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Pro Evolution Soccer 2014

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

27/09/2013 15h44

"PES 2014" chega com mudanças radicais e extremamente promissoras para o futuro, mas que ainda não vingam.

A impressão é de um jogo feito às pressas, que mexe onde não precisava e com falta de conteúdo.

O novo motor gráfico proporciona um dos visuais mais bonitos já vistos em um jogo de futebol, mas os controles sofrem com uma curva de aprendizado ferrenha.

Quem for paciente e se dedicar a aprender de novo todos os comandos do game pode acabar se divertindo com o futebol mais estratégico e cadenciado, mas quem procura diversão mais rápida vai se frustrar.

Sinceramente, fãs muito fervorosos da série podem acabar gostando e se adaptando ou ao menos dar um voto de confiança e acreditar neste novo caminho trilhado.

Para todos os outros jogadores, "PES 2013" ainda é uma opção muito mais divertida.

Introdução

"Pro Evolution Soccer" pega emprestado o motor gráfico Fox Engine, da Kojima Productions, equipe da série "Metal Gear", e promove mudanças e ajustes radicais à série, tudo para se renovar e continuar na briga com "FIFA" pela preferência dos fãs de futebol virtual.

De cara, "PES 2014" exibe um visual lindo e um sistema de controles realmente novo e diferente, que oferece novas possibilidades de jogadas, dribles e controle de bola.

Apesar de cortes no conteúdo, o título volta ao mercado brasileiro com elementos já consagrados da franquia, como a Master League online, narração e comentários de Silvio Luiz e Mauro Beting e todas as equipes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro - além do Palmeiras e outros três times da série B.

Pontos Positivos

Gráficos incríveis

A mais notável novidade de "PES 2014" é o visual renovado, turbinado por uma versão do motor gráfico Fox Engine - algo já dito à exaustão pela Konami.

De longe, é o futebol mais bonito nos videogames atuais, com belos efeitos de luz e animações suaves e realistas. Em movimento, "PES 2014" lembra muito uma partida de futebol vista pela televisão.

De perto a situação muda bastante. Alguns detalhes impressionam, como o efeito do tecido das camisas balançando e dobrando e o cabelo de alguns jogadores, mas algumas feições são estranhas e artificiais,.

Há também um estranho efeito de suor que mais deixa os jogadores com cara de boneco de plástico do que pessoas reais, mas dá para passar batido.

O que não dá para ignorar são grotescos slowdowns em vários momentos: câmeras que mostram campo e torcida ao mesmo tempo sofrem com atrasos terríveis, enquanto mesmo durante os jogos é possível sofrer com pequenas travadinhas que podem comprometer o ritmo da partida.

Algo que não está exatamente ligado à nova engine, mas sim à parte é o visual são os menus. Arcaicos, lentos e confusos, acabam irritando às vezes e tirando um pouco do prazer de jogar. Imagine então na Master League, em que menus são importantes e aparecem o tempo todo.

Em linhas gerais, "PES 2014" traz um visual incrível, muito superior às versões anteriores, mas que cobra um preço um tanto quanto alto.

Potencial de sobra

Grande potencial. Essa é a expressão que define melhor "PES 2014". As mudanças promovidas nos controles empolgam e, em lampejos, mostram sinais de um futebol complexo, elaborado e empolgante. Mas é só assim mesmo, em brevíssimos momentos.

No resto do tempo, "PES 2014" parece deixar de lado todo o aprendizado feito nesta geração de videogames ao apresentar um futebol ainda em fase de formação, com muitos problemas e detalhes para corrigir e polir.

É de se entender: trata-se de um jogo que usa uma versão modificada de uma engine preparada principalmente para os consoles de próxima geração, o que sugere que eventuais versões de "PES" para PS4, Xbox One e outras máquinas serão muito melhores.

O poder gráfico superior destes aparelhos deve ajudar a corrigir problemas como a inteligência artificial ainda falha, os goleiros incompetentes e outros problemas da mecânica, como controle de bola.

Mesmo assim, nada disso justifica apresentar aos jogadores um game incompleto, com menos conteúdo e mais problemas do que a edição anterior e com preço de lançamento de primeira linha.

Pontos Negativos

Controles difíceis de dominar

"PES 2014" apresenta mudanças profundas nos controles da série. Agora é possível controlar tanto a direção da bola quanto a direção do peso de apoio do atleta, o que possibilita inteligentes fintas de corpo.

