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Arábia Saudita, Coreia do Norte, China: como é ser gamer nesses países?

Clone de "Uncharted", "Unearthed" é terrível - mas é fruto da indústria saudita, que cresce mesmo envolta em censura estatal - Divulgação
Clone de "Uncharted", "Unearthed" é terrível - mas é fruto da indústria saudita, que cresce mesmo envolta em censura estatal Imagem: Divulgação

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

26/10/2016 16h45

O jovem saudita Khamed Al-Yami, 24, lembra de uma época em que jogos como "Tomb Raider" não podiam ser vendidos em lojas locais por terem uma mulher na capa. "Ainda existem regras de coisas que podem ou não podem aparecer nas produções, mas hoje em dia é muito fácil ser gamer por aqui", diz.

Khamed relata que, ainda que a Arábia Saudita seja uma teocracia, onde os preceitos do Islã limitam a indústria do entretenimento, o controle dos religiosos mais conservadores tem ficado cada vez menos restritivo. "Antigamente, mulheres precisavam ter os cabelos cobertos até mesmo nos jogos para que eles pudessem ser lançados por aqui. Já não é mais assim", afirma.

Em 2012, a revista The Economist estimou que mais de 60% da população saudita é de pessoas menores de 21 anos. Sem muitas alternativas em termos de passatempos, esses jovens voltam sua atenção para os games - especialmente os online -, que podem ser aproveitados facilmente.

"Meus amigos de fora ficam assustados quando digo isso, mas cinemas e shows de música são proibidos aqui", explica Khamed. "Então, para se divertir, os jovens acabam passando boa parte de seus dias jogando com os amigos".

Jogo dos Smurfs em árabe - Reprodução - Reprodução
Jogo dos Smurfs virou sucesso no Oriente Médio após ser traduzido para o árabe
Imagem: Reprodução

Mesmo assim, o mercado local sofre com algumas dificuldades. "O idioma é um problema", diz Khamed. "Pouquíssimos jogos são traduzidos para o árabe, que é muito diferente do inglês e do japonês, que são os idiomas mais comuns dos games".

"Além disso, a língua tem muitas variações até mesmo dentro da Arábia Saudita. O árabe 'tradicional' não é falado por todos, e seria muito caro para uma produtora traduzir seus jogos para os vários dialetos que existem no Oriente Médio".

Dono de mais de 200 troféus de Platina em sua conta no PlayStation, que indicam que ele cumpriu todos os objetivos possíveis de um jogo, Khamed não sofre com isso por ser fluente em inglês.

E na Coreia do Norte?

De acordo com relatório publicado em 2013 pelo World Policy Journal, a Coreia do Norte é a nação mais isolada do resto do mundo. Visitantes são proibidos de trazer até mesmo revistas e jornais de outros países para dentro do território de Kim Jong-un. Não há registros oficiais a respeito da postura do Supremo Líder em relação a turistas que trazem consigo videogames.

Pouco sabemos sobre como é o real cotidiano dos norte-coreanos. As poucas janelas que o Ocidente tem para a nação comunista mostram apenas o que o regime local quer mostrar.

A legislação local proíbe indivíduos comuns de terem computadores pessoais, e as exceções geralmente envolvem máquinas lentas e ultrapassadas. Produtos de culturas estrangeiras são considerados subversivos: norte-coreanos sequer podem assistir às novelas produzidas na vizinha Coreia do Sul, sob risco de prisão.

É difícil imaginar que videogames possam existir em um cenário assim. Mas parece que eles existem.

Arcade em Pyongyang - Reprodução/Mike Koz/Hardcore Gaming 101 - Reprodução/Mike Koz/Hardcore Gaming 101
Crianças norte-coreanas jogam "Daytona" em fliperama na capital Pyongyang
Imagem: Reprodução/Mike Koz/Hardcore Gaming 101

A foto acima, publicada pelo site Hardcore Gaming 101 em 2012, mostra um fliperama na capital norte-coreana Pyongyang. O estabelecimento tinha cerca de meia dúzia de máquinas com jogos dos anos 1990, supostamente trazidas diretamente do Japão.

Outros relatos e fotos de fliperamas na Coreia do Norte existem, com o primeiro datado de 1999. O material, que infelizmente não tem origem confirmada, mostra máquinas de jogos dos anos 1970, como "Gun Fight", "Flying Fortress" e "Submarine".

O curioso caso da China

Apesar de fechar as portas para grande parte da indústria, a República Popular da China é um gigante em termos de rendimento com games. Em estudo publicado em abril de 2016, a agência Newzoo estimou que um quarto de todo o rendimento com games do mundo vem de lá.

Por 15 anos, o governo local proibiu empresas estrangeiras de venderem consoles em território chinês. A restrição só foi removida em 2015. Antes disso, a Nintendo precisou criar uma subsidiária no país para conseguir vender seus sistemas na região, ainda que com um nome diferente (iQue).

Assim como outros ramos do entretenimento como o cinema, os games na China prosperam em grande parte por conta de produções locais, ou então de jogos de fora que são adaptados especificamente para o público chinês. "League of Legends", "World of Warcraft" e o sul-coreano "Dungeon Fighter Online", por exemplo, são enormes sucessos por lá. Diferente de suas versões comuns, porém, as chinesas não têm imagens consideradas ofensivas no país, como esqueletos.

Dota 2 - Reprodução - Reprodução
À esquerda, ícones de feitiços em "Dota 2"; à direita, os mesmos ícones na China
Imagem: Reprodução