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Murdered

Rodrigo Guerra

Do UOL, em São Paulo

01/07/2014 17h01

Existem coisas que fazem um jogo se diferenciar de outros e "Murdered: Soul Suspect" é um game que tinha esse potencial com sua premissa bacana e intrigante, mas se atrapalha na hora de mostrar o seu principal ponto forte para o jogador.

A história, o protagonista e o tema são bem bacanas, fora dos padrões que estamos acostumados a ver nos games de hoje em dia. Mas não dá para deixar de lado que todas as mecânicas são rasas, chatas ou simplesmente pedágios para impedir que o jogador siga a história.

Há boas ideias aqui, mas a forma que elas são entregues deveria ser melhor estudada para oferecer o mínimo de desafio para o jogador. O principal diferencial de "Murdered" deveria ser as investigações, mas falha miseravelmente simplesmente por não existir desafio algum. A história é bacana, mas ela não é suficiente para convencer você a gastar seu rico dinheirinho em um game tão insípido.

Introdução

"Murdered: Soul Suspect" é um jogo de ação em terceira pessoa que tem como sua principal característica uma história diferente do que estamos acostumados em jogos de videogames, mostrando que há espaço para novas narrativas, neste universo onde trocas de tiro são as principais formas de atrair a atenção do público.

Em "Murdered: Soul Suspect" acompanhamos a história de Ronan, um ex-criminoso que mudou sua vida para conseguir conquistar a mulher de seus sonhos, tanto que de um fora-da-lei acabou se transformando em um detetive da delegacia de Salem, uma cidade dos EUA conhecida por uma história de queima de bruxas e que mantém um ar de misticismo em suas cercanias.

A história do protagonista começa justamente com sua morte, ao investigar uma cena de um crime do Assassino do Sino, que anda colecionando vítimas por volta da cidade. Acontece que ao chegar na cena do crime, o Assassino do Sino ainda não tinha fugido e acaba arremessando Ronan de uma janela. Se isso não fosse o bastante, o criminoso desce até a rua e dispara seis tiros contra Ronan.

No 'outro lado da vida', Ronan encontra o espírito de sua mulher e acaba descobrindo que antes de 'ir para a luz' ele tem que resolver alguns assuntos inacabados, ou seja: impedir que o Assassino do Sino continue solto e dar um fim em seus crimes.

Pontos Positivos

História instigante

A saga de Ronan é intrigante. Do momento que ele passa para a vida de um fantasma nas ruas de Salem até o ponto onde a história se fecha, você fica instigado em descobrir qual será o próximo passo do protagonista.

Logo no início do jogo, Ronan descobre que não será fácil seguir a sua busca por redenção. Investigar cenas de crimes como fantasma é complicado, afinal, Ronan não consegue interagir com os objetos do cenário. Para prosseguir em sua investigação, o detetive ouve pensamentos das pessoas, dá sugestões em suas mentes e coisas do tipo.

Conforme a história avança e você começa a sacar qual é a real motivação do Assassino do Sino, mais vontade você tem de terminar o game para ver seu desfecho. Por sorte isso não demora muito. Se você ignorar as missões paralelas e colecionáveis, vai levar menos de quatro horas para ver os créditos subirem. E acredite: isso será uma coisa boa.

Evitando ao máximo dar algum spoiler, pode-se dizer que a história é bacana e, mesmo que tenha alguns clichês aqui e ali, é a melhor coisa que você encontrará no game.

Missões paralelas bacanas

Uma das coisas mais chatas dos jogos hoje em dia são seus colecionáveis. Ter que pegar 100 bandeiras ou 50 moedas escondidas no cenário é a forma mais preguiçosa de aumentar o tempo útil dos jogos. Porém, em "Murdered" os colecionáveis são bacanas e adicionam um certo valor ao game.

Cada cenário possui duas ou três investigações paralelas nas quais Ronan ajuda outros fantasmas a seguirem para a luz. Essas investigações são feitas com coisas simples, como coletar pistas e ouvir pensamentos de pessoas e depois contar o resultado para seu "cliente".

