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Game brasileiro coloca jogador na pele de pessoa com deficiência

"Alter" é game baseado em quebra-cabeças, que permitem ao jogador avançar quando resolvidos; ideia é gerar empatia em relação às pessoas com deficiência - Reprodução
"Alter" é game baseado em quebra-cabeças, que permitem ao jogador avançar quando resolvidos; ideia é gerar empatia em relação às pessoas com deficiência Imagem: Reprodução

Rodrigo Lara

Do UOL, em São Paulo

24/06/2016 13h46

Desenvolvido pela Racional Games em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiênica (CMDPD) da Prefeitura de Curitiba, o game "Alter" tem uma proposta diferente: colocar o jogador na pele de uma pessoa com deficiência. 

Disponível em duas versões, uma para PC que roda diretamente do navegador e outra para dispositivos móveis Android  - a versão para iOS deverá ser lançada em breve -, "Alter" é uma extensão da campanha "Não é privilégio, é direito", realizada pelo órgão público no final de 2015. Trata-se de um game baseado em quebra-cabeças, que precisam ser resolvidos para que o jogador avance pelo cenário.

"'Alter' foi pensado desde o início para poder ser jogado por qualquer pessoa, com ou sem deficiência. A proposta é fazer com que o jogador se coloque no papel de diferentes personagens, cada um com um tipo de deficiência, ao longo de um caminho comum a todos", explica o sócio-diretor técnico da Racional Games, Danilo Olympio.

Experiência sensorial

Um ponto interessante de "Alter" é que as características de cada personagem controlado influenciam na jogabilidade e na percepção do mundo do jogo. O personagem que utiliza cadeira de rodas, por exemplo, necessita de rampas para acessar determinados lugares. Já o que tem deficiência visual precisa se guiar encostando nos obstáculos, uma vez que o cenário desaparece completamente.

"O jogador passa por uma experiência sensorial de vivenciar quais são as dificuldades e as barreiras encontradas por uma pessoa com deficiência e percebe que, uma vez que o ambiente dispõe de recursos de acessibilidade, todos podem exercer sua plena cidadania", diz Olympio. "Alter" também possui opções de acessibilidade, como comandos de voz, audiodescrição e alto contraste.

Alter - personagem com cadeira de rodas - Reprodução - Reprodução
Jogabilidade varia de acordo com o personagem controlado, que pode ter tipos diferentes de deficiência, seja sensorial ou física, como na imagem
Imagem: Reprodução

O game contou com consultoria de pessoas com deficiência para a criação de mecânicas. "Isso foi importante para compreendermos esse universo que até então era desconhecido por nós e fez com que o projeto pudesse incorporar de maneira lúdica situações de fato vividas por essas pessoas", cita Olympio. Entre os principais desafios encontrados pela equipe de produção, estão a direção de arte, que utiliza pinturas manuais feitas a óleo, e a adaptação do game ao modo de acessibilidade.

Multas de trânsito financiaram projeto

"O formato proposto para o game foi ótimo, pois o jogador poderia enfrentar virtualmente as barreiras que pessoas com as mais diversas deficiências encontram em seu cotidiano. Isso gera uma reflexão no sentido de mostrar que é possível gerar infinitas possibilidades a partir do momento em que há igualdade de oportunidades", afirma a Coordenadora de Projetos e Comunicação da Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Natália Bonotto. 

O investimento para "Alter" foi de R$ 83 mil, proveniente de multas dadas por desrespeito ao uso de vagas de estacionamento destinadas a pessoas com deficiência. "Esses recursos são do Fundo de Apoio do Deficiente, que prevê que parte deles deve ser usada para campanhas educativas", explica Bonotto.

Ao todo, foram necessários 90 dias para a conclusão do jogo, que também envolveu outras empresas, como Niobium Studios, Dope Audio Design e Cadamuro Produções.