Novos dribles e arremates acompanham também formas inéditas de proteger, como fazer jogo de corpo com ombros e braços. O tempo de bola mudou um pouco para alguns passes e cruzamentos, enquanto chutes parecem mais precisos e afiados.

Cobranças de bola parada agora exibem pontilhados para mostrar a trajetória da bola (que você pode desligar ao toque de um botão).

Acredite, a série de ajustes é gigante, mas não necessariamente para melhor em relação ao "PES 2013". Por conta da nova engine, parece que todo o trabalho do passado foi descartado e o lance é começar do zero. Mais do que um aprimoramento do sistema de "PES 2013", o "PES 2014" apresenta uma maneira realmente nova de jogar futebol no videogame.

Quem se dedicar a aprender (de novo) os fundamentos, treinar dribles, praticar jogadas ensaiadas e afins pode acabar se acostumando ao futebol complexo e estratégico de "PES 2014" e se divertir.

A Master League e o editor de jogadores e equipes voltam com a qualidade de sempre e reforçam a ideia de que os jogadores muito dedicados conseguirão ter uma experiência divertida.

Mesmo assim, o pedágio é caro. Diferente de "PES 2013" que conseguia oferecer boa profundidade sem abrir mão da facilidade de acesso (aliás, algo que a própria Konami destaca como uma das características mais fortes e tradicionais da série), o "PES 2014" é um futebol mais difícil de aprender e jogar e, por consequência, aproveitar. De cara, muita gente vai experimentar o game e se frustrar.

Falta de conteúdo

Lembra quando falei do preço cobrado pela nova engine? "PES 2014" sofre de tremenda falta de conteúdo em relação ao game anterior. Deixa eu corrigir: falta não, corte de conteúdo mesmo.

Por conta de adaptações ao novo motor gráfico, "PES 2014" não possui partidas com chuva e neve, por exemplo. As animações das cenas de corte durante a partida são, na grande maioria, recicladas (já sabe, jogador brigando após falta é cartão vermelho...), enquanto problemas de licenciamento tiraram todos os estádios do campeonato espanhol e o divertido editor de estádios do game.

Novas ligas latinas (como Argentina e Chile) são excelentes adições, mas executadas de forma duvidosa: se o craque Riquelme, do Boca Juniors, aparece com um visual em nada parecido com a vida real, o que esperar de outros jogadores dessas ligas?

Tudo bem, a Konami promete corrigir este e outros vacilos via DLC, mas será então que não valia ter deixado o jogo mais um tempo em produção, no forno, pra chegar melhor às lojas? A pequena, mas existente, parcela de jogadores que não conectam seus videogames à internet deve concordar.

Falando de internet, o ambiente online continua terreno problemático para a Konami. Os modos online voltam praticamente inalterados, em suas falhas e virtudes. Por um lado isso é boa notícia para quem já se diverte online com o "PES", mas não seria ruim dar atenção também a esta área - ainda mais considerando que o rival "FIFA" é excelente neste quesito.

A lista vai longe. O problema maior é que "PES 2014" acaba sendo um jogo com menos conteúdo do que sua versão anterior - algo difícil de explicar e mais difícil ainda de entender por quem compra o jogo.

A Konami promete que nos próximos meses muito conteúdo será lançado via DLC, como estádios e até novos modos de jogo - como partidas online de 11-contra-11 -, mas aí pergunto novamente: não teria sido melhor deixar o jogo mais algum tempo em desenvolvimento?

Narração problemática

Um dos aspectos mais divertidos e elogiados de "PES" é a narração em português, com os jornalistas Silvio Luiz e Mauro Beting.

Pena que o "PES 2014" vacila neste ponto. O game mistura frases dos jogos anteriores com novas gravações, mas a diferença de qualidade entre os áudios é gritante. Áudios novos às vezes parecem abafados enquanto em outros momentos estouram no microfone.

Para piorar, Silvio e Mauro tiveram mais liberdade para os diálogos e comentários, mas isso não foi bem encaixado no jogo. Em certas jogadas Silvio Luiz diz, por exemplo, que o desarme ou arremate foi "feito pelo...", deixando um espaço no final da frase para emendar o áudio do nome do jogador, mas o resultado é quase sempre lamentável. Isso quando o esquema não falha e Silvio fica no vácuo, esperando ele mesmo falar o nome do jogador.

A dupla continua excelente, com piadas e um estilo único. No final das contas, as falhas da dublagem são mesmo no lado técnico. Seria melhor se tivessem mantido apenas as mesmas frases do "PES 2013".

Nota: 6 (Razoável)