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Dragon Age III: Inquisition

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

18/11/2014 17h54

"Dragon Age: Inquisition" é provavelmente o último grande jogo multiplataforma a ser lançado para os veteranos PlayStation 3 e Xbox 360. Também é um dos primeiros grandes jogos da nova geração de consoles Sony e Microsoft e, como é de se esperar, é um jogo ainda melhor apreciado no PC, pelos controles melhores no modo tático e a possibilidade de gráficos superiores.

Diferenças gráficas à parte, o que "Inquisition" oferece em comum em todas as plataformas são os elementos que fazem desse RPG um game imperdível: um enredo excelente, personagens complexos, combate estratégico e um mundo enorme e fantástico para explorar.

Exploração, por sinal, é a palavra chave aqui: "Inquisition" traz o mundo de Thedas a vida como nunca antes. Terras distantes que eram apenas citadas em conversas e textos dos games anteriores se transformam em paisagens que podem ser visitadas, cheias de perigos, aventura e deslumbramento.

Se você é um veterano saudoso de "Dragon Age: Origins" ou um recém-chegado em busca de um bom RPG para seu console novo, "Inquisition" é o jogo que vai consumir dezenas de horas da sua vida. O jogo consegue a proeza de unir toda a habilidade da BioWare em criar personagens e histórias cativantes com a exploração e o mundo cheio de surpresas do clássico "Skyrim", da rival Bethesda.

Introdução

Herdeira da tradição da BioWare em RPGs de fantasia medieval, "Dragon Age" foi uma franquia que ficou em segundo plano nos consoles da geração passada, ofuscada pelo sucesso do primo futurista "Mass Effect".

Com "Inquisition", isso pode mudar. O game brilha ao apresentar o universo fantástico de "Dragon Age" de forma envolvente, resgatando personagens dos outros jogos da série e juntando tudo em uma trama que encerra eventos iniciados em "Origins" e "Dragon Age II" - mas que pode ser apreciada por si mesma, sem grandes perdas no entendimento.

Sem estragar nenhuma surpresa, vai aí um resumo da trama inicial: Uma terrível catástrofe atinge os magos e os templários, duas das maiores facções do mundo. Como único sobrevivente do evento e portador de uma misteriosa marca que permite enfrentar os demônios, o personagem do jogador se tornará, eventualmente, o líder da Inquisição e precisará salvar o mundo de um perigo muito maior - mas não vai fazer isso sozinho.

Ao longo do jogo, você recrutará vários companheiros, forjará alianças e conquistará o respeito de outras facções. Como em todo jogo da BioWare, explorar o mundo, se aventurar em dungeons e manipular acontecimentos em cortes estrangeiras é tão importante (e divertido!) quanto lidar com os relacionamentos dentro do grupo de aventureiros.

Para completar, pela primeira vez na série o jogo oferece legendas e menus em português, o que facilita a compreensão da trama por mais jogadores.

Pontos Positivos

Mundo fantástico

"Inquisition" se passa em Thedas, o mesmo mundo onde se passam os "Dragon Age" anteriores, mas vai muito além do que foi mostrado até então. O game traz várias regiões para explorar, tanto em Ferelden (cenário do primeiro "Dragon Age") quanto no país vizinho Orlais, sempre citado na só agora visitado pelo jogador.

As áreas do jogo são vastas e cheias de vida, pontuadas por encontros aleatórios com monstros e bandidos e, claro, muitas missões. É como se você jogasse um RPG online, mas sozinho, controlando seu próprio grupo de personagens de aventura em aventura.

A aventura começa em Refúgio, uma região montanhosa aos pés do Templo das Cinzas Sagradas (cenário que traz lembranças aos veteranos da série) e logo se desdobra para todo o mundo, indo desde as paisagens rurais das Terras Distantes  até cenários muito mais exóticos, com desertos implacáveis e pântanos infestados de mortos vivos, entre outros.

Atravessar essas regiões (grandes ao ponto do game introduzir montarias para o jogador) envolve explorar masmorras, cavernas, buscar tesouros e recrutar agentes ou aliados para a Inquisição, caçar animais e coletar recursos e muitas outras atividades, como, por exemplo, observar estrelas e, sempre importante, fechar as brechas por onde os demônios invadem o mundo.

Navegar pelo cenário é um desafio por si só. Como agora você pode pular - coisa que não existia antes na série - as trilhas lineares se tornam obsoletas. Viu um baú de tesouro no topo das rochas? Procure, você vai achar um jeito de subir até lá. O mesmo vale para andar por regiões montanhosas, circular falésias com ondas batendo nas pedras ou atravessar cursos d'água. Viajar por Thedas é uma das melhores experiências que você vai ter em um RPG.

Sem tocar na campanha principal, para você completar todas as missões paralelas e localizar todos os itens colecionáveis de uma região levará facilmente umas 20 horas, mais tempo do que muitos games inteiros oferecem. Vale a dica: diferente das missões, que requerem níveis de personagem bem definidos, os encontros aleatórios pelo mundo não acompanham o nível dos personagens, então tome cuidado quando der de cara com dragões ou outras criaturas monstruosas.

Personagens complexos

Os membros da Inquisição são um grupo bem variado que inclui desde templários e magos até ladrões, espiões e outros seres mais exóticos. Além dos personagens mais aventureiros, existem aqueles que ficam na fortaleza cuidando dos negócios do grupo - e nem por isso são menos interessantes.

