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"GTA" em New Orleans: "Mafia 3" é conto de vingança ao som de jazz anos 60

Veja uma missão completa no game

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Victor Ferreira

Do UOL, em Nova Orleans*

09/09/2016 09h00

Com calor e umidade intensos, estética caribenha e posição geográfica diferente - ficando ao sul dos EUA -, Nova Orleans não é uma cidade que o público em geral associa com a máfia italiana.

Surpreendentemente, este não é o caso, já que a cidade foi um dos grandes polos de imigração italiana no século XIX, e assim virou um dos grandes centros da máfia siciliana nos EUA, sendo dominada por boa parte do século XX.

É com inspiração nesta região inusitada que a 2K Games e o estúdio Hangar 13 estabeleceram “Mafia III”, novo jogo da veterana série de ação em mundo aberto, que nesta edição mostra um aspecto mais decadente do crime organizado italiano, perdendo o controle para outras gangues ou investigações policiais.

À convite da 2K, UOL Jogos teve oportunidade de viajar a Nova Orleans para testar o novo game, descobrindo mais sobre o local que inspirou a cidade de New Bordeaux no fim dos anos 1960 e serve de palco para o game.

A vida de Lincoln

Talvez o maior chamativo inicial de “Mafia III” seja justamente a natureza de seu protagonista. Ao contrário de Tommy Angelo e Vito Scaletta, que estrelaram os games anteriores, o afro-americano Lincoln Clay não tem qualquer traço italiano, sendo um órfão criado por uma família de gângsters negros.

Ainda assim, Lincoln e seu grupo estão ligados diretamente à máfia italiana que opera em New Bordeaux, liderada por Salvatore Marcano - que em si teve inspiração em um mafioso de verdade, Carlos Marcello, que dominou Nova Orleans por décadas essencialmente sozinho.

Após ser traído por Marcano, Lincoln inicia uma trilha de vingança contra o capo, com objetivo final de tomar o seu território e matar ele e todos os seus associados.

Para contar a história de Lincoln, a Hangar 13 usou um instrumento narrativo curioso, transformando o game em uma espécie de documentário sobre a ascensão do personagem no mundo do crime, nos moldes de “Making a Murderer” e “Cocaine Cowboys”.

Por meio desta ferramenta narrativa, o game procura reagir às decisões e consequências das escolhas do jogador, no formato de diferentes depoimentos ou simplesmente ao mostrar quem sobreviveu para contar a história.

Controlando o mundo

Em abril também tivemos a chance de testar "Mafia III" e as impressões daquela sessão se mantém essencialmente as mesmas, meses depois, com a jogabilidade sendo competente, embora nada particularmente revolucionário.

Com mais tempo para o teste, porém, é possível perceber que os produtores procuraram criar situações diferentes que podem ser lidadas de maneiras inusitadas pelo jogador, dependendo de seu estilo e preferências de jogo.

Seja de maneira furtiva ou explodindo tudo pela sua frente, o game oferece ao jogador formas interessantes de lidar com os desafios. De muitas formas me lembrou de uma forma mais simplista o “Hitman”, onde há uma situação básica com diferentes ferramentas para resolvê-las.

Isto não se limita a armas: as habilidades especiais de cada um de seus tenentes - Cassandra, líder dos haitianos; Burke, dos irlandeses; e Vito, velho conhecido de “Mafia II” - também podem ajudar caso algo saia do controle, seja ao cortar as linhas telefônicas com os capangas de Cassandra ou molhar a mão de um despachante de polícia conhecido de Burke.

No geral a impressão é de um combate efetivo e competente, com alguns problemas aqui e ali - a sensação das metralhadoras não me agradou, o que explica porque Lincoln carrega uma espingarda na maioria dos nossos vídeos. Além disso, a inteligência artificial dos inimigos deixa a desejar em vários momentos.

A divisão de territórios, por outro lado, mostra perspectivas interessantes, já que o jogador tem oportunidade tanto de dividi-los igualmente entre seus comparsas quanto favorecer um em relação aos outros, que responderão de acordo e podem até se voltar contra você.

Na versão do jogo testada, por exemplo, Cassandra só tinha controle de um distrito, e mesmo ao entregar um dos esquemas em French Ward ela se mostrou irritada pelo suposto desrespeito de Lincoln. Se isso pode ser apaziguado ou não fica por conta do próprio jogador.

Tudo isso indica um potencial de ser mais do que um simples jogo de mundo aberto, mas até o produto final ser lançado, é difícil saber se isso se concretizará ou não.

Conheça seus aliados em Mafia 3

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O som e a fúria

Por ser um jogo que se passa nos anos 60, é difícil não citar a excelente trilha sonora licenciada pela 2K.

A lista, que traz mais de 100 músicas, apresenta desde clássicos do rock de bandas como The Animals, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival e Ramones, até lendas do soul e blues como Sam Cooke e Aretha Franklin (embora, curiosamente, nada de Louis Armstrong, talvez um dos músicos mais influentes de Nova Orleans - se bem que “Mafia III” não se passa exatamente na cidade).

O uso das músicas não se limita apenas a rádios, aparecendo também em diversos momentos nas cenas do “documentário” sobre Lincoln e, em um caso inusitado durante a sessão de jogo, durante uma missão em que os personagens cantam e brincam com a música “I Fought the Law”.

Tudo isso contribui com o senso de ambientação da história, da cidade e seus personagens, que se encontram em um período conturbado da história dos EUA, marcado por assassinatos e conflitos raciais.

Legendado em português, “Mafia III” sai em 7 de outubro para PC, PlayStation 4 e Xbox One.

* O jornalista viajou à convite da 2K Games