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Gears of War: Ultimate Edition

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

28/08/2015 17h37

Quando surgiu em 2006, "Gears of War" estabeleceu um novo padrão para os jogos de tiro e ação (além de se tornar a melhor propaganda possível para o motor gráfico Unreal Engine). Não foram poucos os games que tentaram copiar a fórmula da Epic Games, com diferentes graus de sucesso. Quase 10 anos depois, o jogo ganha uma edição para Xbox One e mesmo que mostre aqui e ali os sinais da idade, ainda diverte - e muito.

"Ultimate Edition" é o primeiro "Gears of War" desde a compra da franquia da Epic pela Microsoft e um excelente primeiro trabalho do novo estúdio da série, a The Coalition, recomendado tanto para os veteranos calejados dos duelos de escopeta quanto para quem está entrando agora na luta dos Gears contra os Locust.

Introdução

"Gears of War" é um jogo de tiro que adota uma visão "por cima do ombro" (como "Resident Evil 4") e um sistema de cobertura que, na época do seu lançamento original, era bastante inovador (só tinha sido usado por "Kill Switch" uns anos antes), mas que hoje é adotado por praticamente todos os jogos do gênero.

A "Ultimate Edition" é uma versão do jogo seminal do Xbox 360 para o novo console da Microsoft, trazendo gráficos em resolução 1080p e roda com uma taxa de quadros de animação bem melhor do que no X360, principalmente no multiplayer. Traz também cenas cinematográficas totalmente refeitas, fases extras da edição do jogo original para PC e o melhor de tudo, controles adaptados de "Gears of War 3".

A campanha de "Gears of War: Ultimate Edition" oferece suporte para multiplayer cooperativo para 2 pessoas, tanto online quanto em tela dividida. O jogo traz também uma boa variedade de modalidades competitivas.

Pontos Positivos

Repaginada visual

Se todo jogo remasterizado tivesse o mesmo tratamento dado pela Coalition ao primeiro "Gears of War" do Xbox One, ninguém reclamaria da "indústria dos remasters". Em termos gráficos, "Gears of War: Ultimate Edition" não se parece em nada com um jogo de 9 anos atrás: a riqueza de detalhes do jogo se destaca com a resolução ampliada da nova edição, assim como a paleta de cores - o jogo lembra mais "Gears 3" e "Judgment" do que o clássico "50 Tons de Marrom e Cinza" de quase uma década atrás.

As novas cenas de animação completam a experiência: é a mesma história, mas com uma fotografia melhor e personagens mais expressivos. Esses detalhes tiram o peso da idade do game, que na geração passada já parecia bem sem graça ao lado dos "Gears" mais recentes e permitem que outros elementos do jogo brilhem, como o combate visceral, o tiroteio frenético e o design de fases muito bem trabalhado.

Controles melhorados

Gráficos melhores não seriam o bastante para rejuvenescer "Gears of War". Ao longo da série, os controles foram sendo aperfeiçoados, acumulando pequenas melhorias que tornam o sistema original obsoleto. A "Ultimate Edition" resolve isso adotando os controles de "Gears of War 3".

O resultado não é fácil de perceber e justamente por isso, funciona. Você não se sente empurrando um tanque de guerra quando move Marcus Fênix de um murinho para o outro, ou quando salva sobre uma cobertura para rasgar um Locust com a serra da Lancer. A ação rola fácil e suave e a sensação de peso dos personagens fica apenas no visual e no áudio - e não na ponta dos dedos.

Design de fases

"Gears of War" se passa em Sera, um planeta em convulsão: os habitantes da superfície destruíram o mundo para extrair recursos naturais (a Emulsão, uma poderosa e cara fonte de energia) e acabaram atraindo a atenção dos Locust, uma raça belicosa que vive nas profundezas do planeta. A guerra que se seguiu devastou o mundo. É aí que entra em cena o presidiário Marcus Fênix e seus colegas do esquadrão Delta: Dominic Santiago, Baird e Cole Train. O grupo é enviado para o subterrâneo para atacar o habitat dos Locust com uma bomba, mas é claro que nada será assim tão simples.

