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Brasileiros disputarão prêmio milionário de eSport pela primeira vez

SG e-sports é a primeira representante brasileira a chegar a um Major de "Dota 2" - Reprodução
SG e-sports é a primeira representante brasileira a chegar a um Major de "Dota 2" Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

24/03/2017 11h19

A equipe SG e-Sports fez história no "Dota 2", sendo a primeira lineup brasileira a se classificar para um Major do jogo.

Os Majors são campeonatos patrocinados pela própria Valve, produtora do jogo, e no caso de "Dota", os prêmios são ainda mais altos em comparação aos de "Counter-Strike: Global Offensive". Como exemplo, o Kiev Major, no qual os brasileiros competirão, terá uma premiação total de US$ 3 milhões.

Ah, tem mais essa: caso os nossos jogadores ganhem o torneio realizado lá na Ucrânia - sabemos que é um longo caminho, mas não custa sonhar -, eles serão convidados para o The International, o maior campeonato de "Dota" realizado anualmente e que, com a ajuda dos fãs, também oferece a maior premiação dos eSports.

Em 2016 por exemplo, a Valve deu uma bolada inicial de US$ 1,6 milhão, enquanto a quantia arrecadada pelo público foi mais de US$ 19 milhões, somando ao todo incríveis US$ 20,7 milhões para oferecer às 16 equipes participantes de toda a competição.

Mas como uma equipe brasileira chegou a este patamar competitivo? Todo Major possui suas qualificatórias por região, e a competição de Kiev não é diferente. Os brasileiros venceram as classificatórias sul-americanas do campeonato, derrotando fortes nomes como a equipe peruana Not Today, que já tem anos de experiência.

O cenário competitivo internacional do MOBA da Valve é acirrado e já está desenvolvido há muito tempo. No Brasil, por outro lado, ainda engatinhamos nesse quesito. Os jogadores, portanto, enfrentaram uma dura jornada para chegarem ao atual estágio.

"Jogar 'Dota' no Brasil é bem complicado, pouquíssimos times conseguem o apoio necessário", diz Otavio "Tavo" Gabriel ao UOL Jogos. Tavo é jogador da SG ao lado de William "hFn" Medeiros, Adriano "4dr" Machado, Danylo "KINGRD" Nascimento e Emilano "c4t" Ito. Este time está junto há aproximadamente nove meses e todos os integrantes jogam há mais de sete anos, desde o "Defense of the Ancients", pai do "Dota 2".

O apartamento no qual os pro players vivem é equipado com os melhores PCs e cadeiras 'gamer', próprias para competição de alto nível - Reprodução - Reprodução
O apartamento no qual os pro players vivem é equipado com os melhores PCs e cadeiras 'gamer', próprias para competição de alto nível
Imagem: Reprodução

"As duas maiores dificuldades foram a falta de apoio, e a barreira do ping para jogar torneios internacionais. A SG deu tudo que a gente precisava para classificar", diz o pro player. A Gaming House - local de concentração e treino - na qual a equipe fica instalada se encontra em Recife, aonde o ping, também conhecido por latência e que se refere ao tempo que demora entre uma ação executada pelo jogador realmente acontecer no game, do jogo é um dos melhores no Brasil.

"Uns dois anos atrás era bem complicado, só tomávamos dos gringos e existiam poucos torneios nacionais, sem contar a família que também te pressiona por estar fazendo algo muito arriscado. No início eles não me apoiavam, achavam que era brincadeira e não dava futuro, mas depois eles enxergaram que realmente dá para viver do joguinho."

O time é, sem dúvida, um dos melhores do país - os atletas já passaram por organizações de peso que aos poucos desistiram de investir no "Dota", como paiN Gaming, INTZ, CNB, TShow, entre outras. Recentemente, os jogadores viajaram para a China para disputar a World Electronic Sports Games (WESG), primeiro torneio internacional dos jogadores no qual eles terminaram em 5º/8º lugar.

"Eu sempre me perguntava qual a razão de o Brasil, com tantos talentos individuais, não ter nenhum time disputando campeonatos em nível internacional", comenta Mateus Cysne, um dos donos da SG, ao UOL Jogos.

A equipe SG na China, durante o campeonato WESG, ainda em janeiro de 2017 - Reprodução - Reprodução
A equipe SG na China, durante o campeonato WESG, ainda em janeiro de 2017
Imagem: Reprodução

"Juntei meus sócios e juntos resolvemos acreditar nesses cinco jogadores talentosos e dar a eles o que faltava: incentivo e profissionalização. Nós fomos a primeira organização a oferecer um contrato formal para eles. Isso foi um grande diferencial."

Os jogadores possuem uma estabilidade que poucas vezes pode ser vista no cenário de "Dota 2" no Brasil. "O que temos com eles é um contrato de patrocínio. Eles têm uma remuneração mensal, que está bem acima de qualquer outro valor no Brasil hoje. Essa foi nossa forma de mostrar pra eles que nós valorizamos o esforço e o trabalho duro, assim os atletas podem se dedicar muito mais e com muito mais empenho e felicidade."

Mateus acredita que seu time vai bem. "Não há dúvida que temos potencial. Com a conquista da vaga na Major, queremos dar esses resultados que os fãs estão esperando há anos. A partir daí, a máquina gira sozinha. Bons resultados trazem fãs, fãs trazem visibilidade e visibilidade garante a melhora no cenário brasileiro."

O evento principal do Kiev Major ocorre entre os dias 27 e 30 de abril em Kiev, na Ucrânia. Todas as partidas poderão ser acompanhadas ao vivo pelo canal oficial do campeonato no Twitch.