Que ano para os Simpsons: em 2007, a família criada por Matt Groening chegou à 19ª temporada, ao 400º episódio e levou aos cinemas, com sucesso de bilheteria, o seu primeiro longa-metragem. Sob a batuta da Electronic Arts, "The Simpsons" conta com uma produção caprichada, do roteiro ao visual, mas do ponto de vista puramente técnico, trata-se de um jogo de plataforma sem grandes atrativos.
Os Simpsons não poupam ninguémTalvez o maior trunfo de "The Simpsons" seja não se levar muito a sério, começando pelo enredo: Bart encontra o manual de um jogo chamado "The Simpsons Game" e, com isso, percebe que ele, Lisa, Homer e Marge ganharam poderes especiais. É o mote ideal para dar início a uma verdadeira tiração de sarro com a cultura pop e, claro, os games, em especial.
Sem muita cerimônia, as fases de "The Simpsons" zoam com "Shadow of the Colossus" ("Shadow of the Colossal Donut"), "Medal of Honor" ("Medal of Homer"), "Grand Theft Auto" ("Grand Theft Scratchy"), "EverQuest" ("NeverQuest") e por aí vai. Ao longo do game, você terá a oportunidade de ver muitas referências a jogos antigos e recentes, o que mantém o interesse tanto dos jogadores experientes quanto daqueles mais novos.
Como era de se esperar, o jogo também aproveita à exaustão o próprio universo da série, com direito a 40 minutos entre animações e diálogos originais, estes sob os cuidados dos dubladores oficiais. É possível explorar Springfield com razoável liberdade, interagindo com praticamente todos os personagens conhecidos da telinha, muitos deles encaixados de forma magistral na trama - Nelson, por exemplo, aparece na tela de "Game Over", com a sua impiedosa risada.
Pouca cooperaçãoO problema de "The Simpsons" está na mecânica de jogo, principalmente em relação à câmera 3D, que por vezes torna-se um adversário a mais, forçando ângulos nada favoráveis, um transtorno para títulos do gênero. Além disso, as 16 fases, embora tentem variar nos objetivos, são supérfluas, com enigmas de fácil resolução e combates nada empolgantes. Na maior parte do tempo, você soca inimigos sem cérebro, pula por plataformas e recolhe itens espalhados pelo cenário.
Cada Simpson tem poderes especiais únicos: Homer, que é de longe o personagem mais divertido, utiliza um sonoro arroto para derrubar adversários e obstáculos e, comndo o suficiente, pode transformar-se em Homerball, uma imensa e gorda bola que acaba com tudo o que está pela frente. Os ataques especiais de Bart, Lisa e Marge são com o estilingue, o saxofone e o megafone, respectivamente.
Os três também lançam mão de recursos criativos, essenciais para resolver quebra-cabeças: Bart se transforma em Bartman e usa a capa para planar; Lisa, por sua vez, medita e, com isso, torna-se capaz de levantar objetos e inimigos; já Marge consegue recrutar aliados, graças à sua lábia.
Com exceção do tutorial, todo o jogo é cooperativo e as fases jogadas em dupla Ou seja, se você não tiver alguém com quem jogar - e o game não tem modo online, vale destacar -, o CPU controla o segundo personagem, mas é possível alternar entre eles a qualquer momento. Em dois jogadores, a diversão não é das melhores, infelizmente, porque embora o design das fases seja primoroso, na maioria das situações, a ação envolve somente um dos personagens. Diante disso, enquanto um se ocupa com algo interessante, ao outro resta ficar batendo a esmo nos inimigos acerebrados ou simplesmente esperar a sua vez de cumprir um objetivo interessante. O ideal seria que ambos trabalhassem juntos com freqüência maior.
Vida longa aos clichês"The Simpsons", além de relativamente fácil, é um jogo curto: entre 6 e 8 horas bastam para completá-lo. Há vários itens para coletar nas fases, sendo que alguns melhoram as habilidades da família, mas nada que seja essencial ou estimulante em termos de fator replay. Na verdade, dos itens escondidos, os mais interessantes são as cartas de clichê que, como o próprio nome diz, apontam idéias amplamente exploradas nos games, tais como caixas de madeira, barris explosivos, saltos duplos etc. Impagável.
Não teria feito mal algum incluir alguns personagens jogáveis extras - Barney, Flanders e quem mais você quiser incluir na lista - ou então minigames, cenas com veículos ou combates mais elaborados. Quem é fã de "The Simpsons", que é o caso deste que vos escreve, não consegue deixar de pensar em possibilidades como essa.
Talvez "The Simpsons" não seja o melhor game baseado na franquia, mas é sem dúvidas aquele que mais faz você se sentir próximo ao universo criado por Matt Groening. Boa parte da responsabilidade por isso é dos gráficos que, no melhor estilo cel-shaded, são extremamente semelhantes ao desenho, das texturas às animações.
CONSIDERAÇÕES
"The Simpsons" é um curioso caso, no qual a produção se sobressai em relação ao jogo propriamente dito. Sem os Simpsons, seria um jogo de plataformas medíocre, com direito a falhas irritantes e trechos enfadonhos. Porém, com um enredo bem bolado, o capricho nos gráficos, nas dublagens e no roteiro, torna o título indispensável na estante de qualquer fã da série.