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Nem mesmo a pro player mais bem-sucedida escapa do preconceito

Comentários ofensivos, piadas e invasão de privacidade: mesmo assim, Scarlett continua no topo - Reprodução
Comentários ofensivos, piadas e invasão de privacidade: mesmo assim, Scarlett continua no topo Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

03/05/2017 10h17

Sasha "Scarlett" Hostyn é uma experiente jogadora de "StarCraft II". Atualmente com 24 anos, a canadense é a pro player que mais ganhou dinheiro nos eSports, sendo reconhecida até no Guiness Book pelo feito. Mesmo assim, o preconceito ainda está presente - e muito - em sua vida competitiva.

Scarlett começou a levar "StarCraft II" a sério em 2011, quando participou e ganhou o campeonato online feminino NESL Iron Lady. Porém, sua vitória gerou diversas reclamações. O motivo? A jogadora é uma mulher transgênero.

A repercussão foi tanta que Sasha foi se defender em um site de comunidade, explicando que havia sido convidada a participar do evento por um organizador que sabia muito bem de sua transexualidade.

Scarlett - Reprodução - Reprodução
Com passagens por diversas equipes profissionais como Eclypsia, Team Acer, Dead Pixels e Team expert; ela já foi treinar na Coreia do Sul por oito meses.
Imagem: Reprodução

“É verdade que eu sou transgênero, e eu até espero uma reação como essa. Eu nunca tentei chamar a atenção para nada em mim que não fosse minha habilidade no jogo, e não considero então que esse deva ser um problema”, escreveu Scarlett.

“A maior parte das meninas que eu conheço já sabiam, e não julgam nem se importam com isso. No que diz respeito ao jogo em si, não há (que eu saiba) qualquer vantagem ao se nascer homem ou mulher. Mas mesmo que houvesse, ser transgênero quer dizer que você nasceu com o cérebro do sexo oposto; ou seja, eu não teria qualquer vantagem ou desvantagem. Tudo que eu peço é que as pessoas tenham respeito e se refiram a mim como ‘ela’.”

Desde então, Sasha precisa aguentar piadinhas, comentários ofensivos e pessoas duvidando de sua capacidade. Ser mulher no meio de games já é difícil pelo preconceito, mas ser uma mulher transgênero requer ainda mais paciência.

Por conta disso, a pro player dificilmente fala sobre sua vida pessoal ou dá entrevistas. Ela reclama como as pessoas invadem sua privacidade e já recusou diversos convites para conversar com veículos como The New Yorker, CBC, entre outros.

É uma pena, já que sua carreira possui um currículo invejável. De acordo com o site e-Sports Earnings, Scarlett já recebeu US$ 174 mil em premiações de campeonatos, e também possui o recorde de jogadora profissional com mais títulos.

Scarlett 2 - Reprodução/Cameron Baird - Reprodução/Cameron Baird
Considerada uma das melhores pro players de "StarCraft" no mundo, ela coleciona apelidos como "Kriptonita coreana" por derrotar diversas vezes jogadores coreanos, que são conhecidos por dominar o jogo de estratégia.
Imagem: Reprodução/Cameron Baird

Tem mais: Sasha ainda faz isso enquanto lida com problemas constantes em seu pulso, por conta da famigerada Lesão por Esforço Repetitivo, distúrbio que acomete muitos astros dos eSports. 

Em uma das poucas vezes que Scarlett falou sobre sua transexualidade, ela reclamou quando diversos usuários discutiam se deveria ou não constar que ela era trans em sua página de informações de uma Wiki:

"É desrespeitoso, já que eu sempre tentei fazer com que isso não fosse um problema. Incluir isso é subversivo e semelhante a mencionar que alguém é o melhor jogador gay/negro/etc; características que não possuem qualquer relevância em como eles jogam."

Sasha continua jogando e, atualmente, encontra-se na 48ª posição no ranking mundial de "StarCraft II".