Worms

da Redação

O computador Amiga foi uma das plataformas mais populares de seu tempo e uma de suas características era a ativa comunidade de desenvolvedores amadores. Da mente desses "power users" saíram diversos clássicos - "Worms" foi um deles. O game de Andy Davidson tinha o nome de "Total Wormage" - uma sátira com "Total Carnage" - até ser lançado comercialmente pela produtora Team17.

Com o sucesso, o game foi convertido para várias plataformas, adquirindo diversas características ao longo do tempo. Esse é um daqueles títulos que não deram certo com gráficos 3D e, felizmente, a edição para a Live Arcade vem no formato clássico, com visão lateral e ambiente 2D. Mas nem tudo são flores: nota-se a falta de armas quase imprescindíveis, além de modos de edição de mapas e regras mais robustos.

Prontas para a guerra

"Worms" é um jogo de estratégia em turnos, mas nada tem a ver com aqueles games de guerra com mapas divididos em quadrados ou hexágonos. O estilo é completamente diferente e original: a estratégia ocupa a maior parte do game, mas também há partes de ação de plataformas, ainda que bem cadenciada.

Para quem não conhece, a produtora preparou um tutorial simples que como funciona o sistema de turnos, de deslocamento e o uso de armas. O game conta com até quatro jogadores e cada um deles detém um "exército" de quatro minhocas. Ao chegar a vez de um usuário, ele controla seu personagem, quase como em um game de ação (mas, como se pode imaginar, os anelídeos não primam pela agilidade), podendo também pular.

Depois de se deslocar (você tem um tempo-limite para isso) é hora de ativar os itens, dentre eles armas. A maioria delas tem a trajetória dos projéteis modificada pelo tempo de pressão do botão - quanto mais deixar apertado, mais longe vai o tiro - e a direção e intensidade do vento. Sabendo usar esses fatores, é possível mandar tiros desviando do terreno. Após usá-los, ainda sobre um tempinho para procurar um local melhor e se proteger.

Armadas até o último anel

A estratégia principal está em infligir o maior dano possível aos adversários. Isso não se limita a escolher as armas mais potentes, mas também em relação à abrangência da explosão, a existência ou não de barris explosivos ou minas por perto e à presença de precipícios (essas minhocas morrem instantaneamente ao caírem na água). Ainda deve-se levar em conta que as armas destroem o ambiente e, dependendo disso, as estratégias podem mudar radicalmente.

Fazendo um paralelo com um jogo de sinuca, em que você não apenas tem que escolher o melhor ângulo a fim de tentar a jogada imaginada, prevendo o movimento de cada bolinha, mas é necessário ter a habilidade para realizar o que você pensou. Em "Worms" essa é a parte de soltar o botão na hora certa e calcular o vento.

Nesse sentido, jogar contra o computador é de dar raiva, principalmente nos níveis mais avançados, pois não importa o quão difícil seja a jogada, o sistema consegue colar uma granada a quilômetros de distância, por exemplo. A sensação é parecida quando se joga com usuários experientes.

Enfim, esse é o velho "Worms" de sempre. O ritmo lento pode não agradar a todos os tipos de jogadores, mas as regras são muito bem boladas. No entanto, nem tudo é perfeito: armas magníficas de versões anteriores, como a holy hand grenade, ficaram de fora. O arsenal ainda tem apelo, mas fica a sensação que poderia ser muito melhor. Talvez a exclusão tenha sido proposital, para depois incluir como um download adicional, abrindo caminho para a produtora fazer caixa extra mais tarde.

O arsenal conta com bazucas, granadas e espingardas, por exemplo. Há também armas com tiros contados, como o míssil teleguiado ou a bombardeio aéreo. Algumas das opções primam pelo humor, como golpes baseados em "Street Fighter" ou uma ovelha explosiva. Entre as não-armas estão mochilas de jatos e teletransportadores, por exemplo.

Comendo terra

As opções de jogo não são muito variadas. Para um jogador, há a opção Quick, que permite jogar uma fase com terreno aleatório (você pode gerar o mapa quantas vezes quiser antes de começar a partida), um tutorial simples e o desafio, que consiste em 20 fases com dificuldade crescente.

O multiplayer também é básico, com as opções usuais de games para a Live Arcade. Até quatro jogadores podem participar de uma partida, seja no mesmo console ou pela internet. Sendo um título de turnos, os atrasos de conexão praticamente não influenciam na experiência de jogo. No entanto, o game sofre com a instabilidade do sistema: há partidas que nem começam e outras que são interrompidas no meio da sessão.

O editor de regras e de mapas fica muito a desejar, se comparado com as versões para computador. Há apenas um gerador de mapas automático (você também pode inserir códigos numéricos caso queira usar uma topografia específica), no qual você pode escolher um dos três cenários de fundo e o tipo de geografia (ilha, fechado, dois andares etc.). No editor de regras, você pode indicar os tempos para cada fase do turno e as armas que poderão ser usadas bem como as respectivas quantidades de munição.

Em "Worms", a maioria das conquistas é liberada pela perseverança: há pontos liberados por danos acumulados, número de caixas destruídas, contagem de corpos e matança com a ovelha-bomba, entre outros.

Minhocas humorísticas

Se o conteúdo deixa a desejar, a produção desta versão a Live Arcade é a melhor dentre todos da série. Para começar, o game tem suporte para alta-definição, o que quer dizer que os contornos ficam mais definidos, assim como a textura. A vantagem da resolução maior também aparece quando você usa a visão geral, permitindo enxergar cada unidade mesmo que distante. É claro que, mesmo com uma TV normal, não há prejuízo para a mecânica de jogo.

Apesar de existir apenas três cenários de fundo, são todos muito bem-animados, obedecendo ao estilo cartunesco do game. As animações das minhocas são hilárias, principalmente quando tiram sarro de algum game famoso. Isso também se reflete nas falas dos personagens - há interjeições como "Perfect!" e "Fatality!". A trilha sonora é grandiosa e séria, com tecnologia surround, e causa um efeito de contraste interessante.

Receita de bons jogos

"Worms" mostra porque é um clássico. Sua mecânica de jogo é logicamente perfeita e só isso já garante diversão, ao menos quem consegue lidar com seu ritmo cadenciado. Trata-se da melhor produção que a série já teve, mas também perdeu aspectos muito significativos, como uma porção de armas e editores robustos. Ainda assim, o saldo é positivo, o suficiente para compensar os 800 MS Points (cerca de US$ 10) investidos.