Feito por mulheres: "Festa Estranha" é jogo nacional com tema universitário
A participação feminina no desenvolvimento de jogos é um tema recorrente em eventos de games. É raro encontrar mulheres trabalhando com programação de videogame. Geralmente, as garotas cuidam do marketing nas produtoras, sem se envolver diretamente na criação. Não é o caso da Trinca, produtora independente formada exclusivamente por mulheres: Luiza Bragança, Mariá Scárdua e Sofia Utsch, criadoras de "Festa Estranha", um dos games mais brasileiros já feitos.
"Nos inspiramos em jogos como 'Danganrompa'", conta Mariá, em entrevista ao UOL Jogos. "Mas também nas nossas experiências, nas coisas que vimos nas festas da faculdade". O trio se divide entre Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA) e desenvolveu o jogo ao longo de três meses, trabalhando nas horas de folga. Aos poucos, a brincadeira foi ficando mais séria e as meninas passaram a levar o jogo para eventos de games como o Gamepólitan. "Notamos que as pessoas achavam engraçado, teve um cara que jogou o game inteiro num evento, não parava de rir", lembra Mariá.
Segundo as criadoras, "Festa Estranha" é um jogo de "Escape Social". Mas, o que isso quer dizer?
Jogos de "Escape" são bastante populares nos computadores e geralmente envolvem colocar o jogador num ambiente isolado e solitário, onde precisa resolver quebra-cabeças e enigmas para fugir antes que seja tarde demais. "Festa Estranha" pega o conceito e leva para um cenário totalmente oposto, uma "calourada" de universitários. Aqui, o jogador é uma caloura que precisa interagir com estranhos e ir embora da balada, mas só depois que encontrar a amiga que sumiu levando a chave de sua casa.
"No começo até pensamos em ambientar o jogo numa festa de fraternidade norte-americana, mas não seria a mesma coisa", conta a roteirista Luiza. Por um lado, ambientar o game no Brasil permitiu a inclusão de uma grande diversidade de personagens, de todas as raças, biotipos e estereótipos conhecidos dos jovens brasileiros. "Toda faculdade tem o chato do violão", brincam as produtoras. "Aquele que já chega tocando Legião Urbana".
Há também o lado negativo: Como boa parte das situações do game envolvem conversas, há muitas linhas de diálogo, piadas e expressões que só fazem sentido no Brasil. "Não é fácil escrever isso tudo e localizar para o inglês será uma tarefa bem difícil", comenta Luiza. "Mas também é uma maneira de mostrar como é o jeito brasileiro para os jogadores lá de fora". Ou seja, "Festa Estranha" é um jogo feito mais para o consumo interno, para jogadores brasileiros.
Para as produtoras, fazer um jogo assim é uma forma de explorar a cultura brasileira sem cair em clichês como folclore ou história. "E as pessoas gostam, se sentem representadas. Tem branco, negro, meninas com aparências bem diferentes, sexualidades diversas também, porque é o tipo de gente que você vê na vida, pessoas como nós", explica a artista Mariá.
"Essa representatividade é uma coisa que buscamos, desde a protagonista ser mulher até os personagens que ela encontra, a situação de não estar confortável num lugar e ter que interagir com as pessoas é algo que muita gente passa na universidade", explicam. "Queremos fazer jogos sobre brasileiros, sobre como as coisas são aqui". Sofia explica: "A gente joga 'visual novels' japonesas, com toda aquela ambientação do Japão, e acha legal, então que tal fazer um game com as coisas do Brasil?"
Além do jogo
Desde que começaram a levar "Festa Estranha" para eventos de games, Luiza, Mariá e Sofia se tornaram conhecidas no meio e o fato de que seu estúdio é formado apenas por mulheres não passou despercebido. O trio já foi convidado para das palestras em escolas sobre a carreira de desenvolvimento de jogos para meninas. Para elas, é uma forma de mudar o cenário atual, onde a maior parte das mulheres na área não está envolvida em programação.
"Isso se tornou um ponto muito importante para nós e pretendemos continuar fazendo palestras e conversando com as meninas mais novas sobre desenvolvimento", contam. "Estamos nos tornando uma referência para essas jovens e isso é bom, poder estimular as meninas a fazerem coisas diferentes".
Além das palestras e do lançamento de "Festa Estranha", a Trinca já tem planos para os próximos jogos. "Mas por enquanto, estamos trabalhando em remover os bugs do jogo, e fazemos isso nas horas vagas", brincam. "Mas ideias não faltam". Você pode acompanhar o desenvolvimento do game na fanpage de "Festa Estranha" no Facebook.
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