Topo

Como um robô da Nintendo salvou a indústria dos games do colapso

Reprodução
Imagem: Reprodução

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

03/07/2017 12h08

No início dos anos 1980, a Atari quase acabou com a indústria dos videogames nos EUA. Lado a lado com meia dúzia de concorrentes, a empresa inundou as prateleiras com jogos de qualidade duvidosa, acabando com a confiança dos consumidores e lojistas no formato.

A salvação só veio dois anos mais tarde, na forma de um pequeno robô vindo do Japão.

Em 1985, mais de 3 milhões de japoneses já tinham em casa o Famicom, primeiro console de mesa da Nintendo. O mercado do país não tinha sido afetado pelo 'crash' de 1983, e os jogadores tinham abraçado a plataforma por causa da qualidade de games como "Super Mario Bros.", "Duck Hunt" e "Excitebike".

Mas a Nintendo queria mais. Genro do então presidente da empresa no Japão, Minoru Arakawa foi a Nova York para fundar a Nintendo of America, que tinha como diretriz reproduzir no Ocidente o sucesso que os produtos da marca estavam conseguindo em sua terra natal.

Para cumprir tal missão, Arakawa precisaria ser criativo. Afinal, os americanos já não acreditavam mais que videogames prestavam. O excesso de games não vendidos era tamanho que cartuchos estavam sendo enterrados no deserto. Mas, ao lado de seu companheiro de negócios Howard Lincoln, o executivo bolou um engenhoso plano capaz de revitalizar o mercado em uma tacada só.

Anúncio do NES - Reprodução - Reprodução
"O Japão tem uma palavra para o videogame supremo... Nintendo," dizia o anúncio original do NES
Imagem: Reprodução

Antes de chegar aos consumidores, a Nintendo of America precisava convencer os lojistas de que valia a pena estocar unidades do Nintendo Entertainment System - a versão ocidental do Famicom.

Para tal, a estratégia adotada pela empresa foi bastante audaciosa: vender o console como uma espécie de 'brinquedo do futuro', e não como um videogame tradicional.

E a peça central desta estratégia de marketing era o curioso robô conhecido como R.O.B. (abreviação para 'Robotic Operating Buddy'). Em termos práticos, ele não passava de um acessório compatível com dois games pouco memoráveis ("Gyromite" e "Stack-Up"), mas era impactante o suficiente para vender o NES como algo inovador, diferente de tudo o que já tinha sido visto em termos de videogames.

O 'Cavalo de Troia' da Nintendo funcionou, e o NES rapidamente reavivou o interesse do público americano em games. O principal 'pacote' do NES, batizado de Deluxe Set, custava US$ 200, e vinha com o R.O.B., que girava e realizava comandos de acordo com as instruções dos games, a pistola NES Zapper, dois controles e dois jogos: "Gyromite" e "Duck Hunt".

Para assegurar o público de que o NES não protagonizaria uma segunda ocorrência do 'crash' de 1983, a Nintendo criou um selo de qualidade. Diferente do que acontecia na era Atari 2600, games precisavam ser aprovados pela dona do console antes de serem comercializados. Com o tempo, o público passou a confiar em tal selo.

Selo de qualidade da Nintendo - Divulgação/Nintendo - Divulgação/Nintendo
Este selo significava que você podia confiar no game que estava comprando
Imagem: Divulgação/Nintendo

Em 1989, a Nintendo já dominava completamente o mercado de videogames nos EUA, que tinha passado a valer US$ 5 bilhões - ou seja, 2 bilhões a mais do que tinha alcançado no auge da indústria antes do 'crash', em 1982.

Hoje, o R.O.B. é considerado uma espécie de mascote nostálgico da Nintendo, sendo um personagem jogável em games como "Super Smash Bros." e "Mario Kart DS". O robô que salvou o mercado dos games, porém, está dormente: como ele dependia de sinais luminosos emitidos pelas TVs de tubo da época, ele não funciona com as OLEDs e plasmas atuais.

Super Nintendo será relançado em versão moderna

Start