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Melhor da E3, "Breath of the Wild" tem tudo pra ser o "Zelda" que sonhamos

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em Los Angeles

17/06/2016 19h34

"Breath of the Wild" é a revolução que tantas vezes foi prometida aos fãs de "Legend of Zelda".

Descrito pelo diretor Eiji Aonuma como a maior produção da história da Nintendo, o game de Wii U e NX levou o título de Melhor da E3 2016 pela redação UOL Jogos.

Trata-se de uma amálgama entre elementos de todos os "Zelda" 3D desde "Ocarina of Time", mais "Skyrim", "Shadow of the Colossus" e até mesmo "Minecraft". O emaranhado de ideias pode parecer confuso no papel, mas é desfiado com a coesão e o polimento esperados de um jogo Nintendo.

Tudo isso pôde ser percebido na demonstração de quase uma hora que UOL Jogos teve a chance de experimentar na E3 2016 porque "Breath of the Wild" vai direto ao ponto: em menos de cinco minutos, o game já destaca as principais mecânicas que dão o tom da nova aventura de Link. E isso sem precisar de um tutorial.

Depois do apocalipse

Hyrule não é mais o próspero reino de outrora. Atacadas por uma calamidade, as terras habitadas pelos descendentes de Hylia foram abandonadas pela civilização. O verde invade os domínios do Templo do Tempo, enquanto monstros e animais selvagens fazem de ruínas seus lares.

Adormecido há cem anos em uma estranha fonte, Link desperta com uma voz em sua cabeça, que o motiva a explorar o mundo com a missão de salva-lo da destruição certa.

"Breath of the Wild" não tem uma introdução de horas de duração como "Twilight Princess" e nem esconde o verdadeiro potencial de Link atrás de calabouços como "Ocarina of Time".

Logo na saída da caverna onde ele dormia, Link descobre dois baús de tesouro. Dentro deles, uma camiseta e uma calça, para proteger o herói do frio. Em seguida, uma leve colina: Link pode saltar com o pressionar de um botão, ou então escalar. Ele está desarmado, então coleta um galho para se defender. Dos primeiros monstrinhos Bokoblins que o herói derrota, ele coleta primitivos escudos, clavas e arcos - que dão para o gasto por ora.

Com a exceção de um velho homem que mais esconde do que revela com suas falas, não há uma pessoa com quem Link possa conversar para tentar determinar seus próximos passos. Ele está solto sem rumo em um mundo selvagem - hostil e perigoso como poucos, mas ainda assim, extremamente calmo e pacífico.

Sobrevivência

Diferente de praticamente todos os outros jogos "Zelda", "Breath of the Wild" não tenta esconder do jogador que ele está controlando um herói predestinado. Esse Link não tem uma origem humilde em um pequeno vilarejo na floresta. Ele abre os olhos com uma missão bem clara, mas não ganha de bandeja uma ocarina mágica que controla o tempo, nem uma batuta que domina os ventos. Cabe a ele descobrir seu destino e as ferramentas que usará para chegar lá.

Há anos o diretor Aonuma comenta que está olhando para os grandes sucessos da indústria dos games ocidental para criar o novo "Zelda". De "Skyrim", "Breath" tem a vastidão de um mundo que esconde mistérios a cada curva. De "Minecraft", um ambiente que pode ser transformado em recursos.

Link pode encontrar um machado e derrubar uma árvore para usar seu tronco como ponte. O mesmo tronco pode ser transformado em gravetos, que junto a cascalhos vira uma fogueira, capaz de cozinhar cogumelos, frutas e carne. Pedregulhos podem ser empurrados de uma ribanceira para esmagar inimigos abaixo ou então mineradas. Flechas disparadas que não acertaram seu alvo podem ser recuperadas.

Mais livre do que até mesmo "A Link Between Worlds", em que Link era capaz de tomar vários caminhos até chegar em seu objetivo final, "Breath of the Wild" é verdadeiramente um "Zelda" de mundo aberto como a série não vê desde sua origem no Nintendinho 8-bits. Aonuma garante até que o jogo pode ser finalizado sem que a história chegue a sua devida conclusão, dependendo das escolhas do jogador.

 

Exploração

Na primeira metade da demonstração para a imprensa na E3, Link aparece à deriva no mundo, sem um objetivo claro. As assistentes da Nintendo que supervisionam cada estação do game dão apenas uma instrução: "vá explorar".

É 2016. Não faltam jogos de mundo aberto na indústria. Mas "Breath of the Wild" dá mais controle e liberdade ao jogador do que a maioria deles - e consegue fazer isso sem descartar o sentimento de progresso a cada desafio vencido pelo qual a série "Zelda" é conhecido.

Além de calabouços como os que já sabemos que a franquia tem, o enorme mundo de "Breath" tem também mais de 100 pequenas cavernas que escondem quebra-cabeças e recompensas. Os espólios não são necessários, mas sim bem-vindos - assim como espadas poderosas, escudos capazes de refletir quase todo tipo de ataque ou flechas com propriedades de fogo ou eletricidade.

Mundo inóspito

A música minimalista de "Breath of the Wild", que consiste em esporádicos tons de piano ou sopro, mistura-se com os sons dos pássaros e do vento. A atmosfera de melancolia é muito pesada e serve para dar o tom da jornada de Link: a de um herói solitário em um mundo selvagem.

A escala e a arquitetura desse mundo remete a "Twilight Princess", ainda que a área inicial do game mais pareça os campos de "Ocarina of Time". Referências a "Skyward Sword" e "Wind Waker" também estão por todos os lados. Para fãs, esse novo mundo é ao mesmo tempo nostálgico e instigante - semelhante, mas diferente.

O 'feeling' da Hyrule do novo game lembra muito "Shadow of the Colossus" - uma excelente referência, na minha opinião.

Ao menos no Wii U, infelizmente, há mais um outra referência ao "Shadow of the Colossus" original, de PlayStation 2: a performance decepcionante. O game consegue, sim, representar de maneira bonita o mundo em tons de guache que vemos nos trailers; mas momentos de lentidão não são raros. Quando espalha a água ao seu redor enquanto nada, por exemplo, Link força o já ultrapassado hardware da Nintendo a seu limite.

A E3 deixou evidente que aqueles que desejarem experimentar "Breath o the Wild" em sua melhor forma já devem começar a juntar dinheiro para investir também no NX quando ele for lançado em março de 2017.

Mesmo assim, "The Legend of Zelda: Breath of the Wild" deixará sua marca no Wii U. Caso ele realize todo seu potencial, ele pode significar uma virada da Nintendo para uma nova era em que os melhores acertos do resto da indústria não são ignorados por suas produções. Uma lição aprendida, sinalizando uma conclusão feliz para um console que fracassou.