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Child of Light

Rodrigo Guerra

Do UOL, em São Paulo

13/05/2014 12h14

"Child of Light" é um jogo com alma de jogo independente. Isso é surpreendente, principalmente por ter vindo de uma empresa grande como a Ubisoft, que deu liberdade para a equipe fazer um jogo despretensioso, mas ao mesmo com carisma sem igual.

A história de Aurora e seus amigos é comovente e divertida, gostosa de acompanhar e com um toque infantil que toca a alma. Talvez por isso, ou pelo fato de ser um jogo por download, é notório que alguns personagens poderiam ser melhor explorados – mas por ser um game com cara de conto de fadas esse ponto até passa quase despercebido.

As mecânicas são divertidas e fazem referência aos melhores jogos japoneses de RPG, mas dando um toque de simplicidade que se faz necessário nos dias atuais e vão entretê-lo ao longo das quase 20 horas de duração da aventura toda.


 

Introdução

Criado pelo estúdio Ubisoft Montreal, "Child of Light" conta a história da princesa Aurora, uma menina que acaba caindo em um sono profundo e acorda em Lemúria, um reino mágico que, de alguma forma, tem ligação com o mundo da garota.

O pai de Aurora pensa que ela está morta e cai em profunda depressão. Enquanto isso, em Lemúria, Aurora não encontra um momento sequer de descanso. Triste e desesperada, a princesa embarca em uma aventura na tentativa de voltar para casa e encontrar seus familiares. Mas a missão é difícil para uma simples garotinha e, por sorte, ela encontra amigos para seguir sua aventura.

"Child of Light" é um jogo de RPG que faz homenagem aos jogos do gênero, principalmente os japoneses, como "Odin Sphere", "Final Fantasy" e outros.

Pontos Positivos

Bom conto de fadas

A história de crescimento e descoberta de Aurora não é, nem de longe, algo novo e inexplorado. Entretanto, a forma que o time de Montreal a conta é o que vai deixar você intrigado.  Todos os diálogos de "Child of Light" são em poesia, o que passa a ilusão de que estamos realmente jogando um conto de fadas.

Para quem não entende nem mesmo uma pitada de inglês, "Child of Light" está todo dublado e legendado em português. Dessa forma, não será difícil entender a história de Aurora em Lemúria e os diálogos com seus amigos nessa jornada de volta para casa.

Os encontros com novos amigos sempre são bem explorados com versos que mostram suas personalidades e anseios particulares. Às vezes, as motivações são simples e vão do "não tenho nada para fazer aqui, por isso vou acompanhá-la" ao mais profundo "preciso libertar minha tribo de um mal que fiz", o que acaba sempre sendo divertido encontrar novos aliados.

O próprio cenário tem algo a adicionar ao conto. As florestas, os palácios e até mesmo as cidades e vilarejos mostram que Lemúria é um lugar que transpira poesia em todos os cantos.

Direção de arte impecável

A arte de "Child of Light" lembra muito um quadro em movimento. O jogo foi feito na engine UbiArt, a mesma de "Rayman Origins", mas o traço lembra mais uma pintura de aquarela do que um desenho animado.

O design foi criado para lembrar um livro infantil, o que mostra a preocupação com a equipe de arte em fazer com que o jogador sinta que está presenciando um conto de fadas ao vivo.

Os personagens controlados pelo jogador são fofos e adoráveis, mas o mesmo não pode ser dito dos inimigos e monstros que infestam o mundo de Lemúria. Esses sim são assustadores e temíveis - e você não gostaria que aparecessem em seus sonhos.

O mesmo pode ser dito do som. A trilha sonora é simplesmente adorável e condiz com cada momento que você vê na tela e o tema de batalha é tão gostoso de ser ouvido que você vai ficar com ele na cabeça por algum tempo.

Mecânicas inteligentes e divertidas

Aqui é onde todas as referências a RPGs japoneses ficam evidentes. "Child of Light" pode ter seu gênero divido entre um mundo de exploração em 2D, que lembra "Muramasa", e os combates em turnos, que são onipresentes nos jogos orientais.

No início do jogo Aurora tem desafios comuns aos jogos 2D, como saltar de uma plataforma para outra, empurrar objetos e coisas do tipo. Mas depois ela ganha o poder de voar e o cenário fica livre para ser explorado. Nesse momento você consegue ver as belas paisagens do game e pode literalmente passar horas e mais horas descobrindo os itens secretos que estão escondidos pelo mapa.

Já os combates seguem o estilo padrão dos RPGs japoneses e são desafiadores o suficiente para você imaginar formas inteligentes de tirar proveito do sistema. Na tela de batalha você vê uma barra de ação, onde todos os envolvidos no combate aparecem.

Você deve calcular seus movimentos levando em consideração o tempo que eles levam para serem executados e também o que seus inimigos podem fazer. Caso seu personagem (ou inimigo) receba um golpe, a ação é interrompida e você tem que esperar um pouco mais antes de retrucar.

Depois de aprender o esquema de jogo, você logo vai notar que os inimigos normais não oferecem tanto desafio, mas mesmo assim as batalhas são divertidas o suficiente para que você fique instigado para ver o que os novos personagens fazem nas batalhas – e isso vai acontecer com certa regularidade.

As batalhas contra chefes são o ponto principal para você saber se é realmente um bom estrategista. Ao longo da luta você vai descobrindo os pontos fracos do inimigo e a melhor forma de derrotá-los.

Os subsistemas também são interessantes. No lugar de comprar armas e equipamentos mais fortes, Aurora e amigos podem usar gemas preciosas chamadas Oculi, que melhoram certos atributos dos personagens, como aumentar o dano físico ou a chance de esquivar de ataques. Essas gemas podem ser combinadas para aumentar seus poderes e até virar outras com efeitos completamente diferentes.

Pontos Negativos

Personagens pouco explorados

"Child of Light" é um jogo maravilhoso e com uma história tocante, principalmente quando falamos de Aurora, que é a linha guia nesse mundo fantástico. Porém, é notável que alguns personagens são pouco explorados, tanto na história quanto no próprio sistema de batalha.

Isso fica ainda mais evidente pelas lutas que permitem usar apenas dois heróis ao mesmo tempo – em certa altura do game temos oito personagens no grupo. Esse número é tão alto que ao terminar o game percebi que cheguei ao final sem usar um deles. Assim, penso que as batalhas poderiam ter mais participantes para aproveitar melhor todo o elenco.

Nota: 8 (Ótimo)