Armored Core 4

HENRIQUE SAMPAIO
Colaboração para o UOL

Robôs gigantes sempre foram muito apreciados, principalmente por fãs de ficção científica e entusiatas da cultura japonesa. Tanto é que os gigantes de metal possuem até mesmo diferentes vertentes dentro do universo dos jogos eletrônicos. Existem aqueles que se preocupam em dar ao jogador a sensação de estar controlando um robô de verdade, com toda a complexidade dos simuladores de vôo, e os que dão prioridade unicamente à ação.

"Armored Core 4" enquadra-se no canto extremo da segunda vertente, primando pela velocidade, agilidade e poder destrutivo dos monstrengos. E além de cumprir este papel muito bem, ainda dá ao jogador a oportunidade de criar o robô de seus sonhos, com opções quase infinitas de customização. E embora tudo isso seja verdade, "Armored Core 4" está longe de ocupar o posto definitivo dos jogos de ação com robôs.

Um futuro possível?

Em um mundo de desigualdades sociais, manifestações, problemas ambientais e inúmeras questões políticas, as pessoas passam a acreditar em quatro grandes companhias emergentes, que prometem segurança em meio ao caos. Uma nova esperança. Tais empresas se aliam e desenvolvem a tecnologia Armored Core, capaz de dar vida à imensos robôs. Com eles, a aliança toma o poder das maiores nações da Terra, estabelecendo uma nova ordem mundial, a Pax Economica. O sistema, no entanto, é uma fachada para uma nova era de escravidão. Cabe a você, representante do movimento revolucionário Raven, acabar com essa tirania.

Apesar do fantástico universo, o jogo falha em te envolver de forma efetiva à história. Você começa a jogar sem mesmo saber qual é seu papel em meio aos tiros e explosões da primeira missão. Com seu avanço, as coisas ficam mais claras: narradores o deixam a par dos acontecimentos do mundo de "Armored Core 4" a cada nova missão e capítulo. No entanto, com um enredo tão complexo (e contado da forma errada), é fácil perder-se na história e simplesmente deixar de acompanhá-la.

Belo e intenso

"Armored Core 4" pode não trazer a complexidade dos "simuladores de robô", mas isso não faz dele um jogo fácil. Afinal, se controlar o gigante já exige uma certa habilidade, mirar, atirar, voar, trocar de armas e ativar as turbinas nas horas certas requerirão algumas horas de prática. E acredite, para ter algum sucesso no jogo, será preciso dominar todas os comandos, visto que você usará, no mínimo, dois ou três deles simultaneamente.

Você usa uma turbina para ganhar velocidade, enquanto desliza pelo chão ou oceano. Pressionando o gatilho de turbina novamente, seu robô levanta vôo. Embora seja possível permanecer no ar por muito tempo e atingir incríveis alturas, você cai assim que a barra que mede a potência de suas turbinas se esvazia, sendo necessário esperar até que ela seja recarregada novamente para executar a ação.

Independentemente de seus objetivos em cada missão, você passará a maior parte do tempo desviando de projéteis e detonando gigantes de metal em alta velocidade, seja no ar, na terra ou planando sobre o oceano. A ação, quando ocorrida em ambientes abertos, é extremamente prazerosa - desde que você tenha dominado os controles.

A experiência é enaltecida pela belíssima trilha sonora, que foge da obviedade das orquestras e do techno, intensificando a ação com uma mistura inteligente de rock e pop, com direito a violão, elementos da música eletrônica e até mesmo coral.

Visualmente, é um show a parte. "Armored Core 4" traz paletas de cores muito bem planejadas para cada fase, que aliadas ao acabamento artístico resultam em cenários ricos. A missão do deserto, por exemplo, mistura com maestria a incidência de luz e tons alaranjados, que combinados a um efeito de distorção, gera uma forte sensação de calor. Cidades possuem prédios que se fragmentam aos poucos, até virarem pó. Ambientes fechados, geralmente, também possuem um alto grau de destruição.

Há, no entanto, algumas exceções, como fases com efeitos exagerados de iluminação ou cenários tão crus em detalhes que simplesmente não transmitem vida, ao contrário dos exemplos dados.

As versões para PlayStation 3 e Xbox 360 de "Armored Core 4" são praticamente idênticas. Em ambos os consoles o jogo roda a perfeitos 60 quadros por segundo, com pouquíssimos momentos de lentidão. A única diferença, talvez, seja o contraste da imagem da versão para Xbox 360, que conta com uma iluminação mais nítida.

Frustração inevitável

Um problema gravíssimo de "Armored Core 4" é a desnecessária limitação de inúmeros aspectos. As missões são curtíssimas e duram, no máximo, cinco ou seis minutos. Muitas vezes, a fase chega ao fim antes mesmo da ação começar a esquentar. Há um único objetivo para cada missão, como destruir um determinado alvo ou acabar com todos os oponentes. Portanto, esqueça as reviravoltas ou objetivos secundários, características de outros jogos do gênero.

A outra limitação é mais literal: espaço. Quase todas as missões acontecem em áreas pré-definidas. Mesmo que os cenários sejam completamente abertos, como um deserto ou uma plataforma no meio do oceano, sua movimentação é permitida apenas dentro de um campo invisível. Permaneça fora dele por algum tempo e a missão será automaticamente cancelada. Um problema dos jogos do gênero para consoles de gerações passadas que deveria ter sido melhor solucionado na nova geração.

Além destes, há outros fatores que comprometem a diversão em menores proporções, como o sistema de mira, que recusa a travar nos oponentes em alguns momentos e a grande quantidade de ambientes fechados, que dificultam a mobilidade de seu robô.

Complexo demais, divertido de menos

Um dos grandes atrativos de "Armored Core 4" é a possibilidade de customizar seu robô com um sem-número de peças e armas. No começo, você escolhe um entre diversos modelos de robôs, cada qual com suas próprias características, como velocidade, peso, poder de fogo etc. Você ganha dinheiro a cada missão cumprida e pode comprar novas peças para aprimorar o desempenho de seu robô em mobilidade, ataque e defesa.

Entretanto, tal sistema pode ser tornar uma grande dor de cabeça até mesmo aos jogadores "hardcore", devido ao altíssimo grau de complexidade e da imensa quantidade de siglas, atributos e valores que compõem os inúmeros menus. Aos que preferem se limitar a ação, o jogo oferece a opção de evoluir o robô automaticamente, deixando ao jogador apenas a tarefa de comprar novas armas - o suficiente para deixá-lo perdido.

E não pára por aí: falta clareza na disposição das informações. Na loja, por exemplo, você pode equipar uma peça sem ao menos tê-la comprado. Quando você sai da loja, ela é adquirida automaticamente. No entanto, se seu dinheiro não for suficiente para a aquisição, você é obrigado a voltar e desfazer suas opções (o que não é uma tarefa simples quando existem centenas de peças disponíveis, acredite). Um jogador sem experiência pode facilmente ficar preso na loja, sem a possibilidade de salvar ou carregar seu último jogo.

O aprendizado chega com um pouco de tempo e esforço e é, pelo menos, recompensador. Afinal, o modo de evolução automática é muito menos eficiente do que a customização feita por um jogador experiente. A interface dos menus, para compensar, é bastante limpa, apesar da grande quantidade de informação.

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