Essa aventura acontece em fases muito bem elaboradas, onde novos elementos são acrescentados em cada estágio para manter o jogador sempre atento e interessado. Não é só correr, se esconder atrás do muro, atirar e recarregar. Em uma fase é preciso manter luzes acesas para não ser devorado por uma horda de morcegos. Em outra, você guia um veículo pela estrada e usa um holofote para dar cabo dessas criaturas.

Alguns estágios contam com trilhas separadas que estimulam a ação cooperativa, com um jogador flanqueando os inimigos do outro. Em outros, o grupo se vê cercado por inimigos de diversos tipos vindos de todos os lados. Em uma das fases você passa de lutas em corredores apertados no porão de uma mansão para a defesa de uma área bem ampla com os heróis em uma posição mais alta, para em seguida ter a casa invadida e precisar lutar nas escadarias.

As armas também oferecem uma boa diversidade para ação, com rifles sniper, lança-granadas, pistolas e um violento arco com flechas explosivas, embora a Lancer e a escopeta Gnasher sejam as prediletas dos jogadores.

Nove anos depois, "Gears of War" se mantém atual e capaz de entreter (e muito) os jogadores, com uma campanha desafiadora nas dificuldades mais altas e muito divertida para se jogar, seja sozinho ou na companhia de um amigo. Ah, e tem o melhor chefão final de toda a série.

Multiplayer competitivo

Por abordar apenas o primeiro jogo da série, "Gears of War: Ultimate Edition" não traz o popular modo Horda de "Gears of War 2" e "Gears 3", se concentrando nas modalidades competitivas.

Nas partidas não ranqueadas, você tem poucas opções de jogo, como Mata-mata em Equipe e Rei do Pedaço (onde os times precisam conquistar pontos estratégicos que aparecem ao longo da partida). É nas listas ranqueadas que se encontram os outros modos, como Assassino (o time precisa eliminar o líder do esquadrão inimigo e vice-versa) e Duelo de Gnasher 2x2.

Esse Duelo é uma nova modalidade que se passa em mapas pequenos, as Caixas, com os jogadores equipados apenas com escopetas. É o reconhecimento oficial de uma das mais comuns brincadeiras entre os veteranos de "Gears".

Dublagem em português

A nova edição de "Gears of War" ganhou uma boa dublagem em português. Até então, o único game da franquia totalmente em nosso idioma era "Gears of War: Judgment", do Xbox 360. Quem tem dificuldade com o inglês vai gostar de saber que poderá entender toda a história do esquadrão Delta e as tretas com os Locust e com boas atuações dos dubladores (e vozes que combinam com os personagens!).

As vozes originais de Marcus e sua turma ainda estão lá: se você prefere jogar em inglês, é só mudar o idioma do console.

Pontos Negativos

Inteligência artificial datada

Se há um ponto em que "Gears of War: Ultimate Edition" entrega a idade é na Inteligência Artificial, principalmente a dos colegas de esquadrão. Quando você joga em modo cooperativo nem nota tanto isso, pois vai passar boa parte da aventura ao lado de outra pessoa, mas jogando sozinho você se sente, bem, jogando sozinho. Os outros Gears que acompanham Marcus na jornada parecem estar lá mais para figuração do que para ajudar e quase sempre é preciso que você elimine os inimigos e reanime os companheiros que insistem em pular a cobertura e ir para cima de um ninho de metralhadora ou de um bando de adversários.

Em fases com muitos corredores, é comum o seu companheiro desaparecer, perdido em algum canto da casa ou atrás de uma curva. Por sorte (ou não), o mesmo acontece às vezes com os Locust. Em mais de uma ocasião entrei numa área e dei de cara com 2 deles parados, aguardando que eu atirasse para começar o combate. Comparado ao que existe hoje no gênero, os personagens de "Gears of War" estão longe de serem exemplos de inteligência elevada.

Pequenos travamentos

Embora rode em constantes 60 quadros de animação por segundo nas partidas competitiva e a metade disso na campanha, "Gears of War: Ultimate Edition" nem sempre dá conta do recado e pequenos travamentos acontecem aqui e ali, principalmente em sequências mais agitadas dentro de espaços fechados, como na mansão do capítulo 4.

Não é algo que impossibilite o jogador de continuar, mas dada a qualidade do projeto (bem melhor resolvido do que "Halo: The Master Chief Collection", por exemplo), é uma pena que esses pequenos deslizes aconteçam durante a jogatina.

Nota: 9 (Excelente)