Astro de dezenas de filmes, histórias em quadrinhos, desenhos animados, livros e, claro, videogames, Godzilla é um dos maiores símbolos da cultura pop do Japão, para orgulho deles ou não. Embora o lagarto gigante da Toho tenha sido dado como morto ao fim do filme "Godzilla Final Wars" (2004), isto não impediu a Atari e a Pipeworks Software de continuar com o legado do personagem, em um jogo que segue com a história de seus dois antecessores para consoles da geração passada, "Godzilla: Destroy All Monsters Melee" e "Godzilla: Save the Earth". A julgar pelo resultado, aonde quer que o monstrão esteja, deve estar se revirando em sua tumba.
Mantendo a tradiçãoDurante seus mais de 40 anos de glória, Godzilla rodou bastante e encontrou muita gente esquisita, como homens das cavernas, fadas, alienígenas, agentes secretos, ninjas e até mesmo alguns personagens da Marvel. Sem dúvida o bicho tem bagagem e, se há algo em que o jogo acerta em cheio é na seleção de personagens: ela inclui alguns muito queridos por fãs, como o dragão espacial de três cabeças King Ghidorah, a mariposa Mothra, a planta gigante Biollante, os monstros robóticos MechaGodzilla e Gigan, e até mesmo alguns mais obscuros, como o andróide Jet Jaguar e o dinossauro Anguirus, com direito até à forte presença da lendária nave Atragon.
Outra coisa que o jogo parece seguir à risca é a narrativa: a maioria dos filmes de Godzilla nunca teve muito sentido, e constantemente o astro acaba perdendo destaque para algum personagem bizarro ou situações sem muita lógica. Aqui acontece o mesmo, pois ele divide a tela com uma porção de personagens classificados entre quatro facções: Earth Defenders, os monstros bonzinhos; Global Defense Force, os robôs gigantes; Aliens, os alienígenas que querem dominar a Terra; e os Mutants. que basicamente são os monstros que estão lá só para fazer volume e criar mais confusão. Todo mundo enrolado em uma trama sobre cristais misteriosos que caem do céu e alteram o humor das criaturas, tendo a ver com um ataque alienígena ou coisa que o valha.
Pode não parecer, mas a mitologia da série é muito interessante e prende a atenção. São criaturas bizarras em tramas sem pé nem cabeça que têm um charme irresistível, talvez pela precariedade das produções que as criaram ou por todo o conjunto da maluquice. Pena que nada disso é explorado como merecia.
Lento e desengonçadoNo modo de história, você deve escolher um monstro e seguir por objetivos determinados, que geralmente consistem em enfrentar um monstro ou dois, atacar cristais gigantes ou simplesmente quebrar tudo o que ver pela frente.
Tocar o terror no planeta não é nada difícil. Godzilla, por exemplo, faz isso com socos e chutes, que variam de acordo com o movimento realizado com o Wii Remote, e também com sua rajada radioativa. Mas não se empolgue muito, pois na prática isto não funciona como devia: os movimentos são lentos e é, sabe lá por qual motivo, o monstrão insiste em sempre soltar seu poderoso raio para o céu. Ainda que alguém possa dizer que os controles falhos sejam propositais, afinal os próprios monstros são lentos e desengonçados, o jogo não parece querer ser um simulador, portanto é seguro dizer que os controles são realmente ruins.
A simplicidade dos combates também incomoda. Não há muitas opções de ataque, a não ser os chamados "Power Surges", golpes especiais acumulados ao absorver a energia dos cristais. Godzilla, ao entrar neste modo, fica maior e ganha um montão de estrias vermelhas, o que lhe dá alguns ataques mais poderosos, mas como geralmente é complicado mirar e acertar alguém de propósito, o efeito é mais visual do que prático.
Se você, de certa maneira, conseguir sobreviver à história e continuar empolgado com o jogo, terá ainda algum material para explorar. Muitos dos monstros devem ser habilitados através da troca por pontos e há um modo multiplayer. Infelizmente as partidas seguem o mesmo ritmo do modo para um jogador, com combates simples e repetitivos.
Grande e feioApesar da grande variedade de criaturas, o jogo nunca consegue fazer jus ao tamanho delas. Os cenários são pequenos e não há uma sensação de peso ou de proporção dos bichos, com alguns poucos prédios ou outros objetos de cena que possam servir como referência ao seu tamanho.
Além disso, os gráficos são muito fracos, com modelos que apresentam pouquíssimos detalhes e texturas estouradas ou que simplesmente se recusam a carregar. O sistema de colisão parece inexistente, com prédios que desaparecem ou são demolidos sem deixar rastro. A câmera, então, nunca consegue mostrar o combate por inteiro.
"Godzilla Unleashed" se mostra um jogo é tão pobre que até mesmo para contar sua história utiliza recursos antiquados, com a narrativa mostrada por painéis estáticos em conjunto com grandes blocos de texto e uma dublagem dura de engolir - o que, novamente, não parece ser proposital para simular as tradicionais dublagens horrendas dos filmes em suas versões ocidentais.
CONSIDERAÇÕES
Ainda não foi desta vez que Godzilla conseguiu aparecer em um jogo à sua altura - algo que tenta fazer desde os tempos do Nintendo de 8 bits. "Godzilla Unleashed" é pobre e feito com pouco cuidado, não funcionando como deveria e servindo apenas para os masoquistas ou admiradores do universo do lagartão e das outras criaturas criadas pelo estúdio Toho.