Zack & Wiki: Quest for Barbaros' Treasure

FABIO PANCHERI
Da Redação

Bem esperta, a Nintendo enviou um kit de desenvolvimento do Wii para a Telltale Games que, na época, começava a desenvolver uma série inédita de episódios do inesquecível "Sam & Max". O Wii, com seu controle sensível aos movimentos e que também funciona como apontador, parecia perfeito para o estilo do jogo. Mais de um ano depois e seis aventuras de "Sam & Max" para PC, com direito a uma segunda temporada começando neste mês, nenhum sinal da dupla no Wii, mas outras empresas entenderam o recado.

Conhecido inicialmente como "Project Treasure Island Z", "Zack and Wiki: Quest For Barbaros' Treasure" é um quebra-cabeça de aventura que abusa da mecânica do Wii-Remote, controle sensível aos movimentos, mas que funciona também como um mouse tridimensional. O jogador interage com o ambiente e personagens apontando o controle para a tela. Além disso, em determinados momentos, deve-se imitar movimentos da vida real como girar uma chave ou chacoalhar um sino. Do controle ao visual, tudo é muito agradável, mas não se deixe encanar pela roupa infantil: ele tem desafios para fazer gente grande pular de alegria quando resolvidos.

Para um jogador, mas cooperativo

Zack é um pirata que busca o lendário tesouro de Barbaros. Bem, essa não era a missão original, mas após ser atacado o jovem cai em uma misteriosa ilha e encontra a caveira de Bárbaros, que lhe dá a dica. Ao seu lado está Wiki, um macaco dourado voador, que tem o dom de transformar inimigos em objetos úteis e, de quebra, espantar a maldição dos tesouros da ilha - fizeram pedacinho do pobre Barbaros e agora ele precisa da ajuda do mundo dos vivos.

A ação dispensa a extensão Nunchuck do controle para se aproveitar exclusivamente dos sensores do Wii-Remote. A diferença é que enquanto neste último ano dezenas de títulos falharam em criar algo intuitivo e simples, "Quest For Barbaros' Treasure" faz isso muito bem, oferecendo diversão e desafio ao mesmo tempo em que mantém o jogo bem acessível - premissa estabelecida por "Wii Sports", mas geralmente esquecida pelos produtores.

O jogador não controla Zack diretamente; ao invés disso, aponta para a tela indicando o caminho a ser seguido. Ao chegar ao destino, um zoom na tela permite visualizar objetos que podem ser "clicados" com o botão A. A partir daí entra em cena a massa cinzenta do jogador para resolver os quebra-cabeças, como por exemplo, alinhar espelhos para refletir energia para um gerador ou improvisar algum objeto como gancho para desarmar uma armadilha. Apesar de a embalagem indicar para um jogador, é uma experiência que pode ser compartilhada com outros ao seu lado, como filho, amigo, namorada ou todos tentando descobrir qual é o macete da fase em questão. Com controles adicionais, e sem interferir na ação, eles podem até apontar para tela para realçar itens eventualmente importantes na solução. Quatro Wii-Remotes juntos pensam melhor que um, já diziam nossas avós.

No geral, os quebra-cabeças são intuitivos, justos e alguns têm mais de uma forma de resolver, mas envolvem uma certa dose de tentativa e erro. Depois da solução, vem aquela sensação de "era tão óbvio". Quem viveu a era de ouro no gênero no PC que rendeu pérolas como "Sam & Max", "Day of the Tentacle" e "Monkey Island" conhece bem esse sentimento. Voltando ao presente, mais frustrante do que empacar - que pode ser resolvido comprando algumas dicas do "Oracle Tickets" - é lutar contra o sensor de movimentos do Wii-Remote que insiste em não virar a chave ou puxar o objeto. Não é sempre, mas acontece. Para chutar números, o controle fica entre 90% de diversão e 10% de frustração.

Seguro para adultos e crianças

Se falta a "Quest For Barbaros' Treasure" um enredo mais profundo - que se diga nem cabe na proposta do jogo - ao menos os personagens têm charme para cativar. Mesmo que Zack seja de poucas palavras, é divertido vê-lo em ação pelo cenário ao lado de Wiki, que sempre causa alguma maluquice com suas ações. Personagens secundários, como o medroso e divertido coelho Johnny Styles, piloto de Zack, também dão uma pitada de graça na aventura. Mesmo com algumas poucas qualidades, no entanto, nenhum deles concorre ao Oscar de personagem revelação do ano.

O jogo tem um visual bem agradável que lembra sessões de desenho de manhã de sábado. Cada personagem tem seu leque de animações, que se repetem com certa freqüência, mas não a ponto de perderem a naturalidade. O mapa da ilha é dividido em áreas temáticas que além da tradicional selva tropical incluem uma área vulcânica, outra coberta de gelo e uma mal-assombrada. Em momentos mais intensos não é raro ver uma queda da taxa de quadros por segundo que não chega a prejudicar a ação, mas é curioso devido ao gênero do jogo.

A aventura dura por volta de 15 horas - acima da média dos games atuais - e ao terminar o jogador pode revistar alguns dos estágios para completar missões paralelas e destravar novos tesouros. Ou seja, além de ser um bom jogo, tem duração e uma dose de "replay" que garantem o investimento. Aliás, vale comentar que ele custa menos que os títulos concorrentes: nos EUA, "Quest For Barbaros' Treasure" é vendido por US$ 49, dez dólares a menos que o preço padrão dos títulos para o Wii.