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Assassin's Creed Rogue

Luiz Hygino

do Gamehall

05/12/2014 15h21

Anunciado como uma das maiores revoluções na história da franquia, ao colocar o jogador no comando de um templário, “Assassin’s Creed Rogue” é um bom símbolo do que a série da Ubisoft virou nos últimos anos: um jogo que parece recauchutado, com as mesmas mecânicas, o mesmo visual e propostas tão semelhantes.

E se a narrativa e o enredo eram tão frequentemente usados como argumento de validade para o excesso de produções de “Assassin’s Creed”, “Rogue” é uma bola fora.

Os fatos históricos explorados e encaixados nos roteiros dos jogos da franquia foram sempre grande destaque, mesmo nos capítulos mais fracos da série, como “Assassin’s Creed III”. Em “Rogue”, a Guerra dos Sete Anos é um pano de fundo extremamente distante do jogo, presente de forma descritiva e puramente textual na campanha naval, além de algumas batalhas navais de fato jogadas, bastante divertidas, mas recomendadas apenas para quem já terminou a campanha, pelo seu grau de dificuldade. “Rogue” faz mais referências à própria série “Assassin’s Creed” do que à história humana.

Mas o ponto mais fraco do jogo, sem dúvida, é a tal mudança de lado. Para justificar a traição e a debanda do protagonista Shay Cormac da Ordem dos Assassinos para o lado dos templários, a Ubisoft força uma série de argumentos e comportamentos de assassinos e templários que distoa daquilo tudo que o jogador viveu desde o primeiro “Assassin’s Creed”. Ao invés de aproveitar a oportunidade para explorar uma possivelmente ampla zona acinzentada das organizações e de seus membros, o maniqueísmo é a palavra de ordem, do começo ao fim.

No mais, “Assassin’s Creed Rogue” é sim um jogo que diverte bastante, e que pode agradar não só aos fervorosos fãs da série, mas a todos os fãs de videogames.

Introdução

“Assassin’s Creed Rogue” é o último capítulo da trilogia Kenway de série da Ubisoft, que começou com “Assassin’s Creed III” e seguiu em “Assassin’s Creed IV: Black Flag”. Ao invés de contar a história de um dos membros da família Kenway, ele segue a lenda de Shay Cormac, um promissor jovem assassino que decide deixar a Ordem por não concordar com as ordens de seu mestre. Shay se alia aos templários e passa a caçar seus antigos aliados.

O jogo acontece durante o final do século XVIII, na costa leste das terras que, alguns anos depois, viriam a se tornar os Estados Unidos, em pleno período de Guerra dos Sete Anos, série de conflitos travados entre Inglaterra e França, aliados a templários e assassinos, respectivamente.

Apesar de Shay se tornar um templário, os controles e movimentos do jogo seguem os mesmos de sempre, já que ele, originalmente, é um assassino. As missões do jogo, a gestão de bases, conquista de fortes e tantos outros elementos seguem quase que inalterados, apenas levemente maquiados. Ou nem isso.

Assim como prometido, além de finalizar a trilogia Kenway, o jogo apresenta uma curiosa ponte para “Assassin’s Creed Unity”, o título de nova geração da Ubisoft.

Pontos Positivos

Localização

A tradução e a dublagem de um jogo de videogame não são tarefas fáceis, e por melhor que sejam feitas, ficam distante do trabalho em seu idioma original.

Ainda assim, e mesmo com espaço para melhorias, vale destacar o esforço feito na localização de “Assassin’s Creed Rogue”. Mesmo sendo um xiita da sonorização original, consegui me divertir bastante jogando parte do jogo em português, reconhecendo, aqui e ali, vozes consagradas da dublagem nacional.

Universo expandido

Ainda que em menor tamanho que outros jogos da série, é ótimo poder mergulhar ainda mais na mitologia de “Assassin’s Creed”, especialmente durante os períodos fora do Animus, controlando um personagem sem nome, em primeira pessoa, que é quem revive os dias de Shay Cormac.

Não existem grandes revelações, mas uma série de fatos conhecidos pelos jogadores é melhor explicado ou apresentado de um ponto de vista diferente, especialmente algumas das batalhas modernas entre assassinos e templários.

A história da Primeira Civilização, por sua vez, é usada mais como pano de fundo distante, sem grandes novidades.

Pontos Negativos

Motivações do enredo

Para justificar a revolta do protagonista Shay Cormac, o enredo de “Assassin’s Creed Rogue” apresenta soluções, acontecimentos e conflitos que soam extremamente forçados. Não é exagero comparar a algumas novelas mexicanas que bateram ponto nas tardes do SBT durante tanto tempo.

A série sempre foi explícita em apresentar os assassinos como mocinhos e os templários como bandidos. O desvio dessa regra, de um ou outro personagem da franquia, era quase sempre justificada com bons argumentos. Não existe nada parecido em “Rogue”. De uma hora pra outra, assassinos querem destruir cidades, sem nenhuma explicação plausível, e templários querem apenas que a população mundial possa viver em cidades organizadas e desenvolvidas.

Os fracos diálogos durante as animações chegam a constranger em determinados momentos.

Venda de gato por lebre

Caso você não esteja familiarizado com a expressão popular, vender gato por lebre é prometer uma coisa e entregar outra. É isso que acontece em “Assassin’s Creed Rogue”. Controlar um templário, ter acesso ao arsenal da Ordem ou ver o conflito centenário de um outro ângulo são promessas vazias no game.

Na prática, “Rogue” é quase que um longo DLC de “Assassin’s Creed IV”, com pitadas esparsas de novidades.

Cenário menos interessante da série

A trilogia de Ezio de “Assassin’s Creed” chamava a atenção pela beleza e pela riqueza do cenários. Em diversas conversas com amigos e colegas, todos dividiam o interesse em explorar as cidades e locações dos jogos, e todos passavam a conhecer quase que de olhos fechados os espaços. O Caribe de “Black Flag” é cenário também bastante interessante.

Em “Rogue”, tudo parece mais comum. Ao longo da campanha principal e de muitas missões paralelas, os cenários parecem apenas criações fictícias de um videogame, e não versões virtuais de ambientes reais.

Não há incentivo forte o suficiente para que o jogador explore as ruas das cidades, seus segredos e seus cartões postais. Os fortes e vilarejos espalhados pelas encostas quase seguem uma fórmula de construção, não se diferenciam. E na maior parte do tempo, “Rogue” acontece na imensidão branca e azul dos mares do Atlântico Norte.

Nota: 7 (Bom)