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Mulheres estão "menos peitudas" em games, dizem jogadoras na E3

Madeleine Shopoff, 28, destaca as mudanças no visual de Lara Croft como pontos positivos na representação feminina nos games - James Cimino/UOL
Madeleine Shopoff, 28, destaca as mudanças no visual de Lara Croft como pontos positivos na representação feminina nos games Imagem: James Cimino/UOL

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

17/06/2016 13h23

Dois anos atrás, na E3, a discussão sobre a falta de personagens femininos em jogos e assédio em ambientes on-line estava no ápice.

Hoje, em uma edição em que os olhos estão todos voltados à realidade virtual, a reportagem do UOL resolveu perguntar para elas o que mudou nestes dois anos. Aumentou a representatividade?

A maioria das entrevistadas disse que sim, o número de personagens aumentou, mas ainda está muito aquém do desejado. Mas tem um aspecto dessas personagens que as frequentadoras da E3 deste ano destacaram: a radical mudança nas formas físicas.

Madeleine Shopoff, 28, que trabalha com desenvolvimento de jogos, apontou: “Há mais mulheres protagonistas nos games. Agora, a nova Lara Croft por exemplo, não tem mais aqueles peitos gigantescos e está muito mais representada pela sua força e como uma aventureira. Estão cada vez menos sexualizadas". De fato, a mudança na heroína britânica foi elogiada até pela atriz Camilla Luddington, que faz as vozes e movimentos de Lara nos jogos mais recentes de "Tomb Raider.

Camilla Luddington - Lara Croft - Divulgação - Divulgação
Camilla Luddington, atriz que faz os movimentos e voz da nova Lara Croft nos games, diz que uma heroína sexualizada não fazia mais sentido
Imagem: Divulgação

“Acho que mudou bastante [nos últimos dois anos]. Tipo ‘Horizon’. Um ótimo jogo, com uma ótima personagem feminina. E não põe ênfase no gênero, mas sim mostra um jogo divertido com uma ótima personagem. Tem um design ótimo, mas que não necessariamente apela para o sexo. Não tenho problema com o sex appeal algumas vezes. Uma das minhas favoritas é a Bayonetta. Amo o jogo, amo a personagem, que é super legal, mas que também é sexy. Não é apenas uma personagem ‘colírio’", diz a game designer Ashley Riot, 28.

Para Veronica Young, 25, as mudanças ainda não são suficientes. Embora concorde que haja mais personagens mulheres, ainda assim não se sente representada à altura.

“Em termos de diversidade ainda não. Para mim, pelo menos, isso é um problema. Por exemplo, nos filmes e na TV você vê muitas personagens que se parecem comigo, uma mulher negra, mas não nos games. Não consigo imaginar um jogo que tenha uma mulher negra. Já vi alguns personagens masculinos negros, que em geral têm dread locks, mas só isso.”

E3 2016: Heroínas nos games - Montagem/UOL Jogos - Montagem/UOL Jogos
Mais ação, menos 'peitão': E3 2016 consolidou uma nova geração de heroínas nos games
Imagem: Montagem/UOL Jogos

Assédio

Algo que no entanto ainda precisa melhorar muito é a questão do assédio, especialmente em ambientes on-line.

As entrevistadas também afirmaram que muitas vezes preferem esconder seu gênero, sua voz ou jogar com personagens masculinos para evitar as cantadas e os constantes ataques a sua capacidade como jogadoras.

“Pessoalmente não uso mais voz quando jogo online para não virar alvo. E geralmente quando os caras vão te assistir, não é porque você é uma jogadora incrível, é porque você é um garota ou porque você é bonita. Eles não veem você no mesmo nível, mas ontem eu chutei algumas bundas no ‘Battlefront’. Fiquei bem feliz. Mas pessoalmente eu evito porque não quero chamar atenção para esse fato, de eu ser mulher”, diz Hanna Diehl, 27.

Veronica Young usa a mesma tática: “Eu jogava 'Halo' on-line e quando os caras descobriam que eu era mulher começavam a me chamar de vaca, etc. O que eu faço pra evitar é não revelar que sou mulher ou usar um nick masculino, como Darth Vader, por exemplo. E evito usar minha voz… Quando descobrem eles tentam insinuar que não jogo bem.”

E3 2016: Paul Bukoski e Veronica Young - James Cimino/UOL - James Cimino/UOL
Veronica Young. 25, comenta que jogadores online ainda têm muito preconceito contra meninas nas partidas
Imagem: James Cimino/UOL

Outras garotas têm uma postura mais “zuêra”, como a enfermeira Janine Gambito, 25. “Quando estamos jogando — tenho uma amiga e parceira de jogo — e os caras descobrem que são duas garotas, às vezes somos criticadas pela nossa performance ou dizem literalmente que estamos jogando mal porque somos mulheres. São hostis. Em geral evitamos esse tipo de merda não revelando quem somos. Aí vamos lá, damos uma surra e no final mostramos que somos mulheres. Surpresa!”

Já Madeleine Shopoff diz que nunca usou personagens masculinos para se esconder e evitar assédio. Neste caso, prefere tratar os homens com a mesma moeda. “Quando uso personagens masculinos, meu critério é estético mesmo: se ele tem uma bunda boa, eu escolho (risos). Sobre me subestimarem como jogadora é algo que eu uso a meu favor, porque eles nunca esperam que eu vou ser boa. Em geral eu chuto suas bundas e depois mostro que sou uma garota. Eles ficam surpresos, e aí já começam a pedir seu telefone e coisas assim…”.

Mas tem gente que literalmente desistiu do jogo on-line por causa do comportamento dos homens, como Ashley Riot: “Não jogo online por causa do tratamento. É muito tóxico e nojento. Eu quando vou jogar videogame, quero que seja uma experiência escapista do meu trabalho. Então sair de uma situação estressante para entrar em outra não está nos meus planos. Eu sou fã de games de luta. E quando os caras perdem pra você, eles ficam putos. Te chamam de feia, gorda, puta…”

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“Heyyyyyy, girrrrrrlllll!!”

Agora, por mais que os homens nem sempre tenham um tratamento respeitoso com as jogadoras, elas contam que eles estão o tempo todo fingindo ser mulheres ou jogando com personagens femininos para obter vantagens.

“Tem uma coisa engraçada”, diz Janine Gambito. “Os caras jogam com personagens femininas e fingem que são mulheres pra conseguir itens extras. Eu suponho que 80% das personagens femininas em jogos on-line são caras. Eles tentam tanto soar como uma garota. Chegam digitando coisas como ‘Heyyyyyy, girrrrrrrllll! Você tem uns itens pra me dar?’ Já sei que é um cara. Eles forçam demais! (risos)”

Outro aspecto é a total falta de senso estético. “O que percebi sobre os caras fingindo ser mulheres é que eles escolhem uma personagem feminina, com uma arma três vezes maior e usando biquini. Pode saber que nesses casos é homem”, revela Madeleine Shopoff

Mas o namorado de uma delas, Paul Bukoski, 25, disse não ter o menor problema em jogar com personagens femininas e que seus critérios são, digamos, técnicos. “Eu sempre jogo com personagens femininas quando procuro ter mais agilidade no jogo. São personagens mais leves, atléticas, flexíveis e acrobáticas.”