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Aliens: Colonial Marines

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

27/02/2013 19h46

Produção das mais enroladas, "Aliens: Colonial Marines" é um exemplo de como não se deve produzir um game. Engavetado diversas vezes, passado para desenvolvedores terceirizados e, pior de tudo, divulgado de maneira mentirosa, o jogo de tiro é um fiasco vergonhoso da Gearbox Software.

Com gráficos inaceitáveis para os padrões atuais, história jogada de escanteio - em um título que se propõe a ser 'canônico' para a saga "Aliens" - e falhas técnicas grotescas, "Colonial Marines" é um desserviço para a franquia e para os games. As boas idéias do multiplayer e da evolução persistente são desperdiçadas em um jogo simplesmente ruim.

O longa-metragem "Prometheus" (2012) se livrou de uma conquista ingrata: "Colonial Marines" é a pior coisa que já aconteceu com "Aliens".

Introdução

O jogo de tiro "Aliens: Colonial Marines" leva o jogador em uma aventura espacial ligada diretamente aos assustadores filmes de Ridley Scott e James Cameron. No controle de um fuzileiro espacial, o jogador enfrenta os mortíferos xenomorfos enquanto explora a nave USS Sulaco.

Na prática, você anda e atira no que vier pela frente, sejam Xenos ou soldados da corporação Weyland-Yutani. Algumas coisas são explicadas de forma superficial por fuzileiros pra lá de estereotipados - ou nem isso.

O jogo traz também modos de jogo multiplayer, tanto competitivo quanto cooperativo. Você pode jogar com os xenomorfos ou com fuzileiros. Sua experiência e equipamentos são persistentes, assim ao subir de nível e melhorar uma arma, pode usar isso tanto na campanha quanto no multiplayer.

Pontos Negativos

História mal contada

"Colonial Marines" deveria ser uma parte canônica da franquia "Aliens". Filmes e outros produtos que viessem no futuro deveriam levar a trama do jogo em consideração. Porém, parece que esqueceram de avisar a equipe de desenvolvimento. O roteiro é descartado rapidamente durante a ação, deixando os fãs sozinhos com suas especulações.

O jogo se situa entre o segundo e o terceiro filmes, mas não tenta explicar como os fuzileiros estão no planeta LV426, como a colônia Hadley's Hope ainda está lá e mesmo a presença de personagens como Hicks, por exemplo. "Essa é uma história longa demais para explicar, vamos matar xenomorfos!" é tudo que você precisa saber, segundo "Colonial Marines".

As fases nunca vão além do "vá em frente e mate os monstros". Até o primeiro alien aparecer, o jogo tenta construir algum suspense. Depois, as criaturas surgem aos montes, se atirando na direção do jogador. Um dia os Xenos foram as criaturas mais mortíferas do espaço, mas aqui são frágeis como baratas. E nem precisa se preocupar com o sangue ácido, ele para de funcionar assim que o bicho está no chão.

Feio e defeituoso

"Colonial Marines" é um jogo feio, com gráficos simplórios e desprovidos de efeitos de iluminação, partículas ou qualquer tentativa de impressionar o jogador. De fato, jogos de tiro do PlayStation 2, como "Black", são muito mais bonitos do que este "Aliens". É difícil criar qualquer sensação de medo e suspense com a produção pobre que permeia "Colonial Marines".

Os modelos de personagem são toscos e ainda sofrem com problemas de colisão, uma movimentação estranha e inteligência artificial inexistente. Soldados inimigos passam correndo de costas por você e seus aliados e saltam por cima de qualquer proteção para ficarem parados na sua frente, esperando para serem fuzilados.

Os alienígenas são uma ofensa para a criação macabra do artista H.R. Giger. Não metem medo em ninguém, nem quando se aproximam pelas paredes ou pelo teto. Pior ainda: quando o pobre xenomorfo tenta se esgueirar por baixo de uma plataforma para pegar os fuzileiros por trás, sua cauda atravessa a superfície, por uma falha de colisão. Você vê a criatura vindo como se fosse um tubarão em águas de desenho animado.

O combate segue o ritmo quebrado do resto do jogo: você toma tiros vindos do nada e não existe sensação de impacto nos ataques dos Xenos. Você vê o inimigo disparar a arma em uma direção e o tiro acertar você pelo lado oposto. O jogo tem armas bacanas, com tiros secundários bem bolados (uma metralhadora equipada com um pequeno lança-chamas, por exemplo) mas não tem graça nenhuma explorar essas ferramentas para executar um trabalho tão chato.

As falha técnicas afetam até mesmo as conquistas e troféus do jogo - às vezes, a favor do jogador. Em uma ocasião, ganhei um troféu ao eliminar um xeno com um disparo de shotgun de perto (teoricamente, com a arma dentro de sua boca). Porém, na prática o que rolou foi: eu estava trocando de arma e o alien me matou. Por algum motivo, o troféu pipocou na tela.

Poucas produções de orçamento elevado, com uma marca forte no título e tanto 'hype' ao redor resultaram em jogos tão ruins. Jogadores veteranos podem ficar à vontade para traçar comparações com "John Romero's Daikatana".

Idéias mal aproveitadas

"Aliens: Colonial Mariens" tinha potencial para ser um bom jogo. O multiplayer é cheio de boas idéias mal aproveitadas, desperdiçadas pelo acabamento tosco do game. As modalidades de jogo incentivam o trabalho em equipe, seja dos fuzileiros lutando para sobreviver ou do time xenomorfo, que se vale de passagens secretas pelo mapa e habilidades especiais para derrubar suas vitimas.

O melhor modo de jogo, "Escape", seria sensacional em um jogo melhor produzido: você precisa passar por fases da campanha com um grupo de colegas fuzileiros, enquanto são caçados pelos jogadores que controlam os aliens. A quantidade de vezes que seu personagem pode voltar para a partida é limitada, ao contrário dos xenos. Uma ótima ideia executada em um péssimo jogo.

Porém, é válido notar que esse multiplayer assimétrico não é uma criação de "Colonial Marines". Jogos como "Aliens vs. Predator" (2010) - para ficar apenas na geração atual de consoles - já ofereciam sistemas parecidos e com menos problemas técnicos.

Uma boa ideia de "Colonial Marines" é o sistema de evolução persistente: você acumula pontos de experiência cumprindo objetivos, matando inimigos e vencendo partidas multiplayer, por exemplo. Ao subir de nível, libera pontos para aprimorar suas armas e equipamentos.

Seria uma maneira de personalizar o game ao seu estilo de jogo, mas, novamente, a falta de acabamento deixa a experiência mais pobre. O resultado das customizações faz pouca diferença. No caso de mudanças cosméticas, o jogo tem opções limitadas, principalmente no que se refere ao rosto dos personagens: são 10 modelos masculinos - e nenhum é exatamente muito legal - e apenas 2 variações femininas.

Nota: 2 (Desprezível)