Topo

Nem balé, nem karatê: "Minecraft" é a nova estrela das salas de aula

Jovem estudante de São Paulo usa "Minecraft" para aprender programação - Pedro Henrique Lutti Lippe/UOL
Jovem estudante de São Paulo usa "Minecraft" para aprender programação Imagem: Pedro Henrique Lutti Lippe/UOL

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

15/07/2016 16h14

"Não posso dizer que não é difícil conviver com tablets e smartphones na escola. É claro que nos atrapalha, principalmente no meio de uma aula teórica. Mas o fato é que essa é a realidade de hoje, e precisamos aprender a ver vantagem nisso, fazer uso da 'parte boa'", revela a professora Gisela Aquino, que hoje ensina História para crianças de 11 a 12 anos de uma maneira incomum: através do "Minecraft".

Sob a coordenação da professora, um grupo de alunos do 7º ano da unidade Morumbi do Colégio Visconde de Porto Seguro construiu um feudo dentro do game. O plano era ensinar aos estudantes como viviam os europeus durante a Idade Média - mas os benefícios do uso do jogo foram muito além.

"Os alunos nessa faixa etária adoram esse jogo, e ficaram encantados quando souberam que teriam que 'jogar' nas aulas de História", revela Gisela. "Por causa do jogo, além da base teórica de leitura e pesquisa, conseguimos trabalhar também na prática, o que torna a aprendizagem mais prazerosa e eficaz".

A professora relata como alguns alunos inicialmente se ocupavam desfazendo os trabalhos dos colegas, mas que a atitude rapidamente mudou. "A interação entre eles foi muito grande. Quando uma equipe terminava o trabalho, partida para ajudar aqueles que estavam construindo estruturas mais complexas", diz. "Também nos chamou a atenção o aparecimento de novas lideranças, no caso de crianças com muita habilidade no jogo mas que em sala de aula normalmente não atuam como líderes".

"Tivemos ainda a vantagem de trabalharmos valores como o respeito e a colaboração".

Crianças aprendem a programar no "Minecraft"

Start

O professor Francisco Tupy, que também usa "Minecraft" em suas aulas, ecoa o discurso de Gisela a respeito das vantagens do jogo como ferramenta de aprendizado. "Todo mundo tem o mesmo celular, os mesmos aplicativos, conversa com os amigos por texto utilizando a mesma fonte. O 'Minecraft' é um espaço em que cada um pode ser de sua própria maneira", afirma.

Além de ser uma maneira prática de permitir que jovens estudantes 'coloquem a mão na massa' e realizem trabalhos criativos dentro da sala de aula, "Minecraft" também tem aplicações de aprendizado ainda mais específicas.

Por conta da presença de um item que imita circuitos elétricos, o game também já é usado para transmitir noções básicas de programação, por exemplo.

Esse potencial inato do game não passou despercebido pela dona da marca, a Microsoft. A empresa já distribui gratuitamente para professores e instituições de ensino "Minecraft: Education Edition", uma versão do game voltada exclusivamente para fins educativos. A partir de setembro de 2016, o serviço se tornará pago.

Apesar de não revelar números precisos, a Microsoft garante que "dezenas de milhares de salas de aula pelo mundo" já usam "Minecraft" como ferramenta de estudo.

De fábrica, o pacote traz módulos voltados para alunos de várias faixas etárias, cobrindo temas desde o aprendizado de conceitos matemáticos como fatores e múltiplos até a perda de biodiversidade causada pelo aquecimento global. Professores ainda podem compartilhar roteiros de estudo próprios com outros educadores pelo site oficial do game.

Educadores falam sobre "Minecraft: Education Edition"

Start

Acompanhando uma aula de História ministrada dentro de um mundo compartilhado por professor e alunos no "Minecraft", UOL Jogos pôde perceber o engajamento das crianças. Elas se divertiam com os 'blocos de montar' do game, mas até enfileiravam seus avatares virtuais na frente do boneco do professor quando era hora de receber instruções.

"Acredito que temos que nos apropriar da tecnologia para tornar a aprendizagem algo mais concreto usando ferramentas mais próximas da realidade do aluno", afirma a professora Gisela.