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Dead Island Riptide

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

15/05/2013 17h03

Um cheiro ruim acompanha todo o passeio por Palanai, a ilha infestada de mortos-vivos em "Dead Island: Riptide". Não é o cheiro de putrefação dos incontáveis cadáveres que os jogadores deixa pelo caminho, mas algo muito pior: o aroma inconfundível de DLC.

A aventura traz muito poucas novidades para "Dead Island", com destaque para o tapa visual - "Riptide" é muito mais bonito do que o jogo original. De resto, é uma mera expansão do primeiro game, sem a personalidade do resort infernal original. A ambientação é muito menos inspirada e para completar, todos os problemas técnicos do primeiro game estão presentes.

"Dead Island" é um caso de amor ou ódio: alguns jogadores não se importarão com a sensação de 'mais do mesmo' presente em "Riptide". Jogar online com os amigos ainda é muito divertido e o combate com armas brancas, marca registrada da série, supera a ação dos demais jogos de zumbi dessa geração.

Porém, a falta de novidades e o descaso com os 'bugs' tornam difícil recomendar um jogo desses, que seria melhor definido como uma mera expansão por download - e se tivesse um preço de acordo com essa limitação.

Introdução

"Riptide" começa exatamente de onde o "Dead Island" original terminou. Um grupo de sobreviventes escapa de uma ilha destruída por uma infestação zumbi - em comum, o quarteto tem apenas a imunidade ao vírus que transforma as pessoas em mortos-vivos. Após uma rápida sucessão de eventos, o grupo vai parar em uma nova ilha, onde novamente precisa encarar hordas de zumbis.

A história é previsível e digna de um filme B - e talvez essa seja a intenção, afinal, é uma história de zumbis, com todos os clichês do gênero.

Você pode importar seu personagem do jogo anterior, com toda a experiência acumulada e habilidades adquiridas pelo caminho. Ou pode começar do zero, inclusive com um quinto personagem, introduzido em "Riptide", também imune aos mortos-vivos.

A ação rola em primeira pessoa, mas você vai atirar pouco: munição é algo escasso e os disparos são barulhentos e acabam atraindo mais cadáveres curiosos e famintos. Você depende mais de armas brancas, como facas, remos, tacos de beisebol e pés-de-cabra. E boa parte da diversão vem do uso dessas armas para quebrar ossos, estourar miolos e decepar os braços dos inimigos.

Pontos Positivos

Combate mano a mano

"Dead Island: Riptide" se diferencia da imensa maioria dos jogos em primeira pessoa com seu sistema de combate mano a mano. Você pode socar e usar armas brancas para acabar com os inimigos. Armas de fogo são raras e munição, mais rara ainda, como convém em um jogo que pretende manter os jogadores sempre lutando pela sobrevivência.

Você pode lutar com armas como facas, machetes, tacos de beisebol e improvisar com remos e pés-de-cabra, entre outras opções. A idéia trouxe um certo frescor ao gênero em 2011, no "Dead Island" original. Mesmo agora, em 2013, não é algo que vemos com frequência e diferencia a franquia dos demais jogos de zumbis.

As armas podem ser aprimoradas e itens melhores podem surgir após uma luta contra um monstro poderoso ou como recompensa de uma missão particularmente perigosa. Você pode modificar o equipamento, acrescentando pregos ao seu taco de beisebol ou fabricando um machado elétrico, entre outras opções.

É preciso ficar de olho na deterioração do equipamento: armas quebradas não são nada eficientes. Para economizar, é sempre bom apelar para chutes e pisadas certeiras para finalizar os inimigos caídos. Exatamente como no primeiro "Dead Island".

Em "Riptide" foi incluso um novo golpe: quando você está num ponto mais alto que o inimigo, pode saltar sobre ele para finalizar a criatura. O movimento é eficiente, exceto pelo tempo que a animação leva para ser concluída após a aterrissagem - que deixa você indefeso caso outros zumbis estejam na área.

Mais bonito

De cara, é fácil ver que a produtora Techland dedicou um bom tempo para deixar "Riptide" mais bonito que o "Dead Island" original. Os cenários são mais detalhados, os personagens melhor modelados e a água, em todas suas variações, chama a atenção pelo capricho gráfico.

Os efeitos climáticos também se destacam: chuvas torrenciais dificultam a visão, inundam áreas na beira dos rios e trazem perigos como zumbis flutuantes - mortos-vivos que boiam como cadáveres até que você se aproxime, para então atacar sem piedade.

