Topo

Ela luta pela igualdade de gênero nos games e já foi até ameaçada de morte

Anita Sarkeesian já foi ameaçada de estupro e morte apenas por debater a representação das mulheres na cultura pop - Reprodução
Anita Sarkeesian já foi ameaçada de estupro e morte apenas por debater a representação das mulheres na cultura pop Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

08/03/2017 12h07

Atualmente com 33 anos, Anita Sarkeesian é uma das mulheres que mais luta pela representatividade feminina positiva na cultura pop. A canadense, que atualmente reside nos Estados Unidos, possui uma organização chamada Feminist Frequency (em inglês, Ativismo Feminista) que promove a discussão do machismo na sociedade atual e em games, livros, filmes, séries e outros meios midiáticos. Por oferecer debates a respeito do feminismo, Anita acumula fãs e também “haters”. Ela já foi ameaçada de morte diversas vezes.

Suas análises a respeito da representação da mulher na indústria de jogos, igualdade de gênero e sexismo geram a ira em pessoas que clamam que Sarkeesian, na verdade, não sabe o que diz.

Formada em Estudos da Comunicação pela California State University Nothridge e mestre em Pensamento Social e Política pela York University, sua tese de mestrado é intitulada "I'll Make a Man Out of You: Strong Women in Science Fiction and Fantasy Television" ("Eu Vou Fazer de Você Um Homem: Mulheres Fortes na Ficção Científica e Fantasia", sem tradução em português).

Seu projeto Feminist Frequency começou como um site durante o mestrado, em 2009, para divulgar vídeos comentando a figura feminina presença na cultura pop. Já em 2011, Anita começou a produção da série Tropes vs Women (em inglês, Tropos vs Mulheres), que produz até hoje, examinando os clichês em personagens de fantasia - principalmente videogames.

Não é de hoje que a comunidade de games tem dificuldade na inserção e aceitação de mulheres em seu meio. Histórias de preconceito, machismo e assédio são recorrentes entre jogadoras. Não foi diferente para Sarkeesian, que em 2012 lançou um projeto no Kickstarter para financiar a série Tropes vs. Women in Video Games em seu canal do YouTube. A campanha resultou em um forte assédio virtual da comunidade machista em cima de Anita, mas também o apoio de admiradores de seu trabalho. O projeto, que tinha meta inicial de US$ 6 mil, recebeu mais de US$ 150 mil.

Anita Sarkeesian tornou-se ainda mais conhecida após sofrer diversos ataques virtuais e teve apoio da grande mídia - Reprodução - Reprodução
Anita Sarkeesian tornou-se ainda mais conhecida após sofrer diversos ataques virtuais e teve apoio da grande mídia
Imagem: Reprodução

Todo o imbróglio caiu nas graças da mídia, que começou a dar mais voz a Anita em discussões a respeito de misoginia nos games, além de falar sobre o óbvio assédio virtual no qual ela foi colocada à prova, já que usuários contra a ideologia da blogueira vazaram diversas informações pessoais como fotos, números de documentos e até mesmo seu endereço, resultando em diversas ameaças de morte.

Perseguida pelo GamerGate

A exposição de Sarkeesian na mídia continuou a crescer, com palestras em universidades e aparições em programas de TV, o que atraiu o desafeto do GamerGate, grupo conhecido por assediar, ofender e ameaçar mulheres da indústria dos videogames quando elas fazem críticas em relação ao machismo no mercado. O grupo começou suas atividades em 2014, quando uma polêmica envolvendo uma desenvolvedora indie norte-americana foi exposta a público por seu ex-namorado e tomou proporções gigantescas.

A resistência do grupo contra a crítica levou o cyber bullying a níveis extremos, com difamações e insultos trazendo montagens pornográficas com o rosto de Anita, xingamentos sobre sua descendência iraquiana, denúncias em seus vídeos no YouTube, jogos que incitam os jogadores a bater na acadêmica, ameaças de estupro e morte direcionados tanto a ela quanto a seus colegas e familiares.

Em 2014, a perseguição se tornou uma ameaça terrorista: Sarkeesian realizaria uma palestra na Utah State University e precisou cancelar o evento após receber um e-mail dizendo que a instituição de ensino sofreria “o tiroteio universitário mais letal da história americana” caso ela realmente fosse discursar no local. Os autores da ameaça identificaram-se como membros do GamerGate.

Mesmo assim, Anita segue firme e forte na luta pela igualdade de gênero. Sua produção de conteúdo é bancada por doações feitas por fãs e ela realiza palestras sobre o tema em eventos de tecnologia e games. O conteúdo mais famoso do canal Feminist Frequency é uma série de vídeos sobre como as mulheres nos games são retratadas diversas vezes como donzelas em perigo (Demsel in Distress, como o título dos vídeos sugere) e não como personagens fortes que podem lidar com seus próprios problemas.

Para evitar mais ameaças e calúnias na internet, toda a produção de Sarkeesian tem os comentários bloqueados. Em uma coluna no The New York Times, a crítica fala sobre seu maior ideal atual: “A fantasia violenta de um poder masculino não vai mais definir do que se trata jogar. (...) Aqueles que vigiarem as barreiras do nosso hobby, aqueles que tentarem envergonhar e maltratar mulheres como eu para se calarem, já perderam. A nova realidade é que videogames estão amadurecendo, evoluindo e diversificando-se”.