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Aposentado aos 23: ele foi um dos melhores no "LoL" e hoje ataca de DJ

Muitos tentam, mas poucos conseguem. Vida de pro player? Que nada! O difícil mesmo é se firmar como DJ - André Marques que o diga - Reprodução/Acervo pessoal
Muitos tentam, mas poucos conseguem. Vida de pro player? Que nada! O difícil mesmo é se firmar como DJ - André Marques que o diga Imagem: Reprodução/Acervo pessoal

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

14/03/2017 14h02

Martin "Espeon" Gonçalves é o tipo de jovem descolado atual com muitos seguidores nas redes sociais (uma soma que resulta em 158,7 mil fãs) e que está tentando iniciar sua carreira no ramo musical. Quem vê nem imagina que o gaúcho de 24 anos já está aposentado. Sim, é isso mesmo: após uma carreira de quatro anos como jogador profissional de "League of Legends", Espeon não pensa mais em competir, e só joga de vez em quando, por diversão.

Espeon figurou entre os melhores jogadores de "LoL" do país e chegou a ser campeão brasileiro em 2013.

Se ele sente falta de jogar? "Um pouco. Eu sinto falta da rotina, do ambiente competitivo, da vida de pro player, da convivência, jogar competitivamente. Não de jogar o jogo em si".

De tudo um pouco: "LoL", música e empreendedorismo

Apesar de ter saído do game, o game não saiu de Espeon. Até hoje, o ex-jogador ainda cultiva fortes laços com pessoas que conheceu graças a "LoL", como seus amigos, atual namorada ou sócio da empresa Talkof.us, que lida com influenciadores e empresas.

O jovem soube investir em seu tempo fora das arenas: além da plataforma na qual divide a sociedade com seu amigo, Martin ainda faz aulas de produção musical e é chefe de logística, parcerias e desenvolvimento de produto na Nerd Group.

A comunidade do jogo nutre um carinho enorme pelo ex-pro player, que além de tocar na Party of Legends (festa especializada no nicho de jogadores de "League of Legends"), também está se aventurando em festivais de música eletrônica.

"Eu faço porque gosto e tenho dado uma estudada, mas sei que estou começando e tem bastante coisa para aprender. Dia 15 de abril eu vou tocar no Ohm Music Festival, em Uberlândia. Eu não fui convidado, eu ganhei uma votação de público e minha base de fãs me ajuda com isso", comenta o jovem. "É bem legal que muita gente que me conheceu do 'LoL' ainda me apoia."

Da esquerda para a direita: Martin “Espeon” Gonçalves, Gabriel "Kami" Bohm, Felipe “brTT” Gonçalves, Thúlio “sirT” Carlos e Fabio "Venon" dos Santos, campeões brasileiros em 2013 - Reprodução - Reprodução
Da esquerda para a direita: Martin “Espeon” Gonçalves, Gabriel "Kami" Bohm, Felipe “brTT” Gonçalves, Thúlio “sirT” Carlos e Fabio "Venon" dos Santos, campeões brasileiros em 2013
Imagem: Reprodução

E não é à toa, já que Espeon conquistou uma grande quantidade de seguidores por conta de sua trajetória no cenário competitivo. "Meu ápice como pro player foi ser campeão brasileiro em 2013 e considerado por algumas pessoas o melhor jogador da paiN Gaming no Wildcard."

Seu currículo de suporte ostenta nove equipes profissionais com nomes fortes como KaBuM, paiN Gaming e Nex Impetus, isso além de seus ganhos. "Com certeza é mais do que R$ 50 mil. Isso além de duas viagens internacionais para a Alemanha, uma para o Intel Extreme Masters de Hannover, em 2013, e o International Wildcard Tournament, realizado na Gamescom do mesmo ano na Colônia."

E olha que Espeon ainda precisou lidar com uma situação adversa: logo aos 6 anos, o menino teve descolamento espontâneo de retina por causa de sua miopia e então, novamente, aos 16 anos, houve novo descolamento.

Após quatro cirurgias, os médicos conseguiram colar sua retina, porém com uma perda parcial de visão - atualmente, ele possui cinco graus de miopia em seu olho esquerdo, enquanto no olho direito, Martin perdeu completamente sua visão e cuida para que a situação não se agrave.

Espeon fala sobre sua perda de visão

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Pior: com a moral baixa, ele mesmo duvidou de sua capacidade. "Eu me subestimei na época da paiN, ainda em 2013, que a gente estava perdendo bastante. Eu comecei a achar que minha visão me limitava como jogador e algumas pessoas do time também me fizeram acreditar nisso. Só depois eu vi que era bobagem. Na real, foi um momento difícil para todos nós."

Aposentado antes dos próprios pais

Filho de jornalistas, segundo Martin nem sua mãe (de 48 anos) ou seu pai (de 52) estão "perto de se aposentarem". No seu caso, a ideia de um afastamento do cenário competitivo começou a aparecer enquanto ele enfrentava sérios problemas com o Estúdio XP, time de "LoL" que não deu muito certo.

"Eu comecei a ver que estava chegando a hora de me aposentar quando vieram mais dificuldades para voltar a me erguer e eu comecei a não ter mais a vontade de jogar que eu tinha antes. A história do Estúdio XP foi terrível, era uma estrutura ruim, foi todo um tempo difícil e o time não foi o que a galera esperava."

"No final, o dono do time vendeu o Guilherme 'Vash' Del Buono por uns trocados e mandou geral embora. Foi tenso o suficiente pra eu resolver parar de jogar, poxa. A única coisa boa disso tudo é que a gente ficou com a vaga do Circuito Desafiante e vendemos ela."

Mas a aposentadoria aconteceu de fato no começo da segunda temporada do CBLoL 2016, quando o jogador não teve nenhuma proposta interessante suficiente pra continuar jogando.

Espeon trocou os headphones gamers pelos fones usados nas cabines de DJ - Reprodução/Beats Fotografia - Reprodução/Beats Fotografia
Espeon trocou os headphones gamers pelos fones usados nas cabines de DJ
Imagem: Reprodução/Beats Fotografia

O jovem, que antes cursava Engenharia em Sistemas Digitais na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, sempre foi apoiado pelos pais. Trancou a faculdade para se dedicar ao "LoL" e nunca mais voltou. "Até tinha um estágio em robótica, mas hoje em dia não tenho planos de voltar."

Quanto à carreira de DJ, Espeon brinca: "Enquanto eu não conseguir me sustentar só disso, eu sempre vou dizer que é hobbie. É o que eu quero, mas ainda acho que está bem longe."