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Como os X-Men foram responsáveis pelo surgimento de "The Walking Dead"

Sucesso dos X-Men provocou debandada de artistas da Marvel na década de 1990 - Divulgação
Sucesso dos X-Men provocou debandada de artistas da Marvel na década de 1990 Imagem: Divulgação

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

30/09/2017 04h00

No começo dos anos 1990, não havia no mundo um grupo de super-heróis mais popular do que os X-Men. Os mutantes da Marvel eclipsavam grupos clássicos da editora, como o Quarteto Fantástico e os Vingadores. Wolverine era o herói favorito da garotada, mesmo sendo uma máquina de matar armada com um esqueleto inquebrável e garras afiadas (ok, talvez fosse por isso mesmo).

O sucesso dos X-Men levou a editora a expandir o universo mutante com várias outras equipes e personagens boladões. Foi quando os Novos Mutantes cresceram e viraram X-Force, quando Bishop veio do futuro e Cable veio de um futuro mais distante ainda. A influência de "Exterminador do Futuro 2" era tão notável quanto a variedade de mutantes e futuros alternativos que os autores inventavam quase que mensalmente.

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Entre roteiristas e desenhistas, muita gente talentosa (e também o Rob Liefeld) passou pelos gibis dos X-Men e títulos ligados aos heróis mutantes: Jim Lee, Marc Silvestri, Whilce Portacio, Chris Claremont. Todos criaram personagens marcantes nas revistas por onde passaram e receberam pagamentos módicos por isso, enquanto a editora ganhava lucros enormes com merchandising.

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Isso aconteceu também em outras publicações, como a revista do Homem-Aranha, que ganhou um fôlego novo na época com as ilustrações de Todd McFarlane e a introdução do vilão Venon. Na DC Comics, editora de "Superman", "Batman" e "Liga da Justiça", a situação era a mesma. Os artistas não tinham direitos sobre suas criações nas duas grandes editoras de HQs dos EUA.

X-odus e a criação da Image

Descontentes com a situação, em 1992 os artistas decidiram deixar a Marvel e fundar sua própria editora, a Image Comics. O evento foi apelidado de "X-odus", um trocadilho com a palava "exôdo", pois marcou a saida de muitos ilustradores e roteiristas dos gibis dos X-Men. Embora tenha saído da Marvel na ocasião, o autor veterano de "X-Men", Chris Claremont, não se tornou parceiro da Image.

Quando o acontecimento se tornou público, as ações da Marvel caíram em US$ 3,25.

Enquanto os acionistas se questionavam se a Marvel conseguiria manter o sucesso dos X-Men sem os artistas talentosos que faziam as historias, esses mesmos artistas definiam as regras do jogo na recém-fundada Image Comics:

. A Image não teria direitos sobre qualquer trabalho de um criador; o criador teria direito sobre suas criações.
. Nenhum parceiro da Image interferiria - criativa ou financeiramente - no trabalho de outro parceiro.
. A Image não possuiria nenhuma propriedade intelectual além de suas mrcas registradas: o nome e o logo da editora.

Cada um dos parceiros da Image tinha seu próprio estúdio e compartilhava apenas a logo da editora nas revistas.

Spawn - Reprodução - Reprodução
"Spawn" é a publicação mais antiga da Image ainda em circulação: já foram 250 edições da série principal
Imagem: Reprodução

Nessa época, Todd McFarlane lançou "Spawn", Jim Lee produziu "Wild C.A.Ts" e "Gen 13" e Rob Liefeld lançou "Youngblood", entre outras obras publicadas pelos fundadores da Image. Várias delas não duraram muito tempo e pareciam ideias recicladas do trabalho desses autores na Marvel.

As obras de maior popularidade eram as que se distanciavam do trabalho anterior do grupo, como "Spawn" (McFarlane) e "Witchblade", de Marc Silvestri.

Formada por um grupo de artistas sem experiência com administração, a Image passou por altos e baixos. Em 1996, Marc Silvestri retirou seu estúdio, a TopCow, da editora. No mesmo ano, Rob Liefeld também pulou fora do barco e, em 1999, Jim Lee vendeu o estúdio Wildstorm e seus personagens para a DC Comics.

Segundo Lee, a venda foi motivada pelo desejo de deixar as responsabilidades de publicação de lado para aproveitar melhor a oportunidade de fazer trabalhos criativos - o que ele queria era desenhar e não só vender HQs.

No começo dos anos 2000, a posição de "número três" do mercado de quadrinhos nos EUA não era mais exclusiva da Image, que lidava com as rivais Dark Horse e IDW Publishing.

Selo independente

Com o fim do sonho dos desnehistas de super-herois rebeldes, a Image começou a se diversificar e procurar novos autores. Foi assim que um novo parceiro entrou na editora: Robert Kirkman, que produzia uma HQ preto e branco sobre zumbis.

The Walking Dead - Reprodução - Reprodução
"Walking Dead" mostra as aventuras de Rick, seu filho Carl e outros sobreviventes no apocalipse zumbi
Imagem: Reprodução

"The Walking Dead" era totalmente diferente do "estilo Image" de fazer quadrinhos, sem páginas duplas e herois extravagantes em trajes sumários. Era uma trama sombria e distópica, focada mais nos conflitos humanos de um grupo de sobreviventes em um mundo tomado por mortos-vivos.

A série se tornou uma das mais duradouras da Image Comics, virou série de TV, rendeu livros e videogames, além de abrir o caminho para outras obras premiadas, como "Morning Glories", "Saga" e "The Manhattan Project".

Com essa guinada, a Image voltou a ser relevante no mercado editorial e é, hoje, a principal editora de quadrinhos independentes dos EUA, em grande parte pelo sucesso de "The Walking Dead". Com poucos heróis tradicionais, a editora abocanha cerca de 10% do mercado de quadrinhos norte-americano.

Apesar da popularidade de "The Walking Dead", as duas publicações mais duradouras da Image vem lá dos primórdios da editora. Em 2016, "Spawn contava com 250 edições e "Savage Dragon" (da TopCow, que voltou para a casa nos anos 2000) alcançou a marca de 200 edições.