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Momento polêmico de "Call of Duty" fez jogador ser terrorista em atentado

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

15/09/2017 11h16

Desde os primeiros jogos, "Call of Duty" sempre foi celebrado pela narrativa cinematográfica e cheia de ação, pontuada por cenas incríveis de heroísmo e aventura. Mas o momento mais memorável da série de tiro passou longe disso tudo e colocou o jogador como parte de um atentado terrorista em um aeroporto. Até hoje, a missão "No Russian" de "Modern Warfare 2" (2009) é o ponto mais ousado e controverso de "CoD".

Na missão, você é colocado como um dos membros do grupo terrorista liderado por Vladimir Makarov, o vilão de "Modern Warfare 2", num atentado em um aeroporto em Moscou, na Rússia. O jogador está na pele de Joseph Allen, um agente infiltrado da CIA, que acompanha os terroristas enquanto eles abrem fogo contra civis. Mesmo não sendo forçado a atirar em ninguém (é possível apenas caminhar junto do grupo até o fim da fase), "No Russian" é uma missão com muitos elementos chocantes: pessoas correndo para todos os lados, civis abatidos pelos disparos do grupo e gritos de dor e pânico são constantes durante todo o estágio.

Na saída do aeroporto, o jogador e os outros terroristas se envolvem em um tiroteio com a segurança do local para, em seguida, ser eliminado pelos próprios companheiros. Aí vem a grande reviravolta: Makarov sabia que Allen era um agente infiltrado e seu corpo foi deixado para trás pelos terroristas para culpar os EUA pelo ataque e iniciar um conflito em grande escala entre a Rússia e os Estados Unidos.

É daí que vem o nome da fase: "No Russian" é o pedido que Makarov faz quando a missão começa. A frase não significa "não matem russos", como alguns jogadores imaginam, e sim "não falem russo", para não deixar provas de que o atentado foi feito por outro grupo que não os EUA.

No Russian - Reprodução - Reprodução
No final de "No Russian", o jogador é morto por Makarov no aeroporto, para convencer a Rússia de que os EUA foram responsáveis pelo atentado.
Imagem: Reprodução

A missão foi criada logo no começo do desenvolvimento de "Call of Duty: Modern Warfare 2". Um dos designers do jogo, Mohammad Alavi, contou ao site Magical Wasteland que a produtora Infinity Ward tinha três objetivos com essa fase: "explicar porque a Rússia atacaria os EUA, envolver o jogador emocionalmente com o vilão Makarov e fazer isso de uma forma memorável".

Alavi aponta que em um jogo de tiro em primeira pessoa, onde você nunca sai do ponto de vista do herói, é difícil construir um vilão e fazer o jogador acreditar nos motivos dele ser maligno.

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Segundo o produtor, nos primeiros protótipos de "No Russian", o massacre de civis acontecia bem no começo e boa parte da missão envolvia o tiroteio contra seguranças e soldados. A Infinity Ward teria descartado essas versões por parecer que abordavam de leve uma questão séria mas saiam pela tangente assim que a coisa ficava desconfortável.

"No Russian" é um dos momentos mais memoráveis e polêmicos de todos os "Call of Duty", justamente por levar a situação o mais longe possível. Você até pode atirar nos outros terroristas, mas eles atiram de volta e o líder, Makarov, não pode morrer. É possível pular a fase se, no começo do jogo, você escolher a opção de "não mostrar conteúdo sensível", mas uma vez lá dentro, só há um jeito de avançar, que é seguindo o atentado de perto, como testemunha do massacre no aeroporto.

Muitos fãs questionaram se não seria melhor apenas exibir o atentado em uma sequencia de computação gráfica entre uma fase e outra de "Modern Warfare 2" ou colocar o jogador no controle de um civil ao invés de ser parte do grupo terrorista, mesmo que como um agente da CIA infiltrado entre os vilões.

Para o designer de "Call of Duty", assistir a um filme do atentado não teria o mesmo impacto e envolvimento de participar da missão. E jogar como um civil naquela situação não daria ao jogador nenhuma opção de defesa e apenas o medo de morrer em um videogame. "E essa é uma situação tão normal que os jogadores nem tem medo disso hoje em dia", explica.

"No Russian" é uma missão polêmica que nasceu com objetivos narrativos. Em um "Call of Duty", jogo em que você atira milhares de balas contra exércitos de inimigos sem nome, uma fase que faz você não querer puxar o gatilho é, sem dúvida, um momento marcante e que não será esquecido tão cedo pelos fãs da série.

Call of Duty: WW2 - Divulgação - Divulgação
O próximo "Call of Duty" vai levar a série de volta para a Segunda Guerra Mundial e terá personagens mais heróicos, ao estilo de "Band of Brothers" e "O Resgate do Soldado Ryam", mas não vai fugir de polêmicas: o jogo vai retratar o Holocausto e permitirá jogar como um soldado alemão no Dia D, algo inédito na série de tiro.
Imagem: Divulgação

"Call of Duty: Modern Warfare 2" está disponível para PC, PlayStation 3 e Xbox 360. O próximo jogo da série, "Call of Duty: WW2", sai em 3 de novembro para PC, PS4 e Xbox One.