As criaturas em geral estão bem detalhadas - embora poucos modelos de personagem sejam utilizados - e o jogo não tenha muitas novidades nas espécies de inimigos: além dos zumbis 'flutuantes', uma outra variação merece destaque, o 'granadeiro', que arranca e arremessa pedaços de seu próprio corpo contra o jogador.

 

Melhor com os amigos

Em "Riptide" você pode escolher entre cinco personagens - que funcionam como as classes de um jogo de RPG, sendo quatro do "Dead Island" original: Sam B (rapper enfezado que é especialista em armas contundentes (como martelos, bastões e cassetetes); Xian Mei (perita em armas brancas); Logan Carter (jogador de futebol americano que arremessa armas nos inimigos); Purna (nativa da ilha do jogo original, especialista em armas de fogo) e mais o novato John Morgan, fera em combate desarmado.

Cada um deles possui suas próprias árvores de habilidades, que são adquiridas conforme os personagens sobem de nível, permitindo construir variações dos personagens conforme o estilo do jogador. Todos eles contam, em "Riptide", com perícias em cada tipo de arma, que é adquirida conforme usa essas armas contra os zumbis. Ao ganhar um novo nível de um tipo de arma, o personagem recebe alguns benefícios naquela categoria.

Jogar "Dead Island: Riptide" sozinho é até divertido e sempre é uma boa opção para ganhar experiência ou juntar uma grana ou itens para melhorar uma arma. Mas a graça do game está mesmo em jogar com os amigos.

Várias situações funcionam melhor ao jogar de forma cooperativa: você precisa salvar outros sobreviventes do ataque dos zumbis ou abrir uma porta enquanto alguém carrega um motor ou defender o barco contra os zumbis que surgem na água enquanto outro jogador está ocupado conduzindo o leme, por exemplo. Sozinho, você vai morrer muito mais vezes do que gostaria.

Dá para jogar com desconhecidos, mas a cooperação é melhor quando você conhece os colegas de aventura. E mesmo que os personagens estejam no mesmo nível, muitas vezes estão em missões diferentes, o que pode estragar a experiência para um ou outro.

Barcos e cercos

Entre as poucas novidades de "Riptide", se destacam os barcos e os cercos. Agora você pode conduzir embarcações pelos rios que cortam a ilha de Palanai. O controle é muito parecido com o dos carros do jogo anterior - que também estão presentes - mas sem a vantagem da lataria para proteger os jogadores: zumbis brotam da água ou caem de barrancos para dentro do veículo e o grupo precisa encarar as criaturas, jogando-as de volta para o rio ou simplesmente passando por cima delas antes que subam a bordo.

Já o cerco é uma situação que acontece com frequência nos acampamentos de sobreviventes. Ao estilo do modo "Horda" de "Gears of War", o cerco consiste em defender a base contra hordas de zumbis. Você pode preparar algumas defesas, como grades de arame eletrificadas, aumentando as chances de acabar com parte dos mortos-vivos antes da invasão, mas no fim tudo sempre vira uma correria para salvar os colegas ou a própria pele.

Pontos Negativos

Falhas técnicas

"Riptide" carrega as mesmas falhas técnicas do "Dead Island" original, lançado em 2011. Falhas de colisão irritantes estragam momentos que seriam emocionantes. Inimigos atravessam objetos que servem de barreira, como uma mesa ou uma grade. Armas podem cair dentro de uma parede, se perdendo para sempre.

Não são poucas as situações em que as falhas técnicas de "Riptide" tiram o jogador do sério. E todas elas já estavam presentes no título anterior, o que torna tudo mais decepcionante - custava ter dado mais atenção aos problemas durante esses 19 meses de produção?

Pouco inspirado

O novo "Dead Island" é, infelizmente, um jogo pouco inspirado. Mesmo com pequenas adições nas mecânicas, não há novidades o bastante para justificar essa sequência. A impressão que permeia toda a aventura é que poderia muito bem ser uma expansão distribuída por download - e com um preço mais amigável.

Durante todo o tempo, você vai vagar pela ilha cumprindo missões para outras pessoas, como um 'garoto de recados' com licença para matar. Quando não estiver coletando itens, estará arrebentando zumbis. Falta um pouco mais de variedade. Mesmo as variações climáticas ou as situações de cerco não fazem o bastante para dar ao jogador a chance de fazer algo mais além de golpear quem vem pela frente.

Para completar, Palanai é uma ilha muito mais genérica e sem graça do que o cenário do "Dead Island" original.

Nota: 6 (Razoável)