevar o nível de qualidade esperado das grandes produções e com isso, atrair ainda mais gente para um hobbie que é, acima de tudo, sobre diversão e não competição.

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