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Animes exploram homossexualidade e identidade de gênero com leveza

Jovens transsexuais protagonizam o emocionante anime "Hourou Musuko" - Reprodução/AIC Classic
Jovens transsexuais protagonizam o emocionante anime "Hourou Musuko" Imagem: Reprodução/AIC Classic

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

27/07/2016 17h14

Historicamente, é comum ver animes tratarem personagens homossexuais ou transexuais como meros estereótipos, presentes nas histórias apenas como alívio cômico. Mas algumas séries preocupam-se em ir além, retratando de maneira sensível os conflitos e desafios enfrentados por essas pessoas.

Em "Hourou Musuko" (também conhecido como "Wandering Son"), a protagonista Shuuichi Nitori é uma garota que nasceu no corpo de um garoto. Seu melhor amigo é Yoshino Takatsuki, um garoto que nasceu no corpo de garota. Os 11 episódios da série retratam a dificuldade dos jovens de formarem amizades em um novo colégio e de darem os primeiros passos de suas vidas amorosas.

O traço fino e as cores aquareladas da animação exemplificam a leveza com a qual a série trata um tema que muitos consideram pesado. Eventualmente, Shuuichi inicia uma relação com uma menina, Anna, que se identifica como lésbica.

"Hourou Musuko" não é o primeiro anime a retratar transsexuais e homossexuais com maturidade, mas é sinal de uma tendência positiva na indústria.

Foram-se os tempos de "Stop!! Hibari-kun" - um mangá da década de 1980 publicado na Shonen Jump que depois virou anime, e que retratava uma personagem transsexual como uma "armadilha" para o protagonista homem em um tom consistentemente cômico.

Recentemente, o autor da muito popular série "Ataque dos Titãs" trouxe o tema da transexualidade nos animes à tona ao recusar-se a revelar o gênero de uma adorada personagem. Hange tem dubladoras mulheres, mas é sempre tratada de maneira andrógina.

Ataque dos Titãs - Hange - Reprodução/WIT Studio - Reprodução/WIT Studio
O autor de "Ataque dos Titãs" recusa-se a revelar o gênero de Hange
Imagem: Reprodução/WIT Studio

Em termos de animes que já passaram no Brasil, as relações de Yukito e Touya em "Sakura Card Captors" e de Utena e Anthy em "Utena - A Garota Revolucionária" já serviram como exemplos de como a mídia pode retratar homossexuais respeitosamente.

Mas traçar a evolução dos gêneros 'yuri' (amor entre garotas) e 'yaoi' (amor entre garotos) de meros fetiches a vetores de inclusão é muito mais fácil olhando para listas de séries que nunca chegaram ao Brasil. Hoje, animes como "No. 6" e "YuruYuri" falam de homossexualidade em diferentes graus de seriedade e humor, mas sem nunca ofender.

Da parte da indústria, falta apenas o cuidado de traduzir essas séries para outros idiomas. Serviços como Crunchyroll e Funimation já garantem acesso de mais pessoas a esse tipo de conteúdo, mas muitos fãs ainda dependem de traduções feitas por fãs para acompanhar séries no estilo.

Apesar de ser muito bem avaliada (o site MyAnimeList cita a nota média de 7,81 com base nas opiniões de 19 mil usuários), "Hourou Musuko" nunca foi lançado fora do Japão. Na verdade, a série é a única produção do estúdio AIC Classic que nunca foi traduzida para outras línguas.