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30/03/2011 - 10h10

Além do jogo: Videogames são arte? Será que isso importa?

GUILHERME SOLARI
Colaboração para o UOL
Discussão tão antiga quanto os próprios games emperra na definição de arte


Mais do que defender a capacidade expressiva de jogos como "Ico" é melhor saber que os games não precisam se legitimar



Videogame é arte? A velha questão que insiste em ressuscitar na mídia.

Uma das opiniões recentes que mais ganhou notoriedade no quesito polêmica veio do crítico norteamericano de cinema Roger Ebert, que no ano passado afirmou que os videogames jamais poderiam ser arte. Após uma avalanche de comentários de gamers enfurecidos, ele se retratou dizendo que talvez seja possível, mas que "nenhum jogador vivo hoje vai sobreviver até ver essa mídia como uma forma de arte".

Os jogadores costumam reagir citando títulos com traços artísticos, mas a questão envolve outra maior e ainda mais espinhosa: não existe consenso sobre o que é arte em primeiro lugar.

O crítico italiano Ricciotto Canudo definiu no início do século 20 as sete artes: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura e o cinema como a sétima. Segundo o dicionário Houaiss, arte é toda "produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana". Para Aristóteles a arte tem o objetivo de imitar a natureza, para Kant o propósito da arte é ela própria. E para a TV brasileira, artista é gente que aparece na TV brasileira. Vemos que "arte" é uma palavra muito repetida por aí, mas pouco refletida.

OPINIÕES DIVERGENTES
Divulgação
Para David Perry, jogos eletrônicos já podem ser considerados manifestações artísticas...
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...já Hideo Kojima, da série "Metal Gear", encara os games apenas como um tipo de serviço...
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...enquanto Tim Schafer acha que a galera tem que parar de reclamar e se dedicar a fazer jogos bons.
O problema da definição de arte cria divergências até em território amigo; os desenvolvedores. Há defensores ferrenhos de videogame como arte tais quais David Perry de "Earthworm Jim" e "MDK"; que não só considera os jogos eletrônicos uma forma artística como ainda uma bem competitiva frente às demais. Por outro lado, o criador da série "Metal Gear" Hideo Kojima, que ironicamente é conhecida por seus complexos enredos de influência cinematográfica, disse não considerar os videogames uma arte, mas uma espécie de serviço.

A reação da indústria sempre que algum dito "especialista" brada que videogames não são arte - Ebert confessou que sua experiência com games basicamente se limita a jogar "Myst" uns dez anos atrás. É como discutir cinema sem assistir filmes - levanta a questão: por que existe essa obsessão em videogames serem considerados arte?

"Eu acho que os desenvolvedores falam tanto sobre esse assunto porque eles não se sentem respeitados," disse em 2009 à IGN Tim "Grim Fandango" Schafer. "O que pode ser verdade, mas a melhor maneira de responder a isso é parar de reclamar e fazer jogos melhores".

Pedindo benção

De fato, é como se os videogames precisassem pedir benção para serem aceitos como mídia adulta. Sentimento de frustração encontrado também no depoimento à IGN de Alex Evans, o diretor de tecnologia de "Little Big Planet". Um jogo não apenas de pretensões claramente artísticas, mas também uma ferramenta de edição de níveis que permite aos usuários enormes possibilidades criativas. "É como se você precisasse pedir desculpas por trabalhar em jogos quando conhece estranhos em festas", desabafou Evans. "Eu acho que o motivo pelo qual nós somos defensivos como uma indústria é porque não somos mesmo levados a sério".

Historicamente, quando surge uma nova mídia costuma haver uma resistência pela geração que não cresceu com ela. A trajetória de aceitação dos quadrinhos é bem análoga à dos videogames. Na década de 1950, gibis chegaram a ser queimados nas ruas dos EUA em reação ao livro "Sedução dos Inocentes" do psiquiatra Fredic Wertham que culpava as HQs de super-herois de incitar delinquência juvenil, "perversões" sexuais, fascismo e ódio racial.

A gradual aceitação de conteúdo violento e sexual para um público adulto é um dos sinais de maturidade de uma mídia, e os videogames tem feito progresso nesse quesito. Basta lembrar que polêmica causaram as moçoilas de camisolinha de "Night Trap" do Sega CD em 1992, jogo que foi acusado de incentivar o "aprisionamento e morte de mulheres" por senadores norteamericanos.

Obviamente existem jogos com uma postura mais comercial e de entretenimento, como falou ano passado ao UOL Jogos o criador de "Braid" Jonathan Blow: "Hoje em dia é muito raro encontrar um jogo feito por alguém não apenas preocupado em ganhar dinheiro, mas em comunicar algo para outra pessoa. Algo muito esquecido e importante para o criador". Mas isso também não existe na música e no cinema? O próprio jogo de Blow, que apresenta uma impecável direção de arte e história madura sobre arrependimento, mostra como jogos podem sim ter uma postura autoral e expressiva.

Jonathan Blow fala sobre o mercado de games e mais


Talvez o principal argumento de videogames como arte é que são os próprios gamers, que se emocionaram jogando "Shadow of the Colossus", "Okami" ou "Out of this World", que decidem se eles são arte. Muitas das alegações contrárias partem de pessoas sem conhecimento de causa. Ebert sequer *jogou* os títulos que tão casualmente considerou não artísticos, como "Braid", "Bioshock" e "Flower"; e apenas viu trechos de gameplay. É como se Ebert resenhasse filmes baseados no trailer ou na sinopse, já que é precisamente a interatividade que torna essa mídia única e com o potencial de engajar as pessoas de forma muito distinta das demais.

No final, quem define o que é arte é quem é tocado por ela, não por aqueles que insistem em tentar ditar como ela deve ser. O resto, o que importa?

A coluna opinativa Além do Jogo trata do impacto dos games no chamado mundo real.

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