Conversar com os companheiros, desenvolver laços com eles - seja de amizade ou mesmo um interesse romântico - é uma parte tão importante de "Dragon Age: Inquisition" quanto as batalhas e a exploração. E como agora o jogo está todo legendado em português, melhor para o público brasileiro, que pode curtir o desenrolar da história sem perder nada.

Cada personagem do grupo é único e bem desenvolvido, desde a durona investigadora Cassandra e o bonachão Varrik até o Qunari Iron Bull (dublado pelo galã Freddie Prinze Jr.) e a petulante elfa Sera, entre outros. Os personagens sempre tem traços de personalidade que fogem dos estereótipos típicos de raça e classe.

Os jogadores veteranos certamente vão curtir o retorno de alguns personagens como Cullen, Varrik e Leiliana, além de outros que fazem participações especiais aqui e ali. O melhor é que esses personagens levam em conta o que você fez nos jogos anteriores, através do aplicativo The Keep, que permite moldar o cenário aos fatos das suas outras aventuras - não é a solução mais prática, mas funciona.

Combate de primeira

O sistema de combate de "Dragon Age: Inquisition" é o melhor da série: o jogo traz de volta as opções táticas de "Origins" e promove mudanças nas classes de personagem, tornando as partidas mais estratégicas do que nos games anteriores. Cada classe de personagem (guerreiro, mago e ladrão) possui várias árvores de habilidades, que permitem personalizar o estilo e papel de cada membro do grupo. Assim, dois personagens que lutam com espada e escudo podem ser bem diferentes, dependendo das habilidades escolhidas.

Um ponto importante é que não existem magias de cura em "Inquisition". Isso acaba com o "gerenciamento de cura" no qual se transformavam os combates prolongados nos jogos anteriores. É preciso decidir as melhores abordagens, aproveitar o terreno e saber a hora de se retirar se a coisa ficar feia.

É importante dominar não só os poderes do personagem principal, mas também o que seus companheiros de grupo são capazes de fazer, seja ressuscitar alguém caído à distância, se blindar contra ataques corpo-a-corpo ou conceder bônus para os companheiros contra certos inimigos.

A visão tática, que pausa o game e coloca a câmera no alto ajuda na hora de distribuir ordens aos personagens e nas dificuldades mais elevadas, usá-la é a única maneira de sair vivo de uma batalha. Essa opção funciona melhor no computador, graças ao uso do mouse para posicionar as unidades e lembra bastante os jogos dos quais "Dragon Age" descende, como "Baldur's Gate" e "Neverwinter Nights".

Multiplayer cooperativo

"Dragon Age: Inquisition" traz também um modo multiplayer cooperativo, nos moldes da modalidade de "Mass Effect 3", mas sem nenhuma ligação direta com a campanha principal. Aqui, você faz parte de um grupo de aventureiros enviados pela Inquisição para combater os inimigos que ameaçam as diferentes regiões de Thedas.

Você escolhe uma classe de personagem e evolui conforme abate inimigos e vence partidas, ganhando pontos de habilidade, ouro para comprar novos equipamentos e materiais para produzir armas e armaduras melhores. As batalhas são mais orientadas para a ação, mas é sempre bom ter um grupo bem organizado e comunicativo.

Além dos personagens já disponíveis, o game aponta outros que devem ser lançados por download - e provavelmente vendidos separadamente, nos moldes dos populares heróis de jogos como "League of Legends" e "Dota 2".

Pontos Negativos

É melhor se você jogou os games anteriores

A trama de "Inquisition" pode ser apreciada como uma história fechada, sem problemas. O jogo pode definir os eventos anteriores em um modelo padrão e você não terá problemas em entender quem é quem e o que está acontecendo ao seu redor.

Se você jogou "Dragon Age: Origins", quando se deparar com um personagem daquele jogo em uma situação empolgante, envolvendo bruxas e dragões, por exemplo, vai abrir um sorriso como quando reencontra um amigo que não vê há muito tempo. Caso não seja esse o caso, ainda vai achar a cena legal e querer saber quem é esse personagem.

Se você jogou "DA: Origins" e "Dragon Age II", certamente vai aproveitar melhor a experiência. Reencontrar faces conhecidas, ouvir histórias sobre seus feitos em outros jogos e visitar lugares onde esteve no passado (como o Templo das Cinzas Sagradas logo no começo da aventura) é uma emoção diferente quando você tem uma ligação sentimental com esses lugares e pessoas.

Tática só importa nas dificuldades maiores

"Inquisition" oferece quatro níveis de dificuldade e, se você optar por jogar no modo Casual ou Normal, não vai precisar se preocupar muito com o uso das mecânicas de combate como a câmera tática ou a seleção de estratégias de ação para cada personagem.

De fato, a maioria das lutas será muito próxima de um RPG de ação, como "Diablo" ou melhor, "Dragon Age II", e são mais recomendadas para você explorar o mundo e curtir a história. Se você busca um desafio tático mais elevado, melhor já começar o game nos níveis de dificuldade superiores. Na dificuldade mais alta e com o "fogo amigo" ativado, as pelejas do jogo se tornam bem mais desafiadoras.

Nota: 10 (Imperdível)