Essa parte do game traz algumas pérolas bacanas como uma mulher que ainda não sabe que morreu ou uma garota que não entende porque acaba assombrando um prédio. São histórias curtas, que até valem ser acompanhadas, mas que, infelizmente, acabam sendo prejudicadas por causa da mecânica mal construída e falta de desafio.

Pontos Negativos

Investigações chatas

O principal objetivo de um jogo é ter mecânicas divertidas para segurar todo o resto. Infelizmente isso não acontece em "Murdered: Soul Suspect", que não oferece nenhum desafio para o jogador.

Investigar a cena de um crime é algo bacana e que existe em jogos como "Phoenix Wright", "L. A. Noire" e alguns outros, mas como aqui o fantasma é o detetive, as coisas deveriam complicar um pouco - mas na verdade é só balela, pois tudo acaba sendo apenas um quebra-cabeça sem inspiração.

Um bom exemplo é a primeira investigação, na qual você examina a área onde o corpo de Ronan ficou após ser morto. Você tem que observar algumas pistas, como a sua arma num canto, o seu chapéu em outro. Ao conseguir juntar todas as pistas, é necessário reconstruir a história com base nessas pistas.

Nesse exemplo, Ronan reconta que ele foi arremessado da janela do alto de uma casa e depois o assassino veio e deu cabo com mais seis disparos no detetive. O primeiro ponto que acaba com o desafio é que todas as pistas estão à disposição em um espaço restrito e, ainda por cima, elas são destacadas de outras coisas do cenário, facilitando a sua busca.

Na hora de juntar os fatos você deve escolher a pista principal e outras duas ou três que explicam o caso. Só que isso pode ser feito de qualquer forma pois algumas vezes as frases geralmente não fazem sentido ou não seguem uma linha de raciocínio lógico.

Aí chega um momento em que você perde a paciência e acaba escolhendo as opções aleatoriamente e vai perdendo pontos, só que aí descobre que esses pontos servem para nada, pois não existe nenhuma penalidade nem mesmo um desfecho alternativo. Ou seja, a investigação, que é a premissa básica desse jogo, acaba se tornando apenas um pedágio que o impede de acompanhar a próxima parte da história.

Investigar acaba sendo uma tarefa chata e repetitiva e o pior é que as pistas geralmente são óbvias e nada desafiadoras.

Inimigos desinteressantes

Para tentar impedir que o jogo fosse fácil demais, os produtores colocaram almas penadas que estão presas aqui no plano terrestre há muito tempo. Caso eles vejam Ronan, eles vão tentar roubar sua essência – ou seja, vão matar sua alma.

Ao apertar um botão de ombro você vê onde estão os inimigos e pode atacá-los pelas costas. Aí é só resolver um quick time event para destruí-lo.  Escapar dessas almas poderosas não poderia ser mais fácil: basta apertar um botão para se esconder em um espaço do cenário ou em uma pessoa até despistá-los. Mais uma vez, essa mecânica acaba se mostrando um bloqueio artificial para seu avanço.

Repetitivo demais

Não existe variação. O jogo se resume a chegar em um ponto do mapa, escapar das almas penadas e investigar um cenário e partir para a próxima investigação. Esse é o mesmo problema de "L. A. Noire", mas aqui no lugar de um revólver e bandidos comuns, você enfrenta seres sobrenaturais.

A questão é que a repetição é uma praga para os games dessa temática e poucos se salvam, como é o caso de "Phoenix Whrigt", um bom exemplo de como boas mecânicas ajudam um game desse tipo.

"Murdered: Soul Suspect" poderia ser um jogo mais direto com mecânicas divertidas de usar. Mas ficar fazendo sempre a mesma coisa acaba enjoando e deixando o game chato antes mesmo das três ou quatro horas que levam para chegar ao fim.

Nota: 4 (Medíocre)