THÉO AZEVEDO
Enviado especial a San Jose

Até que para uma palestra que não estava lá criando grandes expectativas, a 'keynote' de Phil Harrison, presidente da Sony, atraiu um público invejável ao auditório localizado em frente ao centro de convenções onde acontece a GDC. Cerca de 40 minutos antes do início da conferência, a fila de acesso já dobrava o quarteirão. Parecia clima de conferência pré-E3.

Enquanto isso, funcionários da organização avisavam que qualquer registro da conferência estava proibido, seja via câmera digital, celulares, laptops etc. - a fiscalização existiu, mas, naturalmente, uma ou outra coisa acaba passando.

No palco do auditório, uma mesa chamava a atenção, em especial pelos exemplares do PlayStation 3, nas cores branca e prata, em exposição. Jamil Moledina, diretor da GDC, anunciou Phil Harrison, cujas primeiras palavras comemoraram o sucesso da marca PlayStation.

Em seguida, o executivo chamou o primeiro de vários convidados do evento, David Jaffe, diretor criativo de "God of War 2". Então, foi exibido um vídeo curto, com menos de um minuto, mas o suficiente para deixar boquiabertos os presentes. De fato, não parece um jogo para PS2.

Ferozmente, Kratos travou lutas com lances sensacionais, arrancando a cabeça de bestas enormes e até mesmo uma das asas de um enorme pássaro com este em pleno vôo. Nada além disso foi necessário para arrancar os aplausos mais empolgados do evento.

Jaffe aproveitou para dizer que o PlayStation 3 é a plataforma mais poderosa que ele já viu, o que soa praticamente como uma promissora profecia para aqueles que aguardam a aparição de "God of War" no videogame de próxima geração.

Então, o assunto passou a girar em torno do PSP, alardeado como a plataforma que mais rapidamente cresceu em 14 meses. Na próxima atualização, o portátil ganhará um browser compatível com Flash e, em outubro, um acessório com câmera de vídeo e comunicação por voz integrados.

Em breve, o portátil também será capaz de baixar softwares e rodá-los diretamente de cartões de memória, funcionalidade que a Sony pretende explorar à exaustão na emulação de games para o PlayStation original através do portátil, cuja integração com o PS3 via rede sem fio e entrada USB também foi reiterada.

O único game demonstrado para o PSP foi "LocoRoco", plataforma 2D em que o jogador controla uma bolha utilizando as leis da gravidade, com gráfico e atmosfera no melhor estilo "bonitinho".

Eis que Harrison passou para o prato mais aguardado do dia, o PlayStation 3. Logo de cara, o executivo pediu desculpas, dizendo que a Sony reserva as maiores surpresas e novidades do console para a próxima E3, que acontece em maio - ao menos, ele foi honesto e não nutriu falsas expectativas.

Ainda assim, certas intenções da companhia foram reiteradas, como o lançamento global simultâneo em novembro de 2006, na América do Norte, Ásia, Japão, Europa e Austrália. Preço e linha inicial de títulos? Só na E3 mesmo.

Harrison disse que a capacidade de produção do PlayStation 3 será muito maior se comparada a dos consoles anteriores, um alento para aqueles que não querem ver o console padecer com os mesmos problemas de escassez do concorrente, o Xbox 360. Além disso, o PS3 será totalmente compatíveis com jogos de PSOne e PS2 desde o primeiro dia disponível - outro cutucão na Microsoft.

Segundo Harrison, em junho as produtoras receberão a versão final do kit de desenvolvimento para o console, dizendo que tecnologias gráficas como Ageia, Unreal Engine e Havok já estão totalmente implementadas no console.

Em seguida, começou a sessão de demonstrações em tempo real, com o demo de um 'middleware' (uma espécie de tecnologia gráfica) exibindo uma série de unidades militares em um deserto. Diante de cada explosão, os corpos voavam pelo telão, de maneira realista, caindo em posições diferentes, rolando etc, numa qualidade de recursos de animação corporal nunca antes vistos em qualquer console.

Depois, foi exibido um automóvel, extremamente detalhado pelo zoom, com direito à textura fiel da borracha dos pneus. Alvejado por tiros, o veículo despedaçava-se aos poucos, não só na lataria, mas nas lanternas, pára-choques, maçanetas, capô e até na suspensão.

Aí foi a vez de um demo conceitual de uma Londres virtual, que estaria sendo utilizando para um jogo ainda não revelado (possivelmente "The Getaway", mostrado na E3 passada). Aí sim o PS3 começa a impressionar: pessoas com diferentes trajes e posturas, vários modelos de carros e aqueles tradicionais ônibus; tudo com um nível de detalhes sem precedentes. Dá gosto imaginar, por exemplo, um "GTA" com tal atmosfera.

O próximo da lista foi "Warhawk", um dos que estarão jogáveis na E3. Um simulador de combates aéreos mais focados na ação, boa qualidade de efeitos visuais, belas águas e nuvens. Porém, parece ser aquele gênero de jogo que, mesmo um passo além em termos de gráficos, parece não ter sofrido mudanças efetivamente significativas.

Então, Harrison passou para o assunto que dominou a conferência desde então: os recursos online do PlayStation 3, centralizados na rede focada em quatro "co", segundo Harrison, que são conteúdo, comunidade, comunicação e comércio. Co-desenvolvida pela Sony Online Entertainment, a rede centralizada do console terá acesso totalmente gratuito.

Em uma postura bastante democrática, a Sony quer criar um ambiente aberto, acessível a qualquer produtora terceirizada que deseja integrar seus produtos à rede, num setor que a companhia chama de EDI (Entertainment Worldwide Studios). Finalmente o defasado modelo em que cada produtora lidava diretamente com seu jogador online foi deixado para trás, dando espaço a uma rede centralizada nos mesmos moldes da bem sucedida Xbox Live.

E olha que a rede do PlayStation 3 já tem até cronograma definido: em junho ela será concluída, no mês seguinte acontece a fase de testes e, em setembro, finalmente ela terá moldes finais.

Para demonstrar algumas de suas funcionalidades, foram utilizados dois games de corrida, um de Fórmula 1 e outro chamado "MotorStorm", da Evolution Studios, com ATVs, motocicletas e caminhões em corridas off-road. Em ambos, serão permitidas microtransações online para download e aquisição de novo conteúdo, como pistas e veículos.

Depois Ted Price, da Insomniac Games, mostrou o jogo de ação em primeira pessoa "Resistance: Fall of a Man" (antigo "I-8"), com algumas armas bacanas e muitos tiros contra alienígenas. Foi possível ver que o produtor segurava um Dual Shock enquanto jogava, dando claros sinais de que o controle em forma de bumarangue do PS3 não é mesmo muito chegado a aparições públicas - a não ser envolto por uma redoma de vidro.

Com um público em sua maioria formado por produtores de games, Harrison falou sobre as tendências nas quais a Sony acredita para o futuro do entretenimento eletrônico, sendo a principal delas a distribuição digital de conteúdo, que o executivo coloca como a mudança mais dramática para os desenvolvedores de jogos.

Para Harrison, o download de jogos inteiros será uma realidade no PS3, junto com propagandas dentro dos jogos, conteúdo vendido por episódio e por aí vai. Para exemplificar o poder dos jogos enquanto meio de comunicação, o executivo citou "SOCOM 3", jogo para PS2 que acumula 39 milhões de jogatina online, levando em consideração todos que já passaram pelos ambientes virtuais do simulador militar.

Finalmente, Harrison disse acreditar no potencial de jogos que acompanham hardwares diferentes, como a Eye Toy, câmera do PlayStation 2. Ele citou o karaokê "Singstar", sucesso do console na Europa e que, com uma rede online, poderia ser ainda melhor, com a possibilidade de baixar novas músicas para o game, por exemplo.

Enfim, uma conferência que mais serviu para a Sony marcar território e "aparar arestas", depois de um longo período de especulações, rumores e boatos. Os demos não são suficientes para avaliar o PS3, algo que só poderá ser feito mesmo a partir da E3, em maio. Contudo, as mudanças de postura da companhia deixam claro que ela não é líder do mercado de consoles domésticos por acaso e, por isso, não deve ser